Daqui por alguns meses, as mulheres sauditas vão poder
conduzir os seus próprios automóveis, numa medida que indicia a abertura do
ortodoxo regime saudita a alguma igualdade de género, dentro de uma sociedade
profundamente desigual e machista.
No entanto, esta brisa é apenas um ventinho sem grande
expressão, porque o essencial continua proibido à mulher nascida na Arábia
Saudita. Convém lembrar algumas das inacreditáveis proibições/restrições.
Procurar cuidados médicos, por muito necessários e urgentes que sejam, requer a autorização de um familiar ou de um tutor masculino. Em caso
de necessidade extrema, as mulheres sauditas têm literalmente a vida nas mãos
do homem.
Se na saúde a situação é bizarra, no direito não é melhor.
Perante a lei, o seu testemunho vale menos do que o de um homem; e numa herança
só recebem metade do valor atribuído a um irmão. Em caso de divórcio, as
mulheres só têm a custódia dos filhos até aos nove anos (raparigas) ou sete
(rapazes).
A desigualdade face aos homens não se vê apenas nas grandes
coisas com também nas mais pequenas. Por exemplo, as mulheres não têm
autorização para ter um conta bancária e geri-la a seu belo prazer, ainda que
tenham obtido autorização para trabalhar (sim, também precisam) e ganhem o seu
próprio dinheiro.
Viajar para onde lhes apetece (mesmo dentro da própria
Arábia Saudita) está fora de questão para o elemento feminino. Passaportes e
outros documentos essenciais a quem viaja só podem ser obtidos com autorização
do marido, tutor ou outro elemento feminino que exerça alguma forma de poder
sobre elas.
Sobejamente conhecida é a limitação quanto ao vestuário. O
Abayas (casaco longo que cobre todo o corpo da mulher) é obrigatório em todo o
espaço público e por isso fica vedado à mulher saudita um modo de expressão tão
feminino como é o vestuário.
Perante todas estas aberrantes proibições não espanta que
casar com quem quiser também lhes seja vedado. Quem dá permissão para a jovem
saudita casar é o wali ou tutor legal. Caso queiram casar com um estrangeiro, a
autorização tem de vir diretamente do Ministério do Interior, até porque casar
com um não-muçulmanos é uma missão impossível.
Vista desta perspectiva, é óbvio que a autorização para
conduzir um carro dada pelo Rei Salman ainda é uma coisinha tão pequenina como
insignificante, num deserto de tantas proibições.
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