O
inverno, o frio, as reportagens televisivas fazem-nos pensar mais vezes nas difíceis
condições em que vivem largas dezenas, para dizer, centenas de milhares de compatriotas
nossos. Em muitos casos junta-se doença, tristeza e deficientes condições de
vida. Temos pena, muita pena, verberamos o governo, lamentamos a falta de sorte
coletiva congénita e… vamos dormir mais descansados com a nossa consciência de
lata. A causa do problema é sempre exterior a nós.
Como
os nossos governantes são também fruto desta mentalidade, eles acham igualmente
que o problema deve ser resolvido pelos outros. Depois chocamo-nos com os
inúmeros sem-abrigo ou os reformados que se levantam às sete da manhã para, de
muletas, apanhar o autocarro, que os leva ao centro de saúde mais próximo, onde
devem mendigar um lugar na fila para serem atendidos pelo médico de família.
Obviamente
é justo assacar culpas à ineficiente proteção social do Estado, que podia e
devia antever as circunstâncias em que os velhos e os doentes vão cair, mas é imoral
fingir que não temos nada que ver com isto.
Enquanto
sociedade, não formamos nem sentimos necessidade de criar uma rede social cívica
e solidária, que possa responder às situações de emergência em cada
concelho/freguesia. Não temos a cultura de entreajuda, do doar algum do nosso
tempo e das nossas qualidades à comunidade onde estamos inseridos. Podia dizer
que é uma falha da Educação, da Escola, mas acho que é uma falha de humanidade.
O
nosso crescimento pessoal não contém nenhum capítulo relevante sobre a
preocupação com o nosso semelhante. O conceito comum e moderno de felicidade
conjuga-se vezes de mais na primeira pessoa do singular. Muitas vezes, o vizinho
do lado é mais que o vizinho, é o familiar, mas isso pouco altera a nossa
conduta, antes a torna mais imoral.
Não
podemos resolver o problema de todos os desprotegidos do nosso bairro, mas
podemos ajudar a resolver o problema de um ou dois. Não faríamos nada de
especial nem de muito difícil, mas faríamos algo que nos faria sentir melhor.
Há
várias pequenas tarefas que não implicam grande dispêndio de tempo ou dinheiro,
desde que feitas de modo concertado. Penso no transporte de pessoas limitadas
aos centros de saúde ou a centros de convívio, penso no pagamento de alguns
medicamentos, penso em explicações gratuitas a crianças com notórias
dificuldades escolares, cujos pais vivem graves problemas económicos, penso na
discreta doação de roupa, calçado, refeições…
Sim,
é verdade que a grande responsabilidade de proteger os nossos compatriotas em
dificuldade é daqueles que recebem o dinheiro dos nossos impostos, mas se não
fizermos a pequenina parte ao nosso alcance deixamos de ter moral para
criticar.
Gabriel
Vilas Boas
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