A Igreja do Marco de Canaveses é
uma das obras mais conhecidas a nível nacional do arquiteto Álvaro Siza Vieira.
Pode-se dizer que a sua excelência provém do feliz encontro entre as características
dum programa litúrgico e a abordagem intimista e purificada que caracteriza a
obra do arquiteto portuense.
A Igreja de Santa Maria revela,
duma maneira feliz, o que marca a arquitetura moderna: economia de meios, o despojamento, a exposição das características essenciais dos materiais. Podemos
verificar o mesmo noutros templos religiosos doutros arquitetos famosos, como é
o caso da Igreja de Imatra de Alvar Aalto ou da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, dos
arquitetos Portas, Teotónio Pereira e Viera de Almeida.
Na igreja do Marco de Canaveses, o desenho
transcendente que Siza costuma fazer dos “objetos” ocupa um lugar
verdadeiramente transcendente. Ou seja, os “objetos”, na igreja de Santa Maria,
têm um sentido iconográfico: aquilo que se olha é exaltado pelo seu
significado. Uma porta nunca é somente uma porta. Por isso, a belíssima porta
de acesso – a entrada no templo – anuncia o jogo de escalas que é o programa
litúrgico de Álvaro para a Igreja do Marco.
Não é uma igreja onde se dá uma
ideia ascensional. Trata-se de uma “igreja salão”. O que caracteriza este
edifício é um permanente confronto de escalas, o que sugere a dicotomia entre o
humano e o divino. O homem é pequeno e humilde quando cruza a porta do templo,
mas nunca abandona a sua condição quando sonda a cidade (espaço exterior) pela
longa janela horizontal, desenhada à medida dos seus olhos.
O mobiliário é duma simplicidade
total, a ausência de ornamentação parece dum edifício pagão, mas a altura e a
luz recolocam-nos na senda do divino.
Mostrando uma sabedoria de
mestres, Siza Vieira faz crescer esta igreja, construída no final do século XX, através duma geografia plataformas, escadas e muretes. A igreja tem uma base
retangular e é, aparentemente, simétrica e estável. Contudo, na fachada de
acesso, um dos corpos avançados é a torre sineira e o outro é o batistério. E
ao lado da nave, existe um corpo baixo, onde se situam as salas complementares,
que assimetriza a volumetria sem comprometer o volume erguido. No espaço
interior, a parede noroeste é curva e oblíqua e cai suavemente sobre os
crentes.
Talvez o mais extraordinário e
comovente desta igreja seja uma contenção fina que coloca este edifício num
patamar logo abaixo dum monumento.
A
Igreja de Santa Maria, no Marco de Canaveses, tem uma dignidade que inquieta.
As paredes são duma brancura que evoca a pureza e o silêncio reina
imperialmente. Todos os anos há milhares de pessoas que a visitam.
Gabriel Vilas Boas
BELÍSSIMO TEXTO, SOBRE A IGREJA DE SIZA VIEIRA!!! A IGREJA DE SANTA MARIA, NO MARCO DE CANAVESES, DE ARQUITETURA MODERNA, TEM UMA DIGNIDADE QUE INQUIETA... A PINTURA BRANCA É SEMPRE LINDA! E EVOCA PUREZA... ADOREI GABRIEL! PARABÉNS.
ResponderEliminar... esta genuína Igreja que logo que entro a porta me chama de "pequenina"... Momentos marcantes da minha vida têm a ver com esta imponente estrutura... Concurso "via sacra" onde me atribuíram o 2º. prémio e uma menção honrosa pelas mãos do Senhor Padre Fernando a quem foi oferecida uma das minhas obras... o meu Crisma onde recebi uma bênção com elogio de Dom Manuel Clemente que nessa altura era Bispo do Porto... Promessa de escuteiro do meu Filho... Batismo da minha Afilhada e ... no seu altar esteve exposto um presépio em vidrofusão por mim trabalhado... Muito Obrigada a TI, Fabuloso "bloco branco"!
ResponderEliminarSou Moçambicana mas grande parte de mim pertence a Marco de Canaveses, Terra de Cármen Miranda.
Grata pela partilha Gabriel Vilas Boas