Há dias ouvi uma amiga
confidenciar a outra: “Acabámos por decidir manter a nossa relação. Chegámos à
conclusão que aquilo que nos une ainda é mais forte do que aquilo que nos
separa!” Disse-o com um misto de satisfação e alívio, como se a porta do
inferno tivesse acabado de ser transposta. A outra ouviu, em silêncio, e
sorriu. O seu sorriso era forçado mas eloquente. Obviamente não concordava nada
com aquela conclusão, mas não seria ela a dizê-lo. Tinha decidido não opinar
mais sobre a desgastada relação dos amigos.
Não é difícil explorar
o que há de bom (comum) numa relação. O difícil é aprender a incorporar e a
superar as diferenças (o mau)! A razão parece-me óbvia: um não quer ou até os
dois não querem! Não alinho muito pela tese da incapacidade ou pela tese do
medo ao desconhecido (“Não sei onde isto me vai levar!”).
Há dias, uma mãe,
irritada, esclarecia uma jovem filha ávida de encontrar namorado: “Difícil não
é arranjares um namorado; difícil é queres ficar toda a vida com ele.” Sim, o
mais difícil é manter uma relação, especialmente quando ela se desgastou a um
nível em que só as circunstâncias a mantêm!
Às vezes, tendemos a
concluir, erradamente, que as circunstâncias são “aquilo que nos une”, mas não
são. São apenas as circunstâncias ou um somatório de medos e incertezas. O medo
da solidão, a degradação da situação económica, o terror de desiludir os
filhos.
Por que será que
ninguém pergunta sobre a força “daquilo que nos separa”? Provavelmente o receio
será o mesmo que consultar o saldo da conta bancária quando o mês se aproxima
do fim. Só que a conta bancária todos os meses tem uma entrada de dinheiro enquanto
muitas relações estão desempregadas há vários meses.
Ver o que nos une é tão
importante como percecionar aquilo que nos separa. Saber/ver as dificuldades
que uma relação atravessa é fundamental. Depois podemos decidir enfrentá-las ou
contorná-las. Felizmente ou infelizmente a opção nunca depende apenas e só de
um.
Encontramo-nos nas
nossas diferenças ou cada um segue o seu caminho? O desafio é estimulante e difícil
qualquer que seja a intenção – fazer uma relação resultar ou ganhar força e
coragem para uma rescisão amigável.
Gabriel Vilas Boas
Li
ResponderEliminarReli.
Identifiquei.
Fiquei com uma questão:
-E quando percebemos que o que nos afasta é sermos pessoas que infelizmente são iguais nas virtudes mas mais iguais ainda nos defeitos? Quando as virtudes nos permitem olhar para dentro um do outro e para dentro de nós mesmos e identificar esses defeitos e perceber que eles não nos permitem viver em paz juntos?
Que muitas vezes não nos permitem viver em paz com nós mesmos?
Quando as virtudes deveriam fazer-nos sentir companheirismo mas os defeitos nos fazem bater de frente a qualquer momento, a qualquer hora em qualquer lugar?
Deixar de ver um caminho de paz juntos?
DOIS BICUDOS NÃO SE BEIJAM...
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