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sábado, 8 de outubro de 2016

SE DEVES AO ESTADO, NÃO PAGUES. O DÉFICE PERDOA-TE

Na recente crise financeira que assolou muitos bancos europeus, ficou célebre esta frase: “Se deves 70 mil euros ao banco, tu tens um problema; se deves sete milhões de euros, o banco tem um problema.”
Quem tem dívidas fiscais há muito que interiorizou este princípio. O problema é do Estado que tem um crédito e não o consegue cobrar. Quanto maior for o crédito, mas incobrável se torna. Ambos os lados sabem isso e por isso a parte fraca é a do Estado e não a do devedor, que apenas tem de esperar que o tempo passe até que a dívida prescreva ou então até que o Estado lhe ofereça um perdão fiscal. O perdão fiscal do Estado é quase tão certo como existirem anos bissextos e surge, pelo menos, um em cada legislatura.

Há governos que vendem as dívidas fiscais a empresas de serviços financeiros por apenas 10% do valor em dívida (Manuela Ferreira Leite ao Citigroup), há governos que escalonam a dívida em 12 suaves prestações, com entrada inicial de 8% (a geringonça de António Costa), há governos que perdoam um grande parte inicial e pedem o pagamento integral do restante. O resultado é o mesmo: perdão fiscal.

Isto gera um evidente desconforto em quem paga e um sentimento de injustiça enorme. Dir-me-ão que a justiça e negócios não formam par no mundo real e que é melhor receber algum a não receber nenhum. É verdade que é melhor receber algum, mas é muito melhor não se pôr em posição de pedinte fiscal. O governo de António Costa apenas avançou com esta medida porque precisa de uns quantos milhões de euros até final do ano para cumprir a meta do défice. Fez as contas e concluiu que precisava de cerca de 8% do valor em dívida, de imediato. Foi isso que pediu que os faltosos liquidassem inicialmente para aceder a este plano de pagamentos de dívidas que muito poucos cumprirão. Uns ainda pagarão uma, duas ou três prestações, mas depois suspenderão o pagamento por falta de provisões… até ao próximo perdão, ou seja, até ao próximo entalanço do governo com um qualquer défice.
É por causa desta mentalidade que ninguém nos perdoa a nossa dívida estrutural. Criávamos nova dívida monstruosa ainda não tínhamos cumprido metade dos pagamentos.

Gabriel Vilas Boas

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