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domingo, 2 de outubro de 2016

OS NEGÓCIOS DA IGREJA PORTUGUESA NÃO FORAM, NÃO SÃO NEM SERÃO FISCALIZADOS


 Que interesse há em aprovar uma lei que tem por objetivo verificar a viabilidade financeira das Fundações, através da sua fiscalização, se depois se isentam as Fundações ligadas à Igreja Católica de se submeter a esse escrutínio? Muito pouco. Não se mata o problema nem a suspeita, além de se beneficiar ilegitimamente um grupo específico da sociedade portuguesa.
Mais uma vez o governo português teve falta de coragem e usou a imprensa para embaraçar a Igreja Católica. E realmente a Igreja Católica parece ter motivos para se sentir embaraçada. Nada justifica que as suas Fundações não se submetam ao mesmo escrutínio de viabilidade financeira que as outras Fundações.

A Igreja Católica já beneficia de benesses excepcionais mais do que devia por causa da Concordata, mas este foi um favor imoral, altamente criticável e suspeito. A Igreja devia ser a primeira a mostrar as boas contas das suas Fundações, a sua utilidade social assim como a sua viabilidade financeira. Tinha essa obrigação moral, tinha essa obrigação legal. Negociar por debaixo da mesa com um governo de direita (tradicional dócil com a Igreja que lhe costuma devolver os “fretes” nas homilias) é uma coisa feia.
Quando se fala de dinheiro, da prestação de contas sobre as ajudas que recebe do Estado, a Igreja portuguesa tem uma responsabilidade ética e moral superior aos restantes grupos sociais.
O governo não pode ter medo da Igreja nem deve usar esta tática de atirar a pedra e esconder a mão. Se há um problema, uma injustiça, uma imoralidade há que enfrentá-la com os poderes que tem: a alteração da lei ou das exceções à lei.
Os jornais também não podem ficar só pela denúncia. Têm que questionar o episcopado, questionar o governo, investigar aquilo que não foi controlado. Não podemos andar sistematicamente a destapar imoralidades e depois não ter a coragem de acabar com elas.
Se o objetivo era envergonhar, amedrontar, condicionar, podem tirar o cavalinho da chuva. Os padres são como o resto da sociedade: sabem perfeitamente assobiar para o lado.

Gabriel Vilas Boas

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