O Reinado de Catarina
II, na Rússia, ficou assinalado por um extraordinário incremento das coleções do Império
Russo e está na origem do imenso património que o Museu do Hermitage
atualmente detém.
A czarina, desde
sempre, consagrou particular atenção à arte, que soube habilmente usar como
instrumento de poder e de prestígio político desde o primeiro dia da sua
ascensão ao trono.
A criação duma rica
coleção de arte era vista por Catarina II como uma manifestação tangível do poderia
económico da coroa russa. Nesse sentido, Catarina promoveu uma extraordinária
campanha de aquisição de obras de arte a que se dedicou durante várias décadas.
As primeiras
aquisições ocorreram em 1764, mas foi em 1772 que se efetivou a mais importante
aquisição: a riquíssima coleção do banqueiro parisiense Pierre Crozat, mediada
por Denis Diderot, de quem Catarina II se considerava discípula. Na verdade, as
inseguranças de Catarina em matéria de arte levaram-na a procurar conselho
junto de vários especialistas.
As coleções adquiridas
pela czarina eram levadas para a Rússia por via marítima, mas nem sempre o
transporte chegava a bom termo, como aconteceu em 1771, quando a importante
coleção de Gérard Braakamp se perdeu. Uma vez no destino, as obras eram
colocadas no mezanino do palácio chamado "Pequeno Hermitage", que mais tarde se uniu ao novo Hermitage
(conhecido hoje como “Velho”). Aí eram expostas segundo um critério de agrado
estético mas também de decoro, de tal forma que a célebre “Danae” de Rembrandt
acabou nas águas-furtadas devido à sua impressiva carga erótica.
Catarina também fez
coleção de esculturas, que colocava na sua residência de verão, em Zarskoje
Selo. Para aí seria levado “O Retrato de Voltaire Sentado”, de Houdon, ficando
na digna companhia de conhecidas estátuas da Antiguidade como “Antinoo” e “Apolo
Belvedere”.
Catarina não adquiriu
apenas obras do Renascimento e do Barroco, mas também de artistas contemporâneos,
conseguindo manter o elevadíssimo nível das coleções. Isto não seria continuado
pelos seus sucessores, pois só nas décadas de trinta e quarenta do século XX
chegaram ao Hermitage obras de arte oitocentista e novecentista.
No final do século
XIX, Serjei Ivanovic Schukin e Abramovic
Morozov descobriram a pintura dos impressionistas ainda desconhecida na Rússia.
Ambos adoravam Matisse e ambos acreditavam no cubismo de Picasso. Especialmente
Morozov tratou de compor uma coleção que pudesse configurar uma galeria
completa e ideal de pintura ocidental entre os século XIX e XX.
No entanto, todos
estes quadros foram nacionalizados no decurso da revolução vermelha de Outubro de 1917 e as duas coleções foram transferidas em 1923 para o Museu de Arte Moderna
Ocidental de Moscovo.
Durante alguns anos,
os quadros destas coleções andaram a viajar entre Leninegrado e Moscovo e
alguns foram vendidos secretamente em mercados ocidentais.
Depois da II Guerra Mundial,
muitas destas obras foram enviadas para a Sibéria, pois o regime comunista
soviético considerava-as “um perigoso antro de ideias politicamente nocivas”, “portadoras
de conceções estranhas burguesas e formalistas” para a arte soviética.
O património do
Hermitage foi então dividido de maneira algo arbitrária entre o Museu Pushkin e
o Museu Hermitage. Este último, mesmo contando obras de inestimável valor, só
após a morte de Estaline, em 1953, as tornou acessíveis ao público.
De resto, foi preciso
esperar pela década de sessenta do século passado para que a maioria das
pinturas "modernas" saíssem dos depósitos e voltassem a mostrar toda a sua luz,
cores e ideias nas salas do museu, sendo assim restituídas à admiração do
público russo e, na sequência, dos visitantes estrangeiros.
Gabriel Vilas Boas
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