As rotinas de cada um de nós não nascem por acaso: cada um
escolheu a sua, no momento em que fez determinadas opções de vida.
No início tudo era fantástico:
levar os filhos à escola, os desafios do emprego novo, o almoço com a colega de
trabalho, o ginásio, a ida ao cinema a meio da semana, o jantar de família ao
domingo, a natação da filha três vezes por semana, o futebol do rapaz ao fim de
semana. Até a arrumação da casa libertava o stresse.
O pior veio depois: cada uma
destas atividades instalou-se, tomando conta do nosso tempo, fazendo exigências e afinal não
gostávamos delas assim tanto. Gostávamos da imagem que projetavam de nós,
gostávamos delas como um hobby, que aparece de tempos a tempos e depois “desampara-nos
a loja”. Ou então até gostamos de todas elas, porque vêm embrulhadas nas
pessoas que amamos, só que nos sentimos exaustos, pois não há uma pausa, um
obrigado, um “hoje não precisas de me ir buscar; eu cá me arranjo”. Sentimos
que nos “utilizam” e que a nossa vida já não é nossa.
Lembrar dos outros não é
esquecer de nós! Dizer “não”, uma vez por outra, faz-nos bem e não é sinal de
menos amor nem desinteresse; é dizer ao filho, ao marido, à amiga, ao emprego,
ao ginásio – “Hoje vou fazer algo que me apetece!”. Veremos então que o mundo
dos outros não desabou, que eles lá se arranjaram sem nós, que a nossa importância
era menos importante do que julgávamos.
No dia seguinte, tudo voltará à rotina
que certo dia criámos para nós, mas a pausa que nela fizemos esvaziou grande
parte da angústia e frustração acumuladas, que trazíamos no peito.
A vida precisa tanto da regra
como da exceção. Não foram os outros que criaram a regra, também não serão elas
a oferecer-nos a exceção.
Gavb
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