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domingo, 8 de fevereiro de 2015

(DES)PROTEÇÃO TOTAL



O inverno, o frio, as reportagens televisivas fazem-nos pensar mais vezes nas difíceis condições em que vivem largas dezenas, para dizer, centenas de milhares de compatriotas nossos. Em muitos casos junta-se doença, tristeza e deficientes condições de vida. Temos pena, muita pena, verberamos o governo, lamentamos a falta de sorte coletiva congénita e… vamos dormir mais descansados com a nossa consciência de lata. A causa do problema é sempre exterior a nós.
Como os nossos governantes são também fruto desta mentalidade, eles acham igualmente que o problema deve ser resolvido pelos outros. Depois chocamo-nos com os inúmeros sem-abrigo ou os reformados que se levantam às sete da manhã para, de muletas, apanhar o autocarro, que os leva ao centro de saúde mais próximo, onde devem mendigar um lugar na fila para serem atendidos pelo médico de família.
Obviamente é justo assacar culpas à ineficiente proteção social do Estado, que podia e devia antever as circunstâncias em que os velhos e os doentes vão cair, mas é imoral fingir que não temos nada que ver com isto.



Enquanto sociedade, não formamos nem sentimos necessidade de criar uma rede social cívica e solidária, que possa responder às situações de emergência em cada concelho/freguesia. Não temos a cultura de entreajuda, do doar algum do nosso tempo e das nossas qualidades à comunidade onde estamos inseridos. Podia dizer que é uma falha da Educação, da Escola, mas acho que é uma falha de humanidade.
O nosso crescimento pessoal não contém nenhum capítulo relevante sobre a preocupação com o nosso semelhante. O conceito comum e moderno de felicidade conjuga-se vezes de mais na primeira pessoa do singular. Muitas vezes, o vizinho do lado é mais que o vizinho, é o familiar, mas isso pouco altera a nossa conduta, antes a torna mais imoral.
Não podemos resolver o problema de todos os desprotegidos do nosso bairro, mas podemos ajudar a resolver o problema de um ou dois. Não faríamos nada de especial nem de muito difícil, mas faríamos algo que nos faria sentir melhor.
Há várias pequenas tarefas que não implicam grande dispêndio de tempo ou dinheiro, desde que feitas de modo concertado. Penso no transporte de pessoas limitadas aos centros de saúde ou a centros de convívio, penso no pagamento de alguns medicamentos, penso em explicações gratuitas a crianças com notórias dificuldades escolares, cujos pais vivem graves problemas económicos, penso na discreta doação de roupa, calçado, refeições…
Sim, é verdade que a grande responsabilidade de proteger os nossos compatriotas em dificuldade é daqueles que recebem o dinheiro dos nossos impostos, mas se não fizermos a pequenina parte ao nosso alcance deixamos de ter moral para criticar.

Gabriel Vilas Boas      

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