Amanhã haverá Greve Geral da Função Pública. Terá uma
adesão brutal. Professores, médicos, funcionários das finanças, dos tribunais –
todos vão fazer greve (à exceção dos enfermeiros que ainda agora chegaram a
acordo com o Ministro da Saúde, depois de assanhada querela e dos juízes que gostavam, mas não podem), todos têm justas
reivindicações, fundadas razões, mas pouquíssimas expectativas de as verem
satisfeitas, através desta greve.
Curiosamente nenhuma classe social, que
amanhã fará greve, anda particularmente descontente. Andavam os enfermeiros,
mas esses já resolveram a sua vidinha; curiosamente os termos do acordo parecem
algo… secreto.
Por que razão a função pública faz greve amanhã? Na
verdade, porque o governo anunciou que,
partir de 1 de Janeiro de 2018, ia descongelar as carreiras (abrindo o
apetite de aumento salarial), mas que não haverá recuperação do tempo dado, ou
seja, foram 10 anos a trabalhar e a progressão na carreira é zero.
É
absolutamente injusto, mas não se esperava outra coisa. Podia o Governo
recolocar os funcionários públicos no seu devido lugar nas respectivas carreiras?
Podia. Isso significaria subida de dois escalões, para a maioria dos funcionários públicos, e um aumento de
ordenado entre os 6 e os 10%. Acham que isso era economicamente e
financeiramente possível? Claro que não era nem o será nos próximos vinte anos.
Sentindo o cheiro a aumentos, cada classe profissional
posiciona-se na grelha de partida para a corrida das reivindicações. Para o Governo quantas mais melhor. E de preferência dos mais variados quadrantes.
Quando tiver que negociar com os professores, mostrará as exigências dos
médicos, dos funcionários das finanças, dos polícias; quando negociar com os
polícias lembrará quanto lhe dói não ter atendido às justas reivindicações dos
professores… e seguirá aplicando hipocritamente a mesma fórmula a todos.
A Greve Geral de amanhã causará impacto mediático, mas até
pelo dia escolhido, pelo momento em que foi marcada e pela real impossibilidade
de atender a todas as justas reivindicações, será facilmente neutralizada pela
comunicação governamental. Além de que quase todos esgotam o seu principal
«tiro» amanhã.
Quando um trabalhador do privado, amanhã, estiver a ver os
telejornais, dirá: “só para pagar as reivindicações destes tipos não chegava 3%
do PIB”.
Professores, médicos, polícias, funcionários das finanças,
da saúde, da segurança social – todos serão metidos no mesmo saco. Poucos
perceberão o que distingue as reivindicações de uns das dos outros.
É o que faz deixar que seja a Frente Comum e o PCP a
decidir como e quando se faz a Greve Geral. A propósito, esta ficou decida
depois das eleições autárquicas, em que o PCP ficou furioso, ao perceber que
andou dois anos manso, a trabalhar para a redonda vitória do PS.
Os homens que amanhã discursarão nos principais palanques
grevistas andaram dois anos a suportar a política de António Costa. Mas quem é
que se lembra disso? Amanhã é sexta-feira e é Greve Geral. Será um dia lindo.
GAVB
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