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terça-feira, 31 de outubro de 2017

PROFESSORES: NÃO SÃO OS MILHÕES QUE CUSTAM A MAIS, MAS OS MILHÕES QUE FICARAM E FICARÃO POR PAGAR


Há dois dias, o governo, via Correio da Manhã, veio tentar explicar aos professores por que razão lhes rouba 10 anos de progressão nas carreiras e não lhes paga aquilo que lhes deve, apesar de ter condições para saldar algumas dívidas.

É verdade que é quase um milagre um governo do PS inserir publicidade não paga na capa do Correio da Manhã, mas o alvo sendo os professores, até o Correio da Manhã faz uma pausa no constante metralhar das políticas governativas.
Mais do que se justificar, o governo pretendia com aquele título bombástico no CM virar, mais uma vez, a opinião pública contra os professores. 
Reparemos que não se refere quanto o Estado está em débito com os médicos, com os enfermeiros, com os funcionários das finanças ou até da Caixa Geral de Depósitos. Interessava atingir os professores porque eles são muitos, têm força reivindicativa e porque foram a classe social mais atacada pelos sucessivos governos, nos últimos 10-15 anos. 

Por outro lado, não é de excluir que o governo tenha a tentação de acertar algumas contas com outras classes profissionais e excluir os professores, pois aqui a fatura é grande. E é grande porque todos os governos, na última década, acharam que  reformar a Função Pública era igual a despedir professores, impedir-lhe durante 10 anos a progressão e reduzir-lhes salários. 
Ao contrário dos médicos e enfermeiros, os professores não tinham alternativa no privado; ao contrário dos funcionários das finanças, os professores não tinham prémios de produtividade e suspensão do congelamento das carreiras.
Agora há dinheiros, mas para os professores não. Os professores são uma espécie de banco público onde os sucessivos governos fizeram todo o tipo de desfalque e chegada a hora de acertar contas, o governo em funções diz que não paga, porque o calote é grande.
Não pagam nem vão pagar, mas não é porque não há (houve) dinheiro. 

Ainda há dias, o governo acabou de estoirar mais de 400 milhões, por causa da sua incúria, má administração, incompetência. Dois dias de Julho e outros dois em Outubro, resultaram em mais de cem mortos, milhares e milhares de hectares de floresta ardida, milhares de animais mortos, empregos destruídos. O governo vai pagar mais de 400 milhões para repor o que tinha no início do verão. É uma despesa extra, é uma despesa necessária agora, mas que era perfeitamente evitável. Só esse dinheiro dava para pagar quase toda a conta em atraso aos professores.
Depois dos quatro mil milhões de desfalque na CGD, depois dos milhões gastos com a proteção civil que exibiu a pior proteção dos últimos cem anos, depois de…
Todos os anos, os professores produzem bons médicos, excelentes advogados, razoáveis economistas, mas não conseguem produzir meia dúzia de políticos decentes há décadas. 

GAVB

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

UMA ORGIA PAPAL NA ROMA RENASCENTISTA


Em 1492, Cristóvão Colombo chegava à América e um clérigo espanhol chegava a Papa. 
O ardiloso clérigo Rodrigo Bórgia tornou-se no Papa Alexandre VI e logo tratou de aumentar a sua riqueza e o poder dos seus ilegítimos filhos, sobretudo da belíssima Lucrécia e do perigoso César (tido como o provável assassino do irmão mais novo).

Rodrigo Bórgia era de tal forma uma figura temida e polémica dentro da própria Igreja que, no momento da sua eleição enquanto Papa, Giovanni de Medici (futuro Papa Leão X) afirmou: «Agora estamos em poder de um lobo, porventura o mais rapace que o mundo conheceu. Se não fugirmos, ele devorar-nos-á inevitavelmente a todos.»
Durante o pontificado de Alexandre VI, o Vaticano tornou-se num foco de imoralidade sexual, intriga e usurpação.



Alexandre retirou dinheiro dos cofres do Vaticano para financiar as loucuras do filho César. Ora César era nem mais nem menos que um dos cardeais de Roma, mas havia de abandonar a função cardinalícia para tentar criar um ducado para si próprio.
A personalidade de César era tão moralmente imprópria que não surpreendeu ninguém que Maquiavel a tivesse usado como fonte de inspiração para escrever “O Príncipe”, um estudo, em tom crítico, de perversa personalidade que o ser humano pode assumir.

A 30 de Outubro de 1501, o cardeal César resolveu oferecer um banquete faustoso e assistido por 50 cortesãs (prostitutas), numa das salas mais emblemáticas do Vaticano. Aquele que ficou conhecido como o «bailado das castanhas» personifica bem a degradação moral a que chegou o papado, em plena época renascentista.

Johannnes Burchard faz um breve retrato desse jantar libidinoso onde se juntaram vários tipos de pecados mortais, oferecidos pelo filho do indigno sucessor de Pedro.

“Na noite de domingo de 30 de Outubro de 1501, César Bórgia ofereceu um jantar no seu apartamento do palácio apostólico, com 50 prostitutas ou cortesãs decentes, que após a refeição dançaram com os criados presentes, primeiro completamente vestidas e depois nuas. 
A seguir ao jantar,  foram colocados, no chão, candelabros com velas acesas e espalhadas castanhas, que as prostitutas, nuas e de gatas, tinham de apanhar de rastos no meio dos candelabros. 
O Papa, César e Lucrécia estiveram todos presentes, a observar. Por fim foram oferecidos prémios – gibões de seda, pares de sapatos, chapéus e outras peças de vestuário – aos homens que melhor se saíram com as prostitutas. 
Este espetáculo realizou-se na sala real do Vaticano e os que nele participaram disseram que os prémios foram entregues pelos criados àqueles que venceram o concurso."

domingo, 29 de outubro de 2017

O SEPARATISMO CATALÃO DERROTA-SE NAS URNAS E NÃO COM AMEAÇAS NEM DETENÇÕES



Rajoy, o primeiro-ministro espanhol, pode até ser um bom governante, mas é um péssimo político e o que a Espanha precisa, nesta altura delicada da sua existência, é de um hábil político, capaz de fazer os compromissos e as pontes necessárias entre as diversas regiões autonómicas espanholas, de maneira a preservar a integridade do território e a coesão do povo.
Rajoy tem a legitimidade legal por si, tem o apoio do rei e da maioria do povo e também o suporte de toda a comunidade internacional. E que faz ele com toda essa força? Ameaça prender Puigdemont. Que infantilidade política.


Numa altura em que uma sondagem recente mostra que mais de 55% da população da Catalunha não é favorável à separação da Catalunha resto da Espanha e em que há eleições marcadas para daqui a sete semanas, o que há a fazer é levar o líder dos separatistas, Puigdemont, às urnas e derrotá-lo na arena democrática. É a única maneira de Rajoy tem de defender a Espanha, a constituição, a coroa, a paz na Europa.
Isso seria admitir que as eleições abrem a possibilidade à independência? De uma maneira implícita, sim! Mas abrirão sempre. Com que legitimidade fica Rajoy perante o povo catalão se os partidos separatistas se candidatarem e obtiverem, por exemplo, 80% dos votos?

As eleições na Catalunha são uma oportunidade para Rajoy derrotar as ideias independentistas, mas para isso ele precisa de mudar de discurso e de ação, além de não permitir que Puigdemont deserte ou se faça de vítima.
Ainda hoje, o Secretário de Estado da Bélgica ofereceu asilo político a Puigdemont. Será que Rajoy não percebe que há muitos lobos à espera que falhe a sua missão? Goste muito ou pouco, Puigdemont representa mais de 40% do povo catalão desejoso de independência. Se Rajoy fizer dele uma vítima, um mártir, a percentagem só tende a aumentar.

GAVB

sábado, 28 de outubro de 2017

UM GESTO PERFEITO CONTRA O ANTISSEMITISMO


O tema do antissemitismo voltou esta semana à agenda mediática, por causa da fação mais nazi da claque da Lázio, um dos grande clubes do futebol italiano e o segundo maior da capital. 
No clássico com o maior rival de sempre, a Roma, os fanáticos adeptos da Lázio resolveram exibir uma tarja, onde Anne Frank aparece vestida com o equipamento da Roma, equipa arqui-inimiga da Lázio. Inimiga, porque para estes adeptos da Lázio não existe clube rival ou sequer o conceito de adversário.

Mais do que provocar o adversário, os adeptos mais temidos da Lázio quiseram passar uma mensagem política de ódio aos judeus e sancionar o holocausto de que estes foram vítimas às mãos dos nazis.


No meio de tão infeliz e macabro episódio, surgiu um gesto sublime que devia ter sido muito mais ampliado pela comunicação social: poucas horas depois do acontecido nas bancadas do seu próprio estádio, o presidente da Lázio, Lotito, dirigiu-se à sinagoga de Roma, acompanhado dos jogadores da equipa de futebol, e lá depositaram uma coroa de flores, como forma de pedir desculpas pelo comportamento xenófobo dos adeptos do seu clube. 

Na ocasião, o presidente laziale declarou que rejeita por completo a utilização do clube para fins antissemita e que patrocinará, anualmente, a visita de 200 jovens adeptos da Lázio a Auschwitz, para que jovens romanos percebam melhor a barbárie cometida pelos nazis e que os inqualificáveis membros da claque Irredutibli apregoam como boa.



Como os líderes da comunidade judaica romana acharam a ação insuficiente (“Não resolve tudo com um tributo floral”), Lotito cedeu as imagens do circuito interno de televisão à polícia para que esta identificasse nominalmente os autores do lamentável ato antissemita. 
E no jogo seguinte todos os jogadores da Lázio entraram em campo exibindo uma camisola branca com o rosto de Anne Frank.

O gesto do presidente é de louvar e desafia todos aqueles que gostam de desporto a seguir-lhe as pisadas, pois o que se nota mais, atualmente, é um clima de ódio e crispação permanente entre adeptos dos principais clubes de futebol.
GAVB

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

CONSTANTINO, O SINAL DE DEUS E O ÉDITO DE MILÃO

In hoc signo vinces*

Ao contrário do que possamos julgar, o imperador romano Constantino não foi cristão. Converteu-se ao cristianismo pouco antes de morrer, mas mesmo assim os cristãos têm-no em muita boa conta, por causa do Édito de Milão (313 d.C.), que proclamou a tolerância religiosa no Império Romano, terminando oficial e legalmente com as perseguições a que os cristãos eram alvo nos territórios do Império.


O que terá estado na génese deste famoso Édito de Constantino? Um ano antes, a 27 de Outubro de 312 d.C., o jovem imperador Constantino enfrentava o seu rival imperial, Maxêncio, nos arredores de Roma. Pouco antes da batalha, na Ponte Milvia sobre o rio Tibre, Constantino teve a visão da cruz no céu. Como saiu vencedor, aquela visão causou-lhe uma forte impressão assim como a todo o exército que o acompanhou.
Essa visão extraordinária provavelmente influenciou-o a promulgar o Édito de Milão, que abriu as portas do Império à difusão do cristianismo.

Aproveitando a embalagem do Édito de Milão apareceu a famosa «Dádiva de Constantino», um documento forjado que alegadamente conferia grandes direitos e privilégios ao Papa Silvestre I (314-315). Foi com base neste suposto édito romano de Constantino que a Igreja Católica justificou a sua autoridade secular, que é com quem diz legitimou a posse de Estados papais em Itália.
É verdade que o jovem Constantino ficou muito abalado com a visão da Cruz no céu e, pelo sim pelo não, deixou de perseguir os cristãos, mas esse abalo não foi assim não forte para ele próprio se converter ao Cristianismo. Fê-lo, mas só na hora da morte. Há quem diga que foi por perceber a exigência moral que tal escolha implicaria no exercício do seu cargo. A verdade é que Constantino sempre foi um Imperador pragmático e oportuno, um pouco à imagem da Igreja Católica que quis ser mais papista que o… Imperador.

*Com este sinal vencerás
GAVB 

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

REIVINDICAÇÕES AOS MOLHOS – A GREVE IDEAL PARA O GOVERNO


Amanhã haverá Greve Geral da Função Pública. Terá uma adesão brutal. Professores, médicos, funcionários das finanças, dos tribunais – todos vão fazer greve (à exceção dos enfermeiros que ainda agora chegaram a acordo com o Ministro da Saúde, depois de assanhada querela e dos juízes que gostavam, mas não podem), todos têm justas reivindicações, fundadas razões, mas pouquíssimas expectativas de as verem satisfeitas, através desta greve. 
Curiosamente nenhuma classe social, que amanhã fará greve, anda particularmente descontente. Andavam os enfermeiros, mas esses já resolveram a sua vidinha; curiosamente os termos do acordo parecem algo… secreto.
Por que razão a função pública faz greve amanhã? Na verdade, porque o governo anunciou que,  partir de 1 de Janeiro de 2018, ia descongelar as carreiras (abrindo o apetite de aumento salarial), mas que não haverá recuperação do tempo dado, ou seja, foram 10 anos a trabalhar e a progressão na carreira é zero. 

É absolutamente injusto, mas não se esperava outra coisa. Podia o Governo recolocar os funcionários públicos no seu devido lugar nas respectivas carreiras? Podia. Isso significaria subida de dois escalões, para a maioria dos funcionários públicos, e um aumento de ordenado entre os 6 e os 10%. Acham que isso era economicamente e financeiramente possível? Claro que não era nem o será nos próximos vinte anos.
Sentindo o cheiro a aumentos, cada classe profissional posiciona-se na grelha de partida para a corrida das reivindicações. Para o Governo quantas mais melhor. E de preferência dos mais variados quadrantes. Quando tiver que negociar com os professores, mostrará as exigências dos médicos, dos funcionários das finanças, dos polícias; quando negociar com os polícias lembrará quanto lhe dói não ter atendido às justas reivindicações dos professores… e seguirá aplicando hipocritamente a mesma fórmula a todos.

A Greve Geral de amanhã causará impacto mediático, mas até pelo dia escolhido, pelo momento em que foi marcada e pela real impossibilidade de atender a todas as justas reivindicações, será facilmente neutralizada pela comunicação governamental. Além de que quase todos esgotam o seu principal «tiro» amanhã.

Quando um trabalhador do privado, amanhã, estiver a ver os telejornais, dirá: “só para pagar as reivindicações destes tipos não chegava 3% do PIB”.
Professores, médicos, polícias, funcionários das finanças, da saúde, da segurança social – todos serão metidos no mesmo saco. Poucos perceberão o que distingue as reivindicações de uns das dos outros.
É o que faz deixar que seja a Frente Comum e o PCP a decidir como e quando se faz a Greve Geral. A propósito, esta ficou decida depois das eleições autárquicas, em que o PCP ficou furioso, ao perceber que andou dois anos manso, a trabalhar para a redonda vitória do PS.
Os homens que amanhã discursarão nos principais palanques grevistas andaram dois anos a suportar a política de António Costa. Mas quem é que se lembra disso? Amanhã é sexta-feira e é Greve Geral. Será um dia lindo.

GAVB

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

OS 14 NOMES DE PICASSO


Provavelmente poucos saberão que Picasso tinha nome de futuro rei, que é como quem diz precisava três ou quatro linhas para colocar no papel todo a sua extensa assinatura.

Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso.

A ideia dos pais era homenagear santos e parentes próximos, procurando que nenhum santo lhe faltasse e que nenhum parente se zangasse.
Obviamente Picasso fez apenas questão de ser tratado pelo primeiro e último nome e não é certo que se lembrasse sempre e de forma completa como se chamava!
No entanto, o jovem malaguenho parece ter herdado esta tendência para o colecionismo. 

Se não vejamos, colecionou mulheres e amantes: Fernande, Eva, Olga, Marie-Thérère, Dora, Françoise, Jacqueline… - todas elas serviram de musas inspiradoras à sua extraordinária obra artística -;
colecionou áreas artísticas: foi pintor, escultor, poeta, dramaturgo, ceramista; 
colecionou períodos criativos: modernista, cubista, período azul, período rosa, período africano, período analítico, período classicista surrealista; colecionou grandes quadros: Guernica, Les Demoiselles d’Avignon; Vieux Guitariste Aveugle; The Chicago Picasso; A Mulher Que Chora; 
colecionou também um número apreciável de anos: 91.

Só não conseguiu colecionar a morte porque ela não está disponível para servir de modelo. Caso contrário estaria hoje a comemorar 136 anos de vida. 
GAVB

terça-feira, 24 de outubro de 2017

COMO O TEMPO CAVA A TUA SEPULTURA


É assustadora a forma como o Relógio manda na nossa vida. Condiciona-a, determina-a, faz escolhas por nós.
Na maioria das vezes nem damos conta de modo como o Tempo se tornou num senhor déspota e cruel que nos obriga a obedecer absurdamente a um código de conduta que nunca conduzirá a uma vida feliz.
O Tempo não está ao nosso dispor, mas nós somos capazes de o servir cegamente, sem vacilar.
Por que razão o fazemos? Porque perdemos a noção que o Tempo é eterno em contraponto com a finitude do ser humano. Vemos o mundo, as coisas e a nós próprios à escala infantil e não em perspetiva. Esse é um erro crasso, de que só tomamos consciência e tentamos, em vão, combater, quando o buraco está aberto e o destino de cada um traçado.
Um relógio ou um calendário é apenas um modo de organizarmos algo infinito. Como é infinito não vai acabar amanhã (ao contrário do que nos pode acontecer) e por isso não devemos ser nós a servi-lo, mas ele a estar ao nosso dispor.
A relação que cada individuo tem com o Tempo, a importância que lhe atribui e a maneira como o gere é um aspeto fundamental na felicidade de cada um.
Ser capaz de pôr o relógio a bater ao ritmo que queremos, em cada fase da nossa vida, é uma condição de liberdade e sabedoria.

GAVB

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A AUTONOMIA SEM CULTURA DE ESCOLA INTERESSA POUCO


Muitas Escolas (provavelmente será mais verdadeiro dizer “muitos diretores”…) clamam pela autonomia escolar. Adoravam poder ser elas a escolher o curriculum, os professores, o peso de cada disciplina no horário dos alunos. Adoravam ser elas (ou eles…) a poder gerir o dinheiro, a ter o poder. À parte disto não têm nenhuma ideia sobre autonomia da sua Escola.

Se lhes perguntássemos o que diferenciava a sua Escola das demais que justificasse essa bendita autonomia, o mais certo era gaguejarem ou então lá nos atirariam com uma caracterização sócio-económica da região, a comparação da média dos resultados obtidos pelos alunos do agrupamento face à média nacional, as suas ideias para convergir resultados, bláblá bláblá… Querem a autonomia porque sim, ou melhor, porque ficam eles a mandar e com mais poder. Bastava que lhes disséssemos que lhes dávamos a autonomia na condição de deixarem o poder que todo o empenho se ia num fósforo.

Voltemos ao principal: a autonomia é boa ou má? Em teoria  e executada por quem sabe é algo de magnífico e que pode ter implicações profundas na vida dos alunos e da comunidade onde eles estão inseridos, no entanto muito poucas escolas estão em condições para a receber e implementar.

A autonomia faz sentido para aquelas escolas/agrupamentos que têm cultura de escola, ou seja, que têm um Projeto Educativo diferenciador, sustentado e que já provou.
Diria que são aquelas escolas que os alunos procuram por causa da oferta formativa de qualidade, onde a Cultura Geral casa na perfeição com a Especialização; onde os professores são referências respeitadas nas áreas que ensinam, onde existem laboratórios e salas de aulas apetrechadas com material necessário à prática daquilo que se ensina. Obviamente isto não quer dizer pufes nem tabletes gigantes apenas com a função lúdica.



Querem um exemplo disto: a Escola Artística Soares dos Reis, no Porto. Toda a organização faz sentido e foi pensada em torno de um objetivo. É uma Escola de Artes que assume o seu Projeto Educativo de forma plena e conduz o seu investimento de maneira a concretizá-lo. É uma Escola com personalidade, com cultura de escola, com uma autonomia lógica. Os alunos sabem para onde vão, conhecem o projeto da escola e procuram-na em função disso.

O nome da Diretora é irrelevante, mas o projeto não. Quando isto for assim com a maioria das escolas que se atropelam à porta do Ministério da Educação em busca de autonomia, então teremos a tal viragem que todos anseiam na Educação em Portugal. Por enquanto vamo-nos consolando com Escolas TEIP e quem lá ensinou sabe perfeitamente para o que elas servem.
GAVB

domingo, 22 de outubro de 2017

O JUIZ PERDEU O JUÍZO


«O adultério da mulher é um gravíssimo atentado à honra e dignidade do homem. Sociedades existem em que a mulher adúltera é alvo de lapidação até à morte. Na Bíblia podemos ler que a mulher adúltera deve ser punida até à morte.»

Já é suficientemente mau que um juiz desculpe (ao manter a pena suspensa) que um homem agrida violentamente a sua mulher, com um moca de pregos, e desvalorize ameaças de morte e o sequestro, mas a argumentação usada pelo juiz do Tribunal da Relação do Porto para indeferir o recurso do Ministério Público, no sentido de agravar a pseudo pena do Tribunal de Felgueiras, é ainda pior.
Para aquele infeliz juiz, a traição resolve-se com pancada até à morte. Se repararmos bem no «douto» argumentário do juiz da Relação do Porto, aquela mulher devia dar-se por satisfeita por apenas ter levado com uma moca de pregos, ser sequestrada e ameaçada de morte, porque o normal seria a pena de morte, de preferência apedrejada.

Citar os nefastos costumes de outras culturas é de péssimo gosto, para ser eufemístico. 
O que subliminarmente nos diz este juiz? Bom seria que vivêssemos numa sociedade igual à da Arábia Saudita onde a dignidade da Mulher é constantemente posta em causa; algo parecido com aquilo que o Estado Islâmico defende.
Citar a Bíblia? Mas a Bíblia é algum código de leis? O nosso Estado de Direito não se caracteriza por não ter nenhuma religião oficial? Desde quando a lei portuguesa é regida pela Bíblia? Estamos no Irão e somos governados pelos Aiatolás?  


A decisão de manter a pena suspensa é polémica, discutível, mas tecnicamente possível, mas argumentação teria de ser outra, ou seja, ir num sentido totalmente contrário aquela que o juiz usou.
A sustentação da decisão do juiz não é apenas lamentável, como também é censurável e devia merecer dos órgãos superiores que superintendem os juízes uma censura pública, porque aquele acórdão envergonha a magistratura portuguesa e não é possível o poder da lei estar na mão de gente que pensa assim.
Se estas declarações fossem proferidas por um governante, sem qualquer poder de decisão sobre casos desta natureza, estaríamos por certo a fazer debates, a escrever profundos artigos de reflexão, a marchar numa qualquer praça portuguesa, exigindo a sua demissão imediata. E com razão o faríamos. Este juiz vai poder continuar a julgar casos de violência doméstica. Já todos perceberam qual deve ser a linha de defesa dos arguidos – foram traídos.

GAVB

sábado, 21 de outubro de 2017

O GOVERNO DE COSTA PERDEU O ENCANTO


Não é que alguma vez o governo minoritário do PS tenha encantado o país, mas a mão protetora do presidente Marcelo e a geringonça parlamentar de esquerda, tornaram o governo de António Costa um projeto de governação interessante.
O governo de Costa estabilizou a banca (ainda que a tenha entregado praticamente aos espanhóis); acabou com a imoralidade do ensino privado pago pelos impostos públicos; cumpriu as metas financeiras decretadas por Bruxelas; devolveu, aos solavancos, alguns dos direitos e proveitos retirados em tempos de troika.
E o povo, tal como Marcelo, foram generosos com o PS de Costa: quase maioria absoluta nas sondagens; vitória contundente nas eleições autárquicas; um PR amigo; uma oposição suicida à direita e contida à esquerda.

Mesmo assim o governo espetou-se por completo durante os últimos meses, por causa dos incêndios. E foi um desastre enorme, que custou a vida a mais de cem pessoas e milhões de euros aos cofres do Estado.
As tragédias que marcaram a negro a época dos incêndios, em Portugal, mostram claramente que o governo não sabe como se faz. Incompetência pura, em áreas essenciais, como a da Proteção Civil.

Não é azar, não é a oposição ou os media, mas apenas decisões erradas, tomadas reiteradamente, em assuntos da maior importância para o país.

Há duas semanas, Costa tinha o país na mão e podia falar grosso para o BE e o PCP, nas negociações do Orçamento de Estado de 2018; hoje, está nas mãos do BE e dos comunistas para não ser corrido de São Bento com um pontapé no rabo. Há quinze dias, a maioria absoluta estava ao virar da esquina; a partir de agora parece quase uma miragem. Há poucos dias, o país sorria com os descongelamentos enganosos das progressões na Função Pública; hoje mostra-se profundamente desencantado com a governação. 
Não é má sorte. A competência não é geringonciável. 

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

MADONNA QUER UM VISTO GOLD PLATINUM



Ainda mal aqui chegou e Madonna já está enturmada com a maneira de viver portuguesa. Ao que parece a diva americana quer viver num palacete português, avaliado em 15 milhões de euros, a custo zero ,durante um ano.
É o chamado xico-espertismo americano que os portugueses topam à légua. Então a menina pensava que todas estas mordomias e atenções acabariam connosco a pagarmos a conta? 
Madonna, todas estas atenções, fotografias e idas ao Ministério da ministra que foi de férias eram no pressuposto que serias TU a gastar uma pipa de massa, em Portugal, e não os portugueses a gastar uma pipa de massa contigo, percebeste?

Uma coisa é a gente dar-te um voucher para ires ver os jogos da Seleção ou do Benfica, outra coisa é pagarmos a conta do hotel. Por falar nisso, já pagaste a renda do mês passado?
Todos nós já estávamos a estranhar esse teu enorme amor a Portugal assim como a tão grande hesitação em comprar casa. 
Agora tudo ficou mais claro: queres uma experiência num palacete, mas a custo zero. Não era mal pensado, não senhor, mas os portugueses não costumam comer gelados com a testa. Os palácios são bonitos (nisso tens razão), mas até nós temos de pagar para os visitar; portanto, se queres lá morar, tens de abrir os cordões à bolsa, que é para isso que andamos a investir no turismo VIP.

Mas não desanimes perante esta contrariedade. Tu investes algum agora, que nos devolvemos tudo em futuro IRS. Já deves ter ouvido falar no programa do nosso governo para atrair turistas seniores, que é como quem diz, idosos, velhos, “com os pés para a cova”. 
Apesar de tudo (que é muito), já fizeste cinquenta e nove anos, ou seja, estás perto da idade da reforma. Se falares com o Trump, ele ainda te dá a reforma antecipada. Aí, o melhor é mesmo vires para Portugal, onde o imposto aplicado às Reformas dos Estrangeiros tende para zero. Com o dinheiro que poupas em imposto, quase que pagas a renda do palacete. Entretanto, tens de investir alguns dólares, porque apesar de tudo ainda nem chegaste aos sessenta e está muito bem conservada.

GAVB

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

É SÓ PARA AVISAR QUE PARA A SEMANA VAMOS AÍ FAZER UMAS BUSCAS


Tínhamos pensado em mandar um email, mas como vocês usam software pirata (afinal não poupam só na compra de bons jogadores), o mais certo era que o nosso aviso ainda parasse num qualquer programa do Porto Canal. Também tivemos a ideia de vos telefonar, mas concluímos que também não era seguro. Nós mesmos pusemos escutas em todo o lado onde andou a comandita do Sócrates e o mais normal é ainda haver um microfone da sala de reuniões da direção, dos tempos em que o Armando Vara fazia parte do Conselho de Administração do nosso clube. Por isso, decidimos inovar e pusemos um anúncio na capa da Sábado (ou aquilo não pertencesse ao mesmo grupo do Correio da Manhã) – “JUIZ TRAVOU BUSCAS A VIEIRA E NA LUZ”.

Foi há três semanas. Demos-vos mais do que tempo para limpar esses computadores infetados de emailite vírica. Passámos horas a matutar na melhor maneira de vos avisar que tínhamos de ir aí fazer umas buscas, levantar uns computadores e alguns papéis. Como vocês são um pouco atados resolvemos gastar um pouco de massa e compramos logo um anúncio na primeira página.
Depois da acusação feita ao Sócrates (a propósito, também o avisámos muitas vezes, através dos jornais, que o estávamos a investigar, sempre na esperança que ele viajasse da França para a Venezuela, mas ele preferiu a cela de Évora à companhia do Maduro e não o podemos censurar) não sabíamos o que fazer à equipa que se especializou a ler contas na Suiça, verificar emails, interpretar escutas e por isso decidimos investigar a vossa azelhice a mandar emails.

A propósito, o vosso bruxo está de baixa ou tirou férias? Deixaram de ser revelados emails de e para a Guiné e a nossa equipa só soma derrotas.
Como vocês não sabem reagir à chacota pública que o A. J. Marques vos expõe todas as semanas, decidimos acabar com este calvário e em breve estaremos aí. Se não souberem fazer uma limpeza dos ficheiros como deve ser, comprem material informático novo, introduzam algumas informações básicas e depois estejam quietos. Daqui por um mês contamos arquivar o caso por manifesta falta de indícios.
Saudações da PJ


P.S. Já deram nome ao vosso grupo organizado de sócios ou continua "No Name" como sempre?

GAVB

terça-feira, 17 de outubro de 2017

DE ONDE VEM A DELICADEZA JAPONESA?


Da educação que os japoneses dão aos filhos.
O comportamento das crianças do Japão é muito diferente daquele que observamos no Ocidente. As crianças japonesas não têm o costume de fazer birras, chantagear os pais ou perder facilmente o controlo. E não são nem autómatos nem crianças tristes, a quem os pais aplicam uma educação autoritária e rígida.
Se repararmos com atenção, elas destacam-se pelo grande respeito que manifestam para com os outros, pela capacidade de autocontrolo e pelos gestos suaves e afáveis, seja com os adultos seja com os colegas.
A moderação e respeito pelo próximo encontram as suas raízes no enorme valor dado à família.

Os japoneses acham fundamento o relacionamento intergeracional. Para a criança japonesa, o velho (e não é preciso que seja o avô ou a avó) merece-lhe a maior consideração. Por sua vez, os idosos olham a criança (e não tem necessariamente que ser o seu neto) como uma pessoa em formação e por isso tratam-na com tolerância, adotando sempre uma atitude pedagógica e não julgadora.
Há um clima harmonioso entre gerações, mas este não se baseia numa troca de favores ao bom estilo ocidental “uma mão lava a outra”, mas numa assunção partilhada de responsabilidades. Por exemplo, os avós estão dispostos a participar na educação dos netos, mas acham inconcebível que os pais não tenham tempo para os filhos e se tornem pais ausentes.

Desde de tenra idade a criança japonesa é educada para a sensibilidade. O afeto entre os membros da família é cultivado. Para que isso seja possível é preciso haver tempo de qualidade.
Tempo é um bem inegociável para as famílias japonesas. Criar laços fortes e duradouros com os filhos é fundamental para todos os pais que sabem quão fundamental é estar com os filhos, especialmente nos primeiros anos de vida.
Habituados ao afeto mútuo em família, as crianças nascidas no Japão sabem que grande parte dos seus problemas se podem resolver com uma boa conversa em família, pois todos sentem que a sua opinião é respeitada e tida em conta.

GAVB

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

UMA CONTAGEM SINISTRA QUE NUNCA MAIS ACABA


Três, seis, dez mortos. Depois vinte, vinte e sete, vinte e nove pessoas que perderam a vida. Trinta e um, mais um e outro ainda. Desligo o computador, mas é impossível aquietar a alma, porque ainda não acabou. Percorro o olhar triste dos muitos com que me cruzo e sinto a derrota silenciosa da gente dorida. Ligo a televisão agora – “trinta e seis mortos confirmados, mas ainda há os desaparecidos e os feridos graves”.
E cada vez que o contador sinistro se mexe é mais um soco brutal no corpo exaurido, ensanguentado, destroçado que é Portugal.

Já não suporto mais ouvir desculpas indignas, nem aproveitamentos políticos, nem explicações transcendentais. É capaz de ser um pouco de tudo, mas isso agora importa-me pouco. Depois de Pedrógão, essa impossibilidade que foi possível, as mortes desta madrugada não podiam ter acontecido… mas aconteceram.
Não preciso de uma proteção civil que me mande desenrascar, de um governo que mande os bombeiros para casa com temperaturas constantemente acima dos 20 graus, só porque o calendário diz que estamos em Outubro. Então, se estiver a chover em Agosto, não abro o guarda-chuva? E se o calor invadir os dias de Dezembro não dou um belo passeio pela praia?  

Importam-me pouco as condolências, os funerais de estado, as belas exéquias, as preocupações de quem tinha apenas de garantir que não tínhamos de nos preocupar. 

Dizem-me agora que não voltará a acontecer. Realmente não: não há mais pinhal de Leiria para arder, não há mais como recuperar as vidas que se perderam, não há mais confiança num Estado que não sabe proteger a vida dos seus cidadãos.
GAVB


domingo, 15 de outubro de 2017

O DIREITO A TER PAI DEVE PRESCREVER?


Para mim, sempre foi claro que o direito à verdade, ao conhecimento total de quem são os nossos pais é absoluto, inegociável e nunca deve prescrever. No entanto, a lei portuguesa diz que o direito de uma pessoa investigar quem são os seus progenitores termina dez anos após essa pessoa atingir a maioridade. (artigo 1817º do Código Civil).


É certo que o referido artigo prevê já a exceção da ação de investigação de paternidade ser interposta três anos após o suposto filho ficar a saber de factos relevantes que fundamentem a investigação. E há também acórdãos de tribunais que põem em causa a constitucionalidade do famigerado artigo 1817º do CC.
Apesar destes «mas» a lei continua a apontar para a prescrição da investigação de paternidade aos 28 anos e mesmo a dita exceção é fácil de contrariar pelo pai relapso. Facilmente ele consegue afirmar que informou o filho mal ele atingiu a maioridade ou que o caso era vox populi ou do conhecimento familiar.

O argumento da prescrição baseia-se na paz familiar e na segurança jurídica que é preciso garantir à família do pai que... nunca quis assumir a paternidade do seu filho. Na minha opinião é um argumento de segunda, que perde claramente para o direito à verdade e à identidade que que a Lei deve assegurar, sem restrições temporais, a qualquer pessoa.
O pai é rico e o pretenso filho é apenas um oportunista que quer caçar parte da fortuna do pai? A Lei não pode nem deve julgar intenções, pois nesse caso devia também julgar o progenitor que possivelmente se aproveitou da fragilidade afetiva, social e económica da mãe para a engravidar. 
Toda a gente tem direito a saber quem são os seus pais e isso deve demorar o menor tempo possível. 
Não é possível que um pai fuja durante anos a um simples teste de ADN e que o tribunal protele e seja complacente com o prevaricador. Quem indemniza emocional, social e financeiramente aquele filho(a) sem pai? Se o pai acha que está a ser vítima de uma chantagem, faz o teste de ADN, prova que não é o pai e a vida segue. O contrário é que é inaceitável.

A verdade não prescreve, o direito a ver reconhecido o pai também não pode prescrever. 
gavb

sábado, 14 de outubro de 2017

VERDADE E CONSEQUÊNCIA


Mais de 100 dias depois, a verdade técnica sobre os trágicos acontecimentos de Pedrógão lá apareceu, num relatório extenso e denso, que descreve circunstanciadamente o que aconteceu, as estruturas que falharam, mas foge dos nomes como Sócrates das transferências bancárias.
Ao contrário do Primeiro-Ministro, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a Pedrógão para dar a cara pelo Estado Português, junto daquela gente a quem coube a má sorte de levar com uma estrutura desorganizada da Proteção Civil. O Presidente da República esperou pacientemente o Relatório, mas até ele ficou desconsolado com os resultados e com a cobardia do governo em assumir culpas. “Já Perdemos Todos Tempo De Mais”.

Marcelo personifica perfeitamente o desencanto dos portugueses com a falta de coragem política dos governantes em assumir as culpas nas horas difíceis. Se têm legitimidade para colher as rosas, nas horas dos bons resultados e dos circunstanciais sucessos, como podem eximir-se à responsabilidade dos comandantes, na hora de tão retumbante falhanço?
Depois desta Verdade cinzenta como o fumo denso que acolitou a morte naquele dia fatídico de junho passado, tem de surgir a Consequência. Não porque somos um povo vingativo, não porque isso nos trará qualquer vida de volta, mas porque um Estado de Direito e de Honra assume os seus falhanços. Em política isso chama-se demissão, senhora ministra Constança Urbano de Sousa.

GAVB