Numa entrevista ao DN, hoje,
David Justino diz que “As Escolas e os Professores podem fazer a diferença e
atenuar o efeito da origem social”. Poder, podem, mas isso acontece cada vez
menos.
Essa missão da Escola foi
sendo abandonada politicamente nos últimos vinte anos, com a conivência da população,
sobretudo dos pais e encarregados de educação dos alunos mais carenciados.
A ideia de que a Escola pode
atenuar as diferenças sociais é uma ideia muito nobre, que os professores
abraçaram de alma e coração, mas que foi desvirtuada quando o poder político
deixou de investir na Escola Pública e passou a desviar cada vez mais fundos
para o ensino privado. Sejamos claros: não é o ensino privado que tenta
aproximar as classes sociais. O ensino privado aponta à excelência, à
diferenciação, a estratificação. Quanto mais se investir no ensino privado,
mais se acentua a diferença cavada na origem social. David Justino foi Ministro
da Educação de um governo de direita; foi presidente do Conselho Nacional de
Educação de Educação num tempo em que mais dinheiro houve para o ensino privado. Por isso a
sua afirmação soa-me a hipocrisia.
No entanto, nem acho que os
grandes responsáveis sejam os políticos. Na minha opinião, são alunos mais
carenciados e as suas famílias os grandes respinsáveis. A Escola Pública portuguesa foi (ainda é) o seu
mais valioso passaporte para fugir à mediocridade social, económica e cultural.
E que fazem esses alunos? Estão-se a marimbar para a Escola! A maioria deles
não explora as suas capacidades, não aproveita a excelente matéria-prima ao seu
dispor - os professores – e ainda cria frequentemente problemas de disciplina,
que consomem tempo, recursos, paciência, motivação.
Não são apenas os professores
que motivam e melhoram os seus alunos, mas também os alunos tornam os seus
professores melhores, quando a sua curiosidade de saber mais os desafia. A
maioria dos alunos (e dos seus pais) não percebe como estão a perder uma
oportunidade de ouro para as suas vidas, investindo na Escola e na aprendizagem
que esta proporciona gratuitamente.
A Escola não faz a diferença, também porque os alunos não querem, prejudicando-se! A Escola é a única maneira
decente que os pobres têm de subir na vida, de furarem um destino traçado e
muitas vezes injusto. As culpas dos professores são algumas, mas bem menores
que a dos alunos e de alguns governantes, que sonsamente aproveitaram os
desleixo e a ignorância dos mais pobres, para ir tornando a Escola Pública uma
escola de serviços mínimos.
Gabriel Vias Boas
Nem mais!
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