Mandar doze mil guardas-civis para a Catalunha, a fim de
impedir um referendo, que afinal se realizou, foi a pior maneira de defender a
Espanha dos ataques independentistas de Barcelona. Rajoy achou que podia ser um
elefante, numa loja de porcelanas, que isso não traria consequências de maior.
Trouxe já algumas e trará outras, em breve.
Para já conseguiu o impensável – 90% dos catalães, que ontem
se dirigiram às urnas de voto, querem a independência. Nunca pensei que
excedesse os 60%, mas as desesperadas decisões do primeiro-ministro espanhol
fizeram subir em flecha o «Sim» indignado dos catalães.
Com 50% a 60%, Rajoy podia especular com a divisão da
Catalunha, podia abrir mão de pouco em troca do essencial; com o resultado esmagador
de ontem, Rajoy tem um problema sério. O voto dos catalães é uma vontade inequívoca
de gente esclarecida. Foi feito também para constituir um sinal e um
compromisso com a Europa.
Como muito bem fez notar o presidente do Governo Regional da
Catalunha, Puigdemont, os catalães ganharam o direito a serem ouvidos e isso
significa o início de um processo de independência. Ao contrário do que
aconteceu com os bascos, desta vez, não foram os independentistas a partir para
a violência injustificada.
Mais de oitocentos feridos, imagens de violência sobre
idosos, ameaças aos moços de esquadra! O governo de Madrid perdeu o tato
político. A Guarda Civil espanhola não foi a Barcelona impedir referendo
nenhum, mas antes dar força aos independentistas. O governo espanhol embaraçou
os seus aliados e agora todos temem que não tenham habilidade suficiente para
desatar este nó.
Os catalães não odiavam a Espanha, mas apenas Madrid. Era
(ainda é?) possível convencê-los a permanecer de bom grado, porque a companhia
dos galegos, bascos, andaluzes também funcionaria com fator de unidade. Agora
eles parecem decididos a partir. Talvez não o consigam fazer como imaginam, nem
sem dor, mas o seu coração já começa a dizer adeus.
GAVB
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