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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

SE A ESCOLA PODE FAZER A DIFERENÇA, ENTÃO, POR QUE NÃO FAZ?



Numa entrevista ao DN, hoje, David Justino diz que “As Escolas e os Professores podem fazer a diferença e atenuar o efeito da origem social”. Poder, podem, mas isso acontece cada vez menos.  
Essa missão da Escola foi sendo abandonada politicamente nos últimos vinte anos, com a conivência da população, sobretudo dos pais e encarregados de educação dos alunos mais carenciados.

A ideia de que a Escola pode atenuar as diferenças sociais é uma ideia muito nobre, que os professores abraçaram de alma e coração, mas que foi desvirtuada quando o poder político deixou de investir na Escola Pública e passou a desviar cada vez mais fundos para o ensino privado. Sejamos claros: não é o ensino privado que tenta aproximar as classes sociais. O ensino privado aponta à excelência, à diferenciação, a estratificação. Quanto mais se investir no ensino privado, mais se acentua a diferença cavada na origem social. David Justino foi Ministro da Educação de um governo de direita; foi presidente do Conselho Nacional de Educação de Educação num tempo em que mais dinheiro houve para o ensino privado. Por isso a sua afirmação soa-me a hipocrisia.
No entanto, nem acho que os grandes responsáveis sejam os políticos. Na minha opinião, são alunos mais carenciados e as suas famílias os grandes respinsáveis. A Escola Pública portuguesa foi (ainda é) o seu mais valioso passaporte para fugir à mediocridade social, económica e cultural. E que fazem esses alunos? Estão-se a marimbar para a Escola! A maioria deles não explora as suas capacidades, não aproveita a excelente matéria-prima ao seu dispor - os professores – e ainda cria frequentemente problemas de disciplina, que consomem tempo, recursos, paciência, motivação.

Não são apenas os professores que motivam e melhoram os seus alunos, mas também os alunos tornam os seus professores melhores, quando a sua curiosidade de saber mais os desafia. A maioria dos alunos (e dos seus pais) não percebe como estão a perder uma oportunidade de ouro para as suas vidas, investindo na Escola e na aprendizagem que esta proporciona gratuitamente.
A Escola não faz a diferença, também porque os alunos não querem, prejudicando-se! A Escola é a única maneira decente que os pobres têm de subir na vida, de furarem um destino traçado e muitas vezes injusto. As culpas dos professores são algumas, mas bem menores que a dos alunos e de alguns governantes, que sonsamente aproveitaram os desleixo e a ignorância dos mais pobres, para ir tornando a Escola Pública uma escola de serviços mínimos.

Gabriel Vias Boas

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

PRÉMIOS DE MÉRITO NA ESCOLA PÚBLICA


Hoje, o Agrupamento de Escolas de que faço parte (Agrupamento de Escolas de Amarante) entrega os prémios de Mérito aos melhores alunos do ano letivo passado. São oitenta alunos que sobem ao palco da escola para receber o seu diploma e respetivos prémios associados (uma estatueta, um livro, um crachá).
É a quarta vez que o Agrupamento promove esta festa, onde os melhores alunos do 4.º, 6.º e 9.º anos são premiados. Recordo como há quatro anos a ideia sofreu resistências por parte de alguns professores, que viam nos quadros de mérito reminiscências do ensino do tempo da ditadura salazarista ou então sugeriam que tais prémios serviam propósitos de estratificação escolar, replicando a estratificação social.

Sempre vi com bons olhos os Prémios de Mérito na escola pública portuguesa. Reconhecer o mérito dos alunos estudiosos, trabalhadores, aplicados é um dever da comunidade e um ato da mais elementar justiça. E não é uma tarefa fácil alcançar tal prémio. Os alunos têm de tirar uma média igual ou superior a 4,5 (numa classificação máxima de cinco) e obter, pelo menos, a classificação de quatro nas provas/exames de Português e Matemática. Além disso, não podem ter qualquer participação disciplinar nem falta injustificada.

Só quem acompanha o trabalho diário deste tipo de alunos percebe quanto eles se sacrificam, quantas horas devotam ao estudo, quantos fins-de-semana passam a estudar para manter um nível tão alto, durante todo o ano escolar.
Esses jovens são um exemplo para os colegas e não há quem discuta, inter pares, o seu mérito. O primeiro e mais importante reconhecimento que estes jovens obtêm vem dos seus colegas. Depois chega o reconhecimento dos professores, da direção da escola, dos pais, da comunidade.
Os Prémios de Mérito são também o reconhecimento do trabalho, da persistência, da dedicação de muitos professores que ajudaram os seus alunos a chegar a este patamar de excelência. 

Silenciosamente, gozam o momento, apreciam aqueles rapazes e raparigas, que ajudaram a crescer, recebendo as palmas da plateia repleta e sentem-se, um bocadinho, também merecedores delas. Muitas vezes são estes jovens o combustível que os faz trabalhar melhor, que os desafia, que os faz sentir minimamente realizados numa profissão tão causticada e tão desconsiderada pela sociedade.
Nos últimos anos chamei ao palco centenas de alunos amarantinos, citei os seus nomes por completo, debaixo das palmas de colegas, professores, familiares, entidades públicas locais e senti-lhes aquele lindo brilho nos olhos que trazem as pessoas felizes. Desfrutar desses momentos é um dos raros prazeres que a profissão de professor ainda encerra.

Gabriel Vilas Boas

domingo, 8 de novembro de 2015

ESCOLA PÚBLICA: ENTRE O OITO E O OITENTA



A escola pública portuguesa enfrenta um drama semelhante à da sociedade portuguesa: tornar-se uma escola do oito e do oitenta, ou seja, uma minoria de alunos obtém resultados muito bons e tem um nível de conhecimento elevadíssimo enquanto uma imensa maioria demonstra uma confrangedora preparação académica para a vida, cumprindo penosamente a escolaridade obrigatória, ao ritmo do caracol, que só uma avaliação “amiga” e pressionada pelo cumprimento dos objetivos do abandono escolar não conduz à reprovação.

A escola pública tem ainda uma classe docente que fez a sua formação inicial há mais de duas décadas, numa altura em que o mundo informático dava os primeiros passos. Os métodos de muitos professores estão ultrapassados e em muitos casos não conseguem oferecer soluções ao maravilhoso mundo dos extremos em que se torna a escola pública portuguesa.
As respostas que a tutela e as direções das escolas vão dando ao problema são bem-intencionadas, mas não são uma política concertada, pensada, estruturada de resposta ao problema.
O primeiro desafio que a escola pública portuguesa enfrenta é ter gente qualificada em número suficiente para dar resposta aos diversos tipos de alunos que atualmente cumprem o ensino obrigatório. Faltam profissionais qualificados para tratar dos alunos com Necessidades Educativas Especiais, faltam psicólogos nas escolas, faltam assistentes operacionais. E falta reciclar o método de ensino, de alto a baixo. Não falo das degradantes condições físicas de algumas escolas, onde não existe dinheiro para substituir coberturas com trinta e quarenta anos por outras que não ponham em causa a saúde futura de alunos, professores e funcionários, porque esse não é o principal problema.
Os professores não podem exercer funções para as quais não estão preparados só porque têm um jeitinho especial para gerir conflitos ou têm piedade dos meninos com défice cognitivo evidente. Os alunos com Necessidades Educativas Especiais são pobres, pouco informados e pertencem a famílias desestruturadas, pouco conhecedoras dos seus direitos e deveres, completamente impreparadas para ajudar os filhos. 

O dinheiro que o país tem que gastar com estes alunos é muito mais do que com os bons alunos e o retorno será menor. Mas temos de fazer esse investimento se queremos legar aos nossos filhos uma sociedade onde a igualdade de oportunidades seja a regra e não a exceção.
É um trabalho longo e difícil que tem de começar no primeiro ciclo e prolongar-se pelos restantes ciclos de ensino obrigatório, mas com equipas multidisciplinares, constituídas por gente em número suficiente.
A manutenção dos melhores alunos na escola pública passa também pela subida gradual do nível médio das competências dos alunos mais fracos. É preciso recriar o aluno médio, com aspirações a ser bom ou muito bom. Há famílias que não podem e não sabem fazer esse trabalho, os alunos nem o problema pressentem, quem decide faz de conta...


O voluntarismo dos professores jamais levará sozinho o barco a bom porto, especialmente quando cada vez mais decidem menos sobre o futuro do ensino e da escola onde trabalham. Urge planos diferenciados, não tratamentos de favor. Até porque há muito trabalho a fazer também com os mais capacitados, especialmente ao nível da falta de humildade e do refrear a louca competição que existe entre alguns alunos dessa elite.
Numa entrevista publicada hoje na “Notícias Magazine”, Kate Winslet, atriz talentosa e premiada, dizia: “Nunca penso em termos de ser a melhor. A minha filha teve uma boa nota num trabalho e estava triste por não ter sido das melhores. Disse-lhe que não podia ser. Que essa competição não fazia sentido.” 
Não podia estar mais de acordo.

Gabriel Vilas Boas