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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

MUSEU HERMITAGE


O Reinado de Catarina II, na Rússia, ficou assinalado por um extraordinário incremento das coleções do Império Russo e está na origem do imenso património que o Museu do Hermitage atualmente detém.
A czarina, desde sempre, consagrou particular atenção à arte, que soube habilmente usar como instrumento de poder e de prestígio político desde o primeiro dia da sua ascensão ao trono.
A criação duma rica coleção de arte era vista por Catarina II como uma manifestação tangível do poderia económico da coroa russa. Nesse sentido, Catarina promoveu uma extraordinária campanha de aquisição de obras de arte a que se dedicou durante várias décadas.
As primeiras aquisições ocorreram em 1764, mas foi em 1772 que se efetivou a mais importante aquisição: a riquíssima coleção do banqueiro parisiense Pierre Crozat, mediada por Denis Diderot, de quem Catarina II se considerava discípula. Na verdade, as inseguranças de Catarina em matéria de arte levaram-na a procurar conselho junto de vários especialistas.
As coleções adquiridas pela czarina eram levadas para a Rússia por via marítima, mas nem sempre o transporte chegava a bom termo, como aconteceu em 1771, quando a importante coleção de Gérard Braakamp se perdeu. Uma vez no destino, as obras eram colocadas no mezanino do palácio chamado "Pequeno Hermitage",  que mais tarde se uniu ao novo Hermitage (conhecido hoje como “Velho”). Aí eram expostas segundo um critério de agrado estético mas também de decoro, de tal forma que a célebre “Danae” de Rembrandt acabou nas águas-furtadas devido à sua impressiva carga erótica.

Catarina também fez coleção de esculturas, que colocava na sua residência de verão, em Zarskoje Selo. Para aí seria levado “O Retrato de Voltaire Sentado”, de Houdon, ficando na digna companhia de conhecidas estátuas da Antiguidade como “Antinoo” e “Apolo Belvedere”.
Catarina não adquiriu apenas obras do Renascimento e do Barroco, mas também de artistas contemporâneos, conseguindo manter o elevadíssimo nível das coleções. Isto não seria continuado pelos seus sucessores, pois só nas décadas de trinta e quarenta do século XX chegaram ao Hermitage obras de arte oitocentista e novecentista.  
No final do século XIX, Serjei Ivanovic  Schukin e Abramovic Morozov descobriram a pintura dos impressionistas ainda desconhecida na Rússia. Ambos adoravam Matisse e ambos acreditavam no cubismo de Picasso. Especialmente Morozov tratou de compor uma coleção que pudesse configurar uma galeria completa e ideal de pintura ocidental entre os século XIX e XX.
No entanto, todos estes quadros foram nacionalizados no decurso da revolução vermelha de Outubro de 1917 e as duas coleções foram transferidas em 1923 para o Museu de Arte Moderna Ocidental de Moscovo.

Durante alguns anos, os quadros destas coleções andaram a viajar entre Leninegrado e Moscovo e alguns foram vendidos secretamente em mercados ocidentais.
Depois da II Guerra Mundial, muitas destas obras foram enviadas para a Sibéria, pois o regime comunista soviético considerava-as “um perigoso antro de ideias politicamente nocivas”, “portadoras de conceções estranhas burguesas e formalistas” para a arte soviética.
O património do Hermitage foi então dividido de maneira algo arbitrária entre o Museu Pushkin e o Museu Hermitage. Este último, mesmo contando obras de inestimável valor, só após a morte de Estaline, em 1953, as tornou acessíveis ao público.

De resto, foi preciso esperar pela década de sessenta do século passado para que a maioria das pinturas "modernas" saíssem dos depósitos e voltassem a mostrar toda a sua luz, cores e ideias nas salas do museu, sendo assim restituídas à admiração do público russo e, na sequência, dos visitantes estrangeiros. 

Gabriel Vilas Boas

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