Etiquetas

sábado, 14 de fevereiro de 2015

DA ARTE, DA PINTURA, DE JOAN MIRÓ E AS CONSTELAÇÕES

“Mais importante do que a obra de arte propriamente dita é o que ela vai gerar. A arte pode morrer; um quadro desaparecer. O que conta é a semente.” Joan Miró Ferrá, 1893-1983

       Joan Miró, Números e Constelações em Amor com uma Mulher,1941,aguarela e gouache s/papel

Joan Miró  dominava a cor como ninguém. Talvez isto se explique pelas primeiras influências que recebeu do Pós-Impressionismo, do Fauvismo, de Cézanne... A influência cubista é também visível na sua obra pela existência da geometria e de linhas angulosas tão ao gosto de Picasso, Gris ou Bracque.
Surrealista, definia igualmente como  seu  o objetivo de chegar ao “puro automatismo... para exprimir... o verdadeiro processo do pensamento... liberto do exercício da Razão e de qualquer finalidade estética ou moral. ”A ideia surrealista de que era possível transpor um sonho do subconsciente para a tela, sem a intervenção consciente do artista não resultou na prática, mas Miró executou muitas das suas obras sob o efeito da fome.
Na obra que vos trago hoje, produzida em 1941 e uma das mais conhecidas do pintor, evidencia-se já uma clara tendência de Miró para encher toda a superfície da tela, em composição colorida de elementos e figuras fabulosas ou criaturas sub-humanas. Integrada na série “Constelações” e produzida em plena Segunda Guerra Mundial, quase que convoca todas as forças do Universo para denunciar um dos maiores cenários de terror do séc. XX.
O olho é uma constante presença nas suas obras,  aqui com algum toque de feminilidade.
Estas suas obras consagram a plena aceitação de Miró no grupo surrealista de André Breton, que chegou a afirmar de Miró que ele, com a sua imensa imaginação, era o mais surrealista de todos.
As suas obras são fascinantes pelo detalhe que confere às suas composições, realizadas em cores primárias e onde aparecem em profusão criaturas carregadas de simbologia tão ao gosto de um El Bosco ou de um Brughel.
A sua pintura detalhista é exuberante. Dizia que lhe interessava trazer para a tela a caligrafia de uma árvore, de uma folha, de um tronco... retratada até à exaustão.
A cor traz ritmo e dinamismo ao espaço invadido pelos signos figurativos que importa analisar com atenção: estrelas, círculos, linhas curvas em equilíbrios complexos. E o olhar feminino ao centro, talvez a pedir que Cupido não erre o alvo e lhe permita ser muito feliz em Números e Constelações em Amor com uma Mulher.
Talvez esta tela conte uma verdadeira história de amor, envolvente e carinhosa, em jogo galáctico de equilíbrios e desiquilíbrios, onde as estrelas ditam o destino de todos os corações. Para nós, fica o desafio de a adivinhar, em dia de S. Valentim.

Rosa Maria Fonseca

Sem comentários:

Enviar um comentário