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terça-feira, 15 de abril de 2014

IDIOTICES

     Há poucos dias estive no Porto para assistir à representação de “OS IDIOTAS” com José Pedro Gomes, Jorge Mourato, Aldo Lima e Ricardo Peres. A minha desilusão foi igual à minha expectativa. E eu tinha muitas expectativas, face ao elenco de atores… Não gostei!

     A sala estava praticamente cheia e o público lá foi gargalhando aqui e acolá com alguns sketches, mas em nenhum momento a peça me convenceu. No lançamento do espetáculo a companhia que a traz até junto do público português, há vários meses, anuncia: «No mundo d' "Os Idiotas" o facebook deixou de ser virtual e as pessoas, mesmo as "supostamente normais", trocaram as gargalhadas por uma dúzia de LOL. Longe vão os tempos em que os amigos bebiam um copo quando se juntavam. Agora levam armas e matam-se por dá cá aquela palha. Neste universo paralelo, há homens que, afinal, são mulheres que, entretanto, mudaram de sexo, e jogos de computador que se instalaram na vida sem pedir autorização para fazer download»

     Eu não podia estar mais de acordo: atores e encenadora trocaram a construção duma peça com piada e sustentada num texto coerente, por meia dúzia de graças sem grande fecundidade cómica. Sem querer ser muito mauzinho, acho que é um espetáculo não conseguido. Não tem ponta por onde se lhe pegue! Do princípio ao fim, assiste-se a uma comédia de fraca qualidade. Fiquei decepcionado com o trabalho dos quatro atores em cena. Piadas sem sentido, sem graça e sem interesse. Foram repetidos algumas vezes uns palavrões que fizeram alguma audiência rir, mas que a mim, pessoalmente não me disseram nada, nem a parte em que os quatro atuaram vestidos de mulher ou a parte em que imitaram jogadores de "video-games".



     Aprecio o José Pedro Gomes, mas aqui esteve muito longe do seu melhor, como na “Conversa da Treta”. Jorge Mourato e Aldo Lima já estiveram muito melhor em espetáculo de menor expectativa.

     E porque acontece isto? No meu entendimento, porque em teatro o texto é fundamental. E uma comédia não é um conjunto de piadas soltas que suscitam o sorriso a uns, a incomodidade a outros, a indiferença à maioria. Apesar de teatralmente iletrado, a maior parte do público consegue reconhecer uma comédia bem escrita, onde ao lado do riso há lugar à reflexão ou à crítica. Uma representação teatral é um todo, com atores, texto, encenador, técnicos, de acordo. Mas não pode negligenciar a qualidade do guião. O público do teatro não é muito e não podemos dar-nos ao luxo de que não volte. Para tal, cada representação deve ser memorável. Suscitar o gosto de vir uma próxima vez, o mais rapidamente possível.

     Não foi essa a vontade com que fiquei. É importante que as companhias abram as portas a novas formas de representação, mas nunca descurando a qualidade. A este propósito continuo à espera que a UAU traga ao Porto, a Guimarães ou a Vila Real a peça de Juvenal Garcês “As obras completas de William Shakespeare em 97 minutos”, em exibição em Lisboa desde há dois meses, todas as segundas feiras.

Gabriel Vilas Boas


2 comentários:

  1. Estes atores, têm muita experiência e fama, mas... neste elenco foram IDIOTAS!!! Quem assistiu não gostou. Foi uma desilusão para o Gabriel... mas os meus parabéns pelo excelente texto e esclarecimento! Já não vou ver "OS IDIOTAS"... Mas, não sejas muito mauzinho, Gabriel!!! LOL

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  2. O António Feio faz muita falta ao José Pedro.Gomes...
    Alberto Martins

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