Gustave Moreau foi uma figura maior no movimento
Simbolista, produzindo imagens visionárias e emocionalmente fortes. As fontes, que serviram de base à sua obra, variavam desde a pintura renascentista
italiana até à arte bizantina. Ao usar fortes camadas de tinta, criou um efeito
como que de joias incrustadas, representando cenas fantásticas cheias de
personagens religiosas, históricas e mitológicas.
Esta
tela (1894-95) é típica do estilo elaborado de Moreau e mostra um Júpiter
impassível sentado num trono fortemente ornamental, indiferente a Sémele, que
está deitada nua atravessada no seu colo. Sémele tinha pedido ao deus para que
este lhe permitisse observá-lo em todo o resplendor da sua divindade e, de
acordo com Moreau “foi atingida pelo paroxismo de êxtase divino” quando o viu.
Júpiter está enfeitado com joias: um conjunto de pérolas adorna-lhe a testa e o
cabelo, no pescoço e no peito brilham peças preciosas. O seu braço repousa
sobre uma lira, um atributo habitual do deus dos céus, enquanto o seu atributo
mais comum, a águia, está de algum modo perdida no fundo da tela. Aos pés do
trono, Moreau pintou figuras representando a Morte e a Dor, que ele explicou
serem a base trágica da vida humana. Não longe deles, sob as asas da águia de
Júpiter, o grande deus Pã (símbolo da Terra) inclina o semblante entristecido.
A Sombra e a Miséria, os enigmas da escuridão, encontram-se aos pés de Pã.
Além de Júpiter, outro elemento-chave
desta pintura de Moreau é Sémele. Filha de Cadmo, rei de Tebas, Sémele era
amada por Júpiter. Mas quando Juno, mulher do pai dos deuses, descobriu a
infidelidade do marido, persuadiu Sémele a pedir a Júpiter para lhe aparecer em
toda a sua glória, tal como fazia com a própria Juno. Infelizmente, a estrutura
mortal de Sémele não conseguiu aguentar o abraço do deus e os relâmpagos deste
transformaram-na em cinzas. O filho de ambos, Baco, foi-lhe arrancado do ventre
antes de ela morrer e foi introduzido na coxa de Júpiter até nascer.
Sem comentários:
Enviar um comentário