Há uns anos, poucos antes de entrar para uma conferência,
Mário Soares, em tom descontraído, perguntou a Carlos Magno:
- Ouça
lá, quantos anos você tem?
-
Quarenta.
-
Quarenta?! Aos quarenta, eu era imortal!
Sim, a sensação de imortalidade é o grande truque que nos
faz viver enquanto o mundo dos outros se desmorona. No entanto, ao contrário do
que Mário Soares dizia, é por volta do quarenta anos que a nossa imortalidade
fica mais relativa. Aqueles que amamos abanam, alguns caem, e percebemos o que
significa perder.
E há derrotas que não têm nenhuma lição como brinde, que
sabem profundamente mal, que não encaixamos nem queremos encaixar, que nos
deixam sem grande vontade de levantar e prosseguir caminho.
Não há amigo que nos levante ou companheiro que nos alegre,
porque elas não têm remédio. Na melhor das hipóteses deixam uma grande cicatriz
na alma.
Sabes A., gostava imenso de ter escrito sobre a Fénix
Renascida, de aludir à maravilhosa e incrível história de mais um milagre, mas
não sinto que os tempos sejam de milagres apesar de estarmos no Natal.
Florbela Espanca escreveu, certo dia, o belíssimo soneto “Perdi
os meus fantásticos castelos” que termina de uma maneira sublime:
“Sobem aos meus lábios súplicas estranhas…
Sobre o meu coração pesam montanhas…
Olho assombrada as minhas mãos vazias…”
Quando se perde alguém ou simplesmente se sente que essa
perda está por horas e é inevitável, a sensação de vazio é tão real quanto
insuportavelmente dolorosa. E no entanto, a nossa rainha tinha gostado imenso
que apanhássemos o cetro tombado no chão e mantivéssemos, ao vento, a bandeira do
reino, na mais alta torre do castelo.
Gabriel Vilas Boas
Um abraço Gabriel. Força!
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