Pode dar muito jeito que o presente venha com talão de
troca (especialmente se não sabem o nosso número da roupa), mas o talão retira
toda a beleza e simbologia ao presente. Nessa altura, o presente pouco mais é
do “pega lá neste dinheiro e compra o que te apetecer”. Ora isso já fazemos nós
quando temos um dinheirinho extra.
Como ligaremos um presente a um momento e a uma pessoa se
aquilo que temos não é a ideia original do nosso amigo, marido, familiar, mas
uma troca de conveniência que fizemos?
Ainda que não gostemos especialmente dele, um presente
marca-nos, toca-nos, pois ficamos a saber como o outro nos vê, como pensou em
surpreender-nos agradavelmente, como tentou pôr um sorriso no nosso rosto. Mesmo
quando foi desleixado e comprou qualquer coisa sem sentido, fica a recordação
desse desleixo. Quando procedemos à troca até isso se vai.
Os únicos presentes que recordo são aqueles que revelavam
quanto aquele amigo(a) estava atento aos meus gostos e desejos, bem como à
minha maneira de ser.
Sempre que dizemos a um filho(a) “Aqui tens o catálogo da
Toys r us – escolhe o que quiseres!”, destruímos por completo a magia de receber
um presente. Não foi o pai que lho deu, foi ele que o escolheu.
O pai ou mãe
possivelmente até lhe dizem que nem querem saber o que ele vai escolher, desde
que escolha e não os aborreça.
Aquele filho jamais sentirá que alguém esteve
atento aos seus gostos, que alguém pensou nele além da tradição. Quando o pai,
por azar, lhe voltar a pagar um conjunto de bonecas que ela já teve há dois
anos, perceberá quanto inútil foi ter usado o cartão de crédito do pai em vez do
seu coração ou da sua sensibilidade.
Um presente é um afeto e
os afetos não têm talão de troca, só de retribuição.
GAVB
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