Há dias li uma notícia sobre o número crescente de famílias
que passam o Natal num hotel. A notícia não me surpreendeu, apesar de não me
agradar. Há uns anos, estaríamos a falar de um nicho de mercado e
encontraríamos explicações como a solidão de pessoas desavindas da família ou
sem gente próxima que as convidassem para a noite mais bela e familiar do ano.
Não é disso que se trata agora.
Famílias inteiras optam por consoar num hotel. Por que o
fazem? Muitos falam de um “Natal descansado”, outros falam de uma “casa pequena”,
mas a realidade é mais profunda do que circunstancial.
No passado, o prazer de estar junto dos familiares (pais,
filhos, irmãos, tios, sobrinhos, primos, avós…) era superior a todos os
inconvenientes logísticos. As tarefas dividiam-se e até se encontrava alguma
alegria na partilha. À medida que cresceu o nível de conforto, as relações foram
perdendo intensidade. A família ficou reduzido ao núcleo restrito de todos os
dias e os convites não vão além do “obrigatório”.
A noite de Natal é um espelho interessante do estilo de
vida que imprimimos às nossas relações e àquilo que valorizamos nelas. Não é
surpreendente este estilo mais confortável, glamouroso e fashion, mas tenho
dúvidas que todos se sintam em casa, porque o Natal também é a memória das
famílias e as nossas memórias estão normalmente ligadas à casa de família.
Mais do que uma festa bonita e descansada, o Natal é uma
festa autêntica. Gosto de ver miúdos a correr pela casa, gosto de ouvir aquela
tia solteira ou viúva que não perde uma missa do Galo desde que se conhece, gosto de
gente a cair de sono rapidamente enquanto outros não param de pôr a conversa de
meses em dia; gosto de observar os comentários que as mulheres tecem acerca da
qualidade da variada e farta doçaria de Natal e, sobretudo, gosto da ver a paz
e a alegria no olhar da gente reunida à volta da mesa.
Tudo isto é possível num hotel? É, mas em “nossa” casa é
outra coisa!
Gabriel Vilas Boas
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