O testamento mais valioso que podemos deixar não está
guardado no gabinete de nenhum notário ou advogado, nem se abre apenas à morte
do benfeitor.
Mais do que uma herança, é um testemunho. O testamento, que
me interessa legar, é aquilo que quero que fique de meu para alguém que muito
estimo. Quero que lhe seja útil por muito tempo e o faça viver melhor.
Ainda que casas, terrenos, ações ou dinheiro possam fazer
muito jeito ou alavancar uma vida próspera, dificilmente isso o fará lembrar-se
de mim com satisfação plena.
Passados alguns anos, todos esses bens ter-se-ão dissipado
ou multiplicado, e o meu testamento será apenas uma memória difusa, esvaindo-se
na ampulheta do tempo.
O único testamento que gostava de legar a alguém que muito
estimasse era um exemplo de coragem, determinação, amizade e empreendedorismo.
É
um texto difícil de escrever. Num único momento posso deixar cair um borrão
sobre o papel ou deixar a obra incompleta…
É bem mais fácil acumular dinheiro ou prédios. Não preciso
de dar o exemplo, não preciso de estar presente, não tenho de o entusiasmar por
um estilo de vida.
Talvez seja mais fácil acumular, mas desse modo não
cumprirei nenhum desejo de imortalidade.
O melhor testamento não é aquele que deixa sem mais, mas
aquele que o beneficiário tem honra em reivindicar.
Gabriel Vilas Boas
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