Mais de mil dias depois de ter sido detido no aeroporto de
Lisboa, debaixo dos holofotes das câmaras de televisão, José Sócrates é
formalmente acusado de corrupção. Quase três anos passaram e desde então para
cá o caso Sócrates foi ganhando volume, a acusação foi-se transformando (cada
vez piorando mais a situação do ex-primeiro-ministro), ziguezagueando,
encontrando novos suspeitos e novas conexões, mas sempre com um resultado final
pré-estabelecido. Não devia ser assim, mas foi.
Finalmente o país e Sócrates conhecem a acusação e por
incrível que pareça ninguém está admirado com os graves crimes de que os arguidos (outrora gente importante e respeitável do país) são acusados, porque toda a
gente já os conhecia. Essa publicitação off the record, pelo Ministério
Público, foi a maneira que o MP encontrou para ganhar coragem para acusar
Sócrates, Salgado, Zeinal Bava ou Henrique Granadeiro.
A acusação pode ser poderosa, inequívoca e facilmente
convertível em punição, mas a Justiça não se livra da justa acusação de também
ela ter usado métodos sicilianos.
Independentemente da raiva e do ódio que alguns
agentes da Justiça portuguesa sentem em relação aos ex-poderosos do país e da
crença que têm na acusação formulada, devíamos ter chegado a este momento mais
cedo e devíamos conseguir outorgar aos arguidos a presunção de inocência, mas
isso já é impossível.
Eles já estão condenados. Impossível obter outra sentença. O julgamento será apenas um mero pro
forma, pois toda população já formou o seu juízo de valor acerca das
acusações amplamente antecipados nos jornais.
É verdade que o mais importante é que se faça Justiça, mas
nenhuma Justiça se pode afirmar através do princípio de Maquiavel de que os
fins justificam os meios.
Isso era para os políticos, mas a partir deste momento
vale também para alguns juízes.
A provável culpabilidade de Sócrates, Salgado
ou Bava talvez cobre, por agora, a mancha, mas no futuro, este sujar de mãos há
de ter consequências e nenhuma delas será boa para a Justiça.
GAVB
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