Num dos seus mais célebres sonetos, Camões dizia que “Todo o mundo é composto de Mudança”. Anunciava que não mudavam só os tempos, mas também as vontades e a confiança.
Obviamente que percebemos que mudem os tempos, mas custa-nos que mudem as vontades, a não ser que seja a nossa. Quanto à confiança, só muda quando se perde.
Por que resistimos à mudança? Por medo, claro. A atração da novidade não consegue vencer o temor do desconhecido. Mudar significa sair de uma zona de conforto para uma zona de insegurança absoluta e isso aterra. No entanto, há momentos em que temos de mudar. E o melhor é sermos nós a liderar o processo, porque podemos influenciar o destino dessa mudança enquanto se formos forçados a ela, serão as vontades dos outros a triunfar.
A mais importante das mudanças é a mudança interior. Quando sentimos a insatisfação a corroer-nos a vida nas mais pequenas coisas, é porque algo não está bem connosco. É o emprego que não nos satisfaz, são determinadas relações que se esgotaram, é a nossa rotina diária que nos aborrece.
Isto aconteceu porque, sem darmos por isso, nós fomos mudando e aquilo que nos satisfazia e completava, há alguns anos, deixou de nos fazer felizes.
É muito difícil assumir que somos infelizes. Com frequência usamos o eufemismo para caracterizar a situação ou adiamos pensar nela, até porque pensar sem daí tirar as devidas consequências só aumenta a insatisfação e a infelicidade.
Quando nos recusamos a iniciar o processo de autoanálise, com o objetivo de implementarmos a necessária mudança interior que nos devolva paz, alegria de viver, satisfação, estamos a deixar campo aberto para que os outros usem e abusem da nossa insatisfação, tornando-a caótica e, por vezes, degradante. Mudamos à força. Não para aquilo que queríamos, mas para mais infelicidade.
Claro que todas as mudanças comportam perdas, sejam elas materiais, emocionais, relacionais. Todavia, se ela for conduzida por nós (e não tem de ser à bruta), a insatisfação e a infelicidade deixarão de estar «in» nas nossas vidas. E isso é um bem a não desconsiderar.
Gabriel Vilas Boas
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