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domingo, 29 de novembro de 2015

AQUILO QUE NOS UNE OU AQUILO QUE NOS SEPARA?


Há dias ouvi uma amiga confidenciar a outra: “Acabámos por decidir manter a nossa relação. Chegámos à conclusão que aquilo que nos une ainda é mais forte do que aquilo que nos separa!” Disse-o com um misto de satisfação e alívio, como se a porta do inferno tivesse acabado de ser transposta. A outra ouviu, em silêncio, e sorriu. O seu sorriso era forçado mas eloquente. Obviamente não concordava nada com aquela conclusão, mas não seria ela a dizê-lo. Tinha decidido não opinar mais sobre a desgastada relação dos amigos.

           
Não vem nos livros, mas poucos ignoram como a voragem do tempo gasta e degasta as relações entre as pessoas, sobretudo as amorosas. Talvez seja fácil e cómodo responsabilizar algo externo e indefinido (como “a voragem do tempos modernos”) pelo falhanço de muitas relações, mas é o mais comum. Apetece-me por isso voltar à conversa entre as duas amigas: “Aquilo que nos une é mais importante que aquilo que nos separa!”  É mesmo assim? E quando é ao contrário? Também concluímos com a mesma eficácia e agimos em conformidade? Não me parece…
Não é difícil explorar o que há de bom (comum) numa relação. O difícil é aprender a incorporar e a superar as diferenças (o mau)! A razão parece-me óbvia: um não quer ou até os dois não querem! Não alinho muito pela tese da incapacidade ou pela tese do medo ao desconhecido (“Não sei onde isto me vai levar!”).

Há dias, uma mãe, irritada, esclarecia uma jovem filha ávida de encontrar namorado: “Difícil não é arranjares um namorado; difícil é queres ficar toda a vida com ele.” Sim, o mais difícil é manter uma relação, especialmente quando ela se desgastou a um nível em que só as circunstâncias a mantêm!

Às vezes, tendemos a concluir, erradamente, que as circunstâncias são “aquilo que nos une”, mas não são. São apenas as circunstâncias ou um somatório de medos e incertezas. O medo da solidão, a degradação da situação económica, o terror de desiludir os filhos.
Por que será que ninguém pergunta sobre a força “daquilo que nos separa”? Provavelmente o receio será o mesmo que consultar o saldo da conta bancária quando o mês se aproxima do fim. Só que a conta bancária todos os meses tem uma entrada de dinheiro enquanto muitas relações estão desempregadas há vários meses.

Ver o que nos une é tão importante como percecionar aquilo que nos separa. Saber/ver as dificuldades que uma relação atravessa é fundamental. Depois podemos decidir enfrentá-las ou contorná-las. Felizmente ou infelizmente a opção nunca depende apenas e só de um.
Encontramo-nos nas nossas diferenças ou cada um segue o seu caminho? O desafio é estimulante e difícil qualquer que seja a intenção – fazer uma relação resultar ou ganhar força e coragem para uma rescisão amigável.

Gabriel Vilas Boas

2 comentários:

  1. Li
    Reli.
    Identifiquei.
    Fiquei com uma questão:
    -E quando percebemos que o que nos afasta é sermos pessoas que infelizmente são iguais nas virtudes mas mais iguais ainda nos defeitos? Quando as virtudes nos permitem olhar para dentro um do outro e para dentro de nós mesmos e identificar esses defeitos e perceber que eles não nos permitem viver em paz juntos?
    Que muitas vezes não nos permitem viver em paz com nós mesmos?
    Quando as virtudes deveriam fazer-nos sentir companheirismo mas os defeitos nos fazem bater de frente a qualquer momento, a qualquer hora em qualquer lugar?
    Deixar de ver um caminho de paz juntos?

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