Certo dia o irlandês Óscar Wilde escreveu que, “quando Deus
nos quer punir, ouve as nossas preces”.
Mais do que uma ironia da vida, o céu que vira inferno é
uma amarga realidade com que muita gente, inesperadamente, tem de lidar.
Isto pode acontecer por vários motivos. O mais comum é a
perceção errada daquilo que desejamos. Efabulamos frequentemente sobre
determinada realidade, pessoa, emprego… observando apenas o lado glamouroso da
questão.
Outro erro típico é criar expetativas demasiado altas. Quando
isso nos acontece, aquela pessoa, aquele trabalho ou até aquele projeto que
sempre sonhámos viver só nos pode desiludir, pois dele esperamos o possível e o
impossível. Ele tem de preencher anos de espera e satisfazer plenamente os
objetivos do presente.
Uma conclusão difícil de admitir é a impreparação para
viver tudo aquilo que tanto desejámos. Quantos euromilionários não acabaram na
mais profunda angústia e pobreza, porque não conseguiram gerir psicologicamente
o novo estatuto de inesperado rico? Quantas vezes o emprego de sonho não se
tornou num pesadelo de proporções inimagináveis? Quem não conhece histórias de
namoros de anos que terminaram em casamentos de dias? Claro que isto não é a
regra, mas arriscaria dizer que é muito mais que uma exceção de rodapé.
Por mais que não gostemos desta ideia, alguns dos nossos
desejos e sonhos têm um tempo certo para serem concretizados e, mais
importante, exigem que deles tenhamos um conhecimento rigoroso e realista.
Obviamente que há sonhos que duram a vida inteira e para os
quais estamos e estaremos sempre preparados para abraçar. Claro que há
realidades, pessoas, projeto, que conhecemos de cor, nas suas virtudes e
defeitos, que nunca nos desiludiram nem desiludirão, mas é bom ter a
consciência que a concretização dos nossos sonhos nem sempre nos fará felizes.
Ainda que nunca cheguemos a ter a certeza disso, há
momentos de sorte no meio do azar.
Gabriel Vilas Boas
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