Etiquetas

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TETO DA CAPELA SISTINA, DE MIGUEL ÂNGELO


   Deus estende o braço e com o indicador da sua mão direita tenta tocar Adão e assim criar a humanidade. O espaço entre os dois dedos acentua o dramatismo do momento da criação humana por parte de Deus.
   Neste famoso e maravilhoso fresco de Miguel Ângelo está patente todo o simbolismo, genialidade, perfeição e verdadeiro milagre da arte e da técnica que constitui o teto da capela sistina, no Vaticano, em Roma. A obra é tão perfeita, tão monumental, tão difícil de executar que quem a observa ao vivo ou em imagens pergunta-se repetidamente se foi obra dum mortal ou dum ser divino. Provavelmente, o dedo do criador tocou no pincel de Miguel Ângelo durante aqueles longos quatro anos, entre 1508 e 1512, e fez nascer uma criação artística que é património da humanidade.   
   Há cinco séculos, ao pintor Miguel Ângelo foi colocado um enorme desafio: decorar o teto da capela do palácio do Papa, em Roma. O resultado foi uma assombrosa série de cenas religiosas, onde se destaca a já citada imagem de Deus a criar Adão.

 
   O teto era tão grande e tão alto que muitos duvidaram que Miguel Ângelo conseguisse levar a cabo tão ciclópica tarefa. O esboço final enchia o teto de ponta a ponta com mais de 300 figuras. Para as pintar, Miguel Ângelo passou anos empoleirado no andaime, inclinando penosamente o pescoço para cima enquanto a tinta lhe pingava para o rosto.  Ao final do dia, ele tinha cãibras a tal ponto que mal conseguia ler as cartas que seus familiares lhe enviavam. Miguel Ângelo pagou um preço altíssimo por esses anos de trabalho: a sua visão ficou reduzida e desgastou-se muito. Quando terminou a obra, com apenas 37 anos, estava impressionantemente velho.
   Na pintura do teto da capela sistina, Miguel Ângelo aplicou uma técnica conhecida como fresco, o que implicava aplicar as cores diretamente sobre o estuque ainda não enxuto.
   Convém lembrar que o teto tem uns estonteantes 20 metros de altura. As cores fortes e os contornos definidos tornam mais fácil observar as figuras a partir do chão. Nessas figuras vemos corpos musculados, o que revela os conhecimentos de anatomia de Miguel Ângelo.
 

   A parte central do teto da Capela, pintada por Miguel Ângelo, retrata cronologicamente a história do livro Gênesis do Antigo Testamento. (1) Deus separando a Luz das Trevas, (2) Deus criando o Sol e a Lua, (3) Deus separando a terra das águas, (4) A Criação de Adão, (5) A Criação de Eva, (6) O Pecado Original e A Expulsão do Paraíso, (7) O Sacrifício de Noé, (8) O Dilúvio Universal e, por último, (9) Noé Embriagado com vinho.

   Nos quatro cantos são retratadas cenas também do Antigo testamento. No canto superior esquerdo, Judith matando o general assírio Holofornes. No inferior esquerdo, David matando o gigante Golias. No superior direito, a Serpente de Bronze, que salvou os israelitas picados pela serpente do deserto. No inferior direito, O castigo de Amã, que, por querer exterminar o povo Judeu, acabou enforcado com sua família.
   Na região mais lateral do teto estão retratadas as Sibilas – mulheres da mitologia greco-romana, que possuíam poderes proféticos – bem como profetas do Velho testamento: Zacarias, Joel, Isaías, Ezequiel, Daniel, Jeremias e Jonas.


   Concluída a obra, o sucesso foi tal que Miguel Ângelo foi convidado a pintar as paredes da capela. Decidiu cobri-las com uma visão aterradora do episódio bíblico do Juízo final, que abordaremos noutra altura. Entre os demónios e as almas condenadas incluiu um autorretrato inquietante, talvez para lembrar a quem via o sofrimento que ele passara para pintar aquele teto.
   Hoje, quem visita a mais famosa capela do Vaticano não pode deixar de considerar que lá no alto está aquilo que é divino, a imortal obra do genial Miguel Ângelo.
 
Gabriel Vilas Boas

Sem comentários:

Enviar um comentário