Esta grande tela, pintada em 1811, foi a
última obra que Ingres completou enquanto estudante em Roma. Nela vemos
Júpiter, o supremo deus da antiguidade, sentado no seu imperial trono no reino
dos céus.
O deus tem um cetro na mão direita e o seu
braço esquerdo repousa sobre uma nuvem. Uma águia ao seu lado observa-o
atentamente. Esta poderosa águia era o atributo de Júpiter devido à sua grande
força, velocidade e voo alto.
Júpiter ignora as atenções ardentes de
Tétis, já que tinha sido profetizado que a
descendência da sua união acabaria por o usurpar. Para o impedir, Júpiter
ordenou que ela casasse com um mortal chamado Peleu. À esquerda, a ciumenta
mulher de Júpiter, Juno, observava a cena com suspeição.
Ingres enviou esta obra, para ser
criticada em Paris, em 1811, onde foi fortemente censurado pela falta de relevo
e pelas curiosas proporções das suas figuras. No entanto, vinte e três anos
depois (1834), esta obra viria a ser adquirida pelo estado francês, numa prova
inequívoca do seu valor artístico.
Tétis e Júpiter são os elementos centrais
do quadro de Ingres. A história destes dois seres da mitologia romana não
começara sob os melhores auspícios. Uma profecia afirmava que Tétis (a mais
encantadora das Nereides) daria à luz um filho que havia de superar o pai. Ora
Júpiter não estava disposto a ser superado por ninguém e por isso ordenou a
Tétis que desposasse Peleu. Embora Tétis tentasse que o enlace não se
concretizasse, transformando-se primeiro em pássaro e depois em tigre, Peleu acabou
por arrebatá-la.
Durante o casamento de Peleu e Tétis, a
Discórdia atirou uma maçã de ouro como prémio para a mais bela das deusas ali
presentes: Vénus, Minerva e Juno. Este ato conduziu ao chamado “julgamento de Páris”,
que acabaria por provocar a Guerra de Troia.
Aquiles, herói da Guerra de Troia, era o
filho de Tétis e Peleu. Na Ilíada,
Homero conta como o filho de Tétis foi insultado por Agamémnon e como Tétis se
ergueu das profundezas dos mares para se deslocar ao Olimpo e suplicar a Júpiter
que vingasse o seu filho. O quadro de Ingres refere-se a esse pedido de Tétis
que a Ilíada relata do seguinte modo:
“Pai Zeus (Júpiter), se alguma vez entre os imortais eu te ajudei, por palavra ou gesto, realiza esta oração: honra o meu filho, que está destinado a uma morte mais cedo que a de qualquer homem; ainda agora Agamémnon, rei de homens, o desonrou, pois ele tomou e mantém seus troféus com seu ato arrogante. Todavia honra-o, Zeus olímpico, senhor do conselho; e dá poder aos troianos, até que os aqueus prestem homenagens ao meu filho e o elevem com recompensas.”
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