A palavra “mas” é das palavras
mais mal usadas na sintaxe do português. Usa-se muitas vezes sem critério, sem
reflexão, sem propósito, subvertendo por
completo o seu sentido – introduzir uma ideia/oração de sentido contrário à
antecedente.
Mas pior que
o seu mau uso é o efeito que ela produz. Quem já não experimentou o anticlímax,
altamente destrutivo do “mas” ao ouvir:
Tens imenso talento, mas falta-te uma melhor afinação de
voz; O seu curriculum é extraordinário, mas não estamos a contratar;
Tens imensas qualidades, mas
deixei de gostar de ti; Obtiveste ótimos resultados, mas não sabes tocar piano como a filha da minha colega…
Usamos o “mas” para nos desculparmos, para iludir a nossa
falta de coragem, para assumir uma escolha, um gosto, um corte de relações.
Para quem ouve, aquele “mas” é igual a um “não”. Querem lá
saber que apareça vestido caridosamente de “mas”.
Há momentos em que devemos deixar o “mas” no dicionário e
começar a nossa frase pelo “Não” que queremos dizer.
A um adversário podemos dar luta, mas há “mas” que apenas
têm pena de ti, que te tentam amaciar a tristeza ou a fúria.
Quem usa este “mas” não é nenhum tonto ou ignorante, antes
conhece perfeitamente o sentido correto da conjunção. Saber usar as palavras
certas no momento certo não pode ser apenas uma arte, também tem de ter um
sentido ético e humano. Há momentos em que o “mas” não faz falta nenhuma.
Gavb
Sem comentários:
Enviar um comentário