A
escola pública portuguesa enfrenta um drama semelhante à da sociedade
portuguesa: tornar-se uma escola do oito e do oitenta, ou seja, uma minoria de
alunos obtém resultados muito bons e tem um nível de conhecimento elevadíssimo
enquanto uma imensa maioria demonstra uma confrangedora preparação académica
para a vida, cumprindo penosamente a escolaridade obrigatória, ao ritmo do
caracol, que só uma avaliação “amiga” e pressionada pelo cumprimento dos
objetivos do abandono escolar não conduz à reprovação.
A
escola pública tem ainda uma classe docente que fez a sua formação inicial há
mais de duas décadas, numa altura em que o mundo informático dava os primeiros
passos. Os métodos de muitos professores estão ultrapassados e em muitos casos
não conseguem oferecer soluções ao maravilhoso mundo dos extremos em que se
torna a escola pública portuguesa.
As respostas
que a tutela e as direções das escolas vão dando ao problema são bem-intencionadas,
mas não são uma política concertada, pensada, estruturada de resposta ao
problema.
O
primeiro desafio que a escola pública portuguesa enfrenta é ter gente
qualificada em número suficiente para dar resposta aos diversos tipos de alunos
que atualmente cumprem o ensino obrigatório. Faltam profissionais qualificados para
tratar dos alunos com Necessidades Educativas Especiais, faltam psicólogos nas
escolas, faltam assistentes operacionais. E falta reciclar o método de ensino,
de alto a baixo. Não falo das degradantes condições físicas de algumas escolas, onde não
existe dinheiro para substituir coberturas com trinta e quarenta anos por
outras que não ponham em causa a saúde futura de alunos, professores e
funcionários, porque esse não é o principal problema.
Os
professores não podem exercer funções para as quais não estão preparados só
porque têm um jeitinho especial para gerir conflitos ou têm piedade dos meninos com défice cognitivo evidente. Os alunos com Necessidades Educativas Especiais são
pobres, pouco informados e pertencem a famílias desestruturadas, pouco
conhecedoras dos seus direitos e deveres, completamente impreparadas para
ajudar os filhos.
O dinheiro que o país tem que gastar com estes alunos é
muito mais do que com os bons alunos e o retorno será menor. Mas temos de fazer
esse investimento se queremos legar aos nossos filhos uma sociedade onde a
igualdade de oportunidades seja a regra e não a exceção.
É um
trabalho longo e difícil que tem de começar no primeiro ciclo e prolongar-se
pelos restantes ciclos de ensino obrigatório, mas com equipas
multidisciplinares, constituídas por gente em número suficiente.
A
manutenção dos melhores alunos na escola pública passa também pela subida
gradual do nível médio das competências dos alunos mais fracos. É preciso recriar
o aluno médio, com aspirações a ser
bom ou muito bom. Há famílias que não podem e não sabem fazer esse trabalho, os
alunos nem o problema pressentem, quem decide faz de conta...
O
voluntarismo dos professores jamais levará sozinho o barco a bom porto,
especialmente quando cada vez mais decidem menos sobre o futuro do ensino e da
escola onde trabalham. Urge planos diferenciados, não tratamentos de favor. Até
porque há muito trabalho a fazer também com os mais capacitados, especialmente ao
nível da falta de humildade e do refrear a louca competição que existe entre
alguns alunos dessa elite.
Numa
entrevista publicada hoje na “Notícias Magazine”, Kate Winslet, atriz talentosa
e premiada, dizia: “Nunca penso em termos de ser a melhor. A minha filha teve
uma boa nota num trabalho e estava triste por não ter sido das melhores. Disse-lhe
que não podia ser. Que essa competição não fazia sentido.”
Não podia estar mais
de acordo.
Gabriel
Vilas Boas
“Nunca penso em termos de ser a melhor. A minha filha teve uma boa nota num trabalho e estava triste por não ter sido das melhores. Disse-lhe que não podia ser. Que essa competição não fazia sentido.”
ResponderEliminarNão sei se percebo bem o que Kate quer dizer porque me parece que aqui há duas ideias misturadas. A competição com os outros, para ser melhor do que os outros, de facto não faz sentido. Mas há um outro tipo de competição que faz todo o sentido - a competição que deve existir dentro de nós mesmos e que nos poderá levar a superar fraquezas próprias, a atingir um patamar melhor hoje do que o que alcançamos ontem.
Li a entrevista da Kate e o que ela queria dizer, obviamente, é que a competição com os outros não faz sentido na escola. A competição connosco faz todo o sentido e é uma ideia grega (acho eu) que adoro e que defendo. Como me pareceu evidente aquilo que a Kate queria dizer não adiantei mais nada, mas era, claro, "a competição com os outros", Anabela.
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