Que interesse há em aprovar uma lei que tem por objetivo verificar a viabilidade financeira das Fundações, através da sua
fiscalização, se depois se isentam as Fundações ligadas à Igreja Católica de se
submeter a esse escrutínio? Muito pouco. Não se mata o problema nem a suspeita,
além de se beneficiar ilegitimamente um grupo específico da sociedade
portuguesa.
Mais uma vez o governo português teve
falta de coragem e usou a imprensa para embaraçar a Igreja Católica. E
realmente a Igreja Católica parece ter motivos para se sentir embaraçada. Nada
justifica que as suas Fundações não se submetam ao mesmo escrutínio de
viabilidade financeira que as outras Fundações.
A Igreja Católica já beneficia de
benesses excepcionais mais do que devia por causa da Concordata, mas este foi
um favor imoral, altamente criticável e suspeito. A Igreja devia ser a
primeira a mostrar as boas contas das suas Fundações, a sua utilidade social
assim como a sua viabilidade financeira. Tinha essa obrigação moral, tinha essa
obrigação legal. Negociar por debaixo da mesa com um governo de direita
(tradicional dócil com a Igreja que lhe costuma devolver os “fretes” nas
homilias) é uma coisa feia.
Quando se fala de dinheiro, da prestação
de contas sobre as ajudas que recebe do Estado, a Igreja portuguesa tem uma
responsabilidade ética e moral superior aos restantes grupos sociais.
O governo não pode ter medo da Igreja
nem deve usar esta tática de atirar a pedra e esconder a mão. Se há um
problema, uma injustiça, uma imoralidade há que enfrentá-la com os poderes que
tem: a alteração da lei ou das exceções à lei.
Os jornais também não podem ficar só
pela denúncia. Têm que questionar o episcopado, questionar o governo,
investigar aquilo que não foi controlado. Não podemos andar sistematicamente a
destapar imoralidades e depois não ter a coragem de acabar com elas.
Se o objetivo era envergonhar,
amedrontar, condicionar, podem tirar o cavalinho da chuva. Os padres são como o
resto da sociedade: sabem perfeitamente assobiar para o lado.
Gabriel Vilas Boas
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