Hoje não escreverei
sobre Teatro. Decidi dedicar o post deste dia às palavras e à sua “face oculta”,
secreta e íntima, ou seja, a sua etimologia.
Começarei pela letra
A e resolvi escolher a palavra AMUAR.
É certo que quem tem
por norma amuar face a uma contrariedade não vai gostar muito de ler este texto
ou então pensará melhor antes de voltar a amuar…
A palavra aparece pela
primeira vez no século XVI e tem origem na raiz mu(l)- do latim mulus: “mulo” e “mula”, ou seja o animal
resultante do cruzamento de um burro com uma égua ou de um cavalo com uma
burra.
O amuo (comportamento
de quem amua) é a reação, não raramente excessiva, daquele que procura expressar
o seu descontentamento, ofensa ou melindre, através de silêncios prolongados e
ataques de mau humor. Presume-se que quem assim procede age como um mulo ou uma
mula.
Quer em Portugal quer
no Brasil, estes dois substantivos são usados com valor pejorativo: “mulo” é
sinónimo de homem viril, com muitas mulheres mas sem filhos; “mula” significa espertalhão, dissimulado.
Não é menos frequente
falar-se em “amuo de namorados” com o sentido de “arrufos” ou “desentendimentos
passageiros”; ou em “amarrar/prender o burro”, isto é, ficar aborrecido.
Por outro lado, o verbo “amuar” significa teimar com insistência e pode ainda fazer referência ao
comportamento dos animais que, em virtude de maus tratos ou cansaço, deixam de
reagir, apesar de todos os esforços para que se movam. É talvez devido a esta
atitude que se utiliza a expressão “ser teimoso como uma mula”, para aludir à
obstinação de alguém por uma determinada ideia, do qual ninguém o consegue
demover.
Acho que daqui em diante
haverá menos gente a amuar, a não ser que seja teimoso que nem uma mula e resolva
amarrar o burrinho em prole do direito ao amuo!
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