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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O DIA EM QUE MANDELA SAIU DA PRISÃO



No dia 11 de Fevereiro de 1990, Nelson Mandela agarrou a mão da mulher, Winnie, e com um enorme sorriso triunfal percorreu a passadeira da liberdade que o trouxesse de regresso a casa.
Para trás ficavam 27 anos duma prisão injusta, que, ao contrário de todas as expectativas, não o tornou num revoltado, mas num sábio, que haveria de guindar o seu povo à liberdade ansiada.
Embora tivesse estado preso quase três décadas (a maior parte do tempo na inexpugnável prisão de Robben Island), a sua coragem e dignidade garantiram-lhe o estatuto de autoridade moral do Congresso Nacional Africano (ANC) e do movimento anti apartheid.
Seis meses antes, o presidente sul-africano, F.W. de Klerk, anunciara o fim das políticas de apartheid, a legalização do ANC e o início de conversações para a transição dum poder branco para um poder negro, na África do Sul.

Na tarde do dia em que foi libertado, Mandela falou ao seu povo, com a serenidade, sabedoria e grandiosidade que só os grandes têm. Falou de paz, democracia e liberdade; analisou as opções do ANC no novo enquadramento político do país e apelou a uma África do Sul multirracional, onde haveria lugar para todos. 

E houve! Ao contrário de todas as expectativas, a transição de poder foi genericamente pacífica, de tal maneira que, em 1993, De Klerk e Mandela haveriam de ganhar, merecidamente, o prémio Nobel da Paz. 
Em 27 de Abril de 1994, Mandela tornou-se no primeiro presidente negro do país e, não menos significativo, o primeiro líder sul-africano eleito por sufrágio universal.  

11 de Fevereiro – uma data memorável para África e para a humanidade. Passaram vinte e cinco anos, mas a beleza e relevância desse dia continuam intactas, porque Mandela as soube honrar e ilustrar.
Quando penso em todas as emoções que Mandela viveu e fez viver nesse 11 de fevereiro de 1990, vem-me à memória uma extraordinária canção de Jorge Palma, inspirada num livro de Herberto Hélder, que passou a citar:


Quando o sol chegou aos subúrbios da cidade
Anunciando mais um dia igual aos outros
Ele acordou e pressentiu
Que hoje o seu dia ia ser diferente
Sentiu nos lábios o sabor
Dum sorriso finalmente triunfante
Escorregou da cama
E contemplou o espelho sorridente
Acabou-se a incerteza dos seus passos em volta
De um sentido que ele nunca encontrou
Pela primeira vez tinha o destino nas mãos
Desta vez ele não duvidou
Sentiu-se invadir por uma estranha lucidez
Que o conduzia pelas calhas do passado
Serenamente descobriu
Que afinal tudo tinha o seu sentido
Levou o olhar á janela
Lá em baixo a rua estava abandonada
Levantou o fecho
E de repente alcançou a liberdade
Acabou-se a angústia dos seus passos em volta
Dum amor com que ele apenas sonhou
Pela primeira vez tinha o futuro nas mãos
Abriu a janela e voou”



Gabriel Vilas Boas

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