Três, seis, dez mortos. Depois vinte, vinte e sete, vinte e
nove pessoas que perderam a vida. Trinta e um, mais um e outro ainda. Desligo o
computador, mas é impossível aquietar a alma, porque ainda não acabou. Percorro
o olhar triste dos muitos com que me cruzo e sinto a derrota silenciosa da
gente dorida. Ligo a televisão agora – “trinta e seis mortos confirmados, mas
ainda há os desaparecidos e os feridos graves”.
E cada vez que o contador sinistro se mexe é mais um soco
brutal no corpo exaurido, ensanguentado, destroçado que é Portugal.
Já não suporto mais ouvir desculpas indignas, nem
aproveitamentos políticos, nem explicações transcendentais. É capaz de ser um
pouco de tudo, mas isso agora importa-me pouco. Depois de Pedrógão, essa impossibilidade que foi possível, as mortes desta madrugada não podiam ter acontecido… mas
aconteceram.
Não preciso de uma proteção civil que me mande desenrascar,
de um governo que mande os bombeiros para casa com temperaturas constantemente acima
dos 20 graus, só porque o calendário diz que estamos em Outubro. Então, se
estiver a chover em Agosto, não abro o guarda-chuva? E se o calor invadir os
dias de Dezembro não dou um belo passeio pela praia?
Importam-me pouco as condolências, os funerais de estado,
as belas exéquias, as preocupações de quem tinha apenas de garantir que não
tínhamos de nos preocupar.
Dizem-me agora que não voltará a acontecer.
Realmente não: não há mais pinhal de Leiria para arder, não há mais como
recuperar as vidas que se perderam, não há mais confiança num Estado que não sabe
proteger a vida dos seus cidadãos.
GAVB
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