Há dois dias, o governo, via Correio da Manhã, veio tentar
explicar aos professores por que razão lhes rouba 10 anos de progressão nas
carreiras e não lhes paga aquilo que lhes deve, apesar de ter condições para
saldar algumas dívidas.
É verdade que é quase um milagre um governo do PS inserir
publicidade não paga na capa do Correio da Manhã, mas o alvo sendo os
professores, até o Correio da Manhã faz uma pausa no constante metralhar das
políticas governativas.
Mais do que se justificar, o governo pretendia com aquele
título bombástico no CM virar, mais uma vez, a opinião pública contra os
professores.
Reparemos que não se refere quanto o Estado está em débito com os
médicos, com os enfermeiros, com os funcionários das finanças ou até da Caixa
Geral de Depósitos. Interessava atingir os professores porque eles são muitos,
têm força reivindicativa e porque foram a classe social mais atacada pelos
sucessivos governos, nos últimos 10-15 anos.
Por outro lado, não é de excluir
que o governo tenha a tentação de acertar algumas contas com outras classes
profissionais e excluir os professores, pois aqui a fatura é grande. E é grande
porque todos os governos, na última década, acharam que reformar a Função
Pública era igual a despedir professores, impedir-lhe durante 10 anos a
progressão e reduzir-lhes salários.
Ao contrário dos médicos e enfermeiros, os
professores não tinham alternativa no privado; ao contrário dos funcionários
das finanças, os professores não tinham prémios de produtividade e suspensão do
congelamento das carreiras.
Agora há dinheiros, mas para os professores não. Os
professores são uma espécie de banco público onde os sucessivos governos
fizeram todo o tipo de desfalque e chegada a hora de acertar contas, o governo
em funções diz que não paga, porque o calote é grande.
Não pagam nem vão pagar, mas não é porque não há (houve)
dinheiro.
Ainda há dias, o governo acabou de estoirar mais de 400 milhões, por
causa da sua incúria, má administração, incompetência. Dois dias de Julho e
outros dois em Outubro, resultaram em mais de cem mortos, milhares e milhares
de hectares de floresta ardida, milhares de animais mortos, empregos
destruídos. O governo vai pagar mais de 400 milhões
para repor o que tinha no início do verão. É uma despesa extra, é uma despesa
necessária agora, mas que era perfeitamente evitável. Só esse dinheiro dava
para pagar quase toda a conta em atraso aos professores.
Depois dos quatro mil milhões de desfalque na CGD, depois dos
milhões gastos com a proteção civil que exibiu a pior proteção dos últimos cem
anos, depois de…
Todos os anos, os professores produzem bons médicos,
excelentes advogados, razoáveis economistas, mas não conseguem produzir meia
dúzia de políticos decentes há décadas.
GAVB
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