Há mais de cinquenta anos que Bob Dylan batia à porta do céu com músicas e letras brilhantes como Like a Rolling Stone, Mr. Tambourine Man, Knockin´on a Heaven´s Door, Blowin´in the Wind, Don´t Think twice – It´s All Right, mas não podia ganhar prémios porque fumava umas “coisas esquisitas”, apesar das muitas coisas acertadas que as suas músicas «diziam».
Os anos foram passando e Dylan entrou no olimpo dos grandes criadores onde assistia ao longo cortejo da mediocridade. De tempos a tempos, a velha lenda do rock americano lá se saía com mais uma música/letra incomodativa como “Things Have Changed”, em 2000, arrebatando o Globo de Ouro para melhor canção original do filme que lhe encomendou a banda sonora.
Hoje, aos 75 anos, a Academia Nobel resolveu usar Bob Dylan para dar um forte abanão num prémio – o Nobel da Literatura - que corria o risco de cristalizar e se institucionalizar. Finalmente a Academia Sueca percebeu que a grande literatura está muito para além dos livros. Muitos letristas e compositores de músicas foram e são grandes poetas. Mais revolucionários e interventivos na sociedade que tantos escritores clássicos.
A escolha de Bob Dylan para Prémio Nobel da Literatura simboliza essa mudança de paradigma. Por isso, este é um dia importante para a literatura, para a poesia, para a música, para o próprio Prémio Nobel. Dylan foi usado como uma verdadeira pedrada no charco em que ameaçava cair este prestigiado prémio. E talvez seja esse o seu grande contentamento. Por uns tempos, vamos ouvir Dylan e prestar atenção à sua mensagem. Não vamos pensar nas coisas que ela fumava, mas nas coisas que escrevia e cantava.
Podia ter sido outro? Podia. Podia ter sido, por exemplo, Chico Buarque, mas Dylan é americano e todos nós sabemos que uns são mais iguais que outros, como há «armas» que acertam melhor no alvo que outras.
Sobre Bob Dylan, despeço-me com o refrão de Things Have Changed
People are crazy and times are strange
I´m locked in tigth, I´m out of range
I use to care, but things have changed
Na verdade, as coisas mudaram, mas ele nunca deixou de se importar. Ainda bem para nós.
Gabriel Vilas Boas
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