Há 46 anos, tanques soviéticos entravam pela belíssima Praga de Milan Kundera e punham fim a um projeto tão bonito quanto utópico de criar um comunismo/socialismo de rosto humano. Mais de duas décadas depois da segunda guerra mundial, Estaline tinha destruído o sonho dm comunismo libertador para impor um regime autoritário, antidemocrático, aterrador não apenas aos seus como aos países que lhe faziam a cort(ina) de ferro.
Em janeiro de 1968, Alexander Dubcek, com inexperientes 47 anos, achou que era possível libertar a liberdade enjaulada e começou uma série de reformas que o povo checoslovaco desejava. Dubcek projetava rever a constituição e acabar com o monopólio do Partido Comunista checo; achava possível restaurar a liberdade de imprensa; prometeu independência aos tribunais e tolerância religiosa.
Dubcek não sabia, mas estava louco. Pensava pela sua própria cabeça, ambicionava para os seus compatriotas aquilo que almejava para si. Achava que a Checoslováquia era mais do que um Estado de papel.
Durou oito meses, a Primavera de Praga. Terminou abrutamente na noite de 21 de agosto de 1968 com a brutalidade de tanques russos ao serviço dum pacto de bazófia, porque aquilo sempre foi uma imposição e não um acordo.
Os checos podiam ser naifs mas eram muito cultos. Reagiram à invasão sem violência e boicotando qualquer governo fantoche e colaboracionista. Claro que isso desnorteou o processo de “normalização” russa que destituiu Dubcek, o prendeu e levou para Moscovo para que pudesse ver a luz da razão. Como a luz era negra, Dubcek acabou nos serviços florestais de Bratislava.
A Primavera de Praga acabou no verão e deu lugar a um longo inverno de 21 anos, quando Gorbatchev percebeu que temor não é amor e rapidamente se transforma em rancor.
Em 1989, a um dia de fazer 68 anos, Vaclav Havel (o último presidente checoslovaco e o primeiro líder checo) traz o líder da Primavera de Praga de 68 à Praça Letna para que os compatriotas lhe pudessem dizer “Obrigado! Finalmente conseguimos o que tiveste a coragem de começar!”. Dubcek podia morrer finalmente em paz…
Se para o ocidente, a Primavera de Praga foi um sucesso, pois significou o principio do fim do comunismo; para o leste e, sobretudo, para os checos foi o fim da ilusão da recuperação da liberdade política. Não foi um erro, mas uma lição duríssima que durou duas décadas a ser digerida.
Kundera imortalizou a Primavera de Praga na sua obra prima “Insustentável Leveza do Ser”, Karel Kryl fê-lo através da música. Vinte anos depois Vaclav Havel rubricou o mais belo texto da sua vida, tornando-se o último presidente da Checoslováquia e devolvendo a liberdade primordial ao seu povo. A revolução de veludo de 1989 cumpria o sonho da Primavera de 68.
Em 1968 eu tinha 14 anos (a completar 15 em Dezembro) mas recordo bem as "notícias" que chegavam de Paris,a partir do mês de Maio; e depois as que chegavam sobre a invasão de Praga. Antes disso, já eu ouvia os Beatles no rádio a pilhas que minha mãe queria para ouvir as notícias e o tempo.E nos intervalos das aulas no Colégio um grupinho ia ouvi-los em casa de uma colega afortunada que tinha gira discos. O mundo parecia estar a ficar de pernas para o ar.E como vinham essas notícias ter com alguém desta idade, em tempos de "lápis azul"? O vento leva as notícias a todo o lado...Recordam Trova do vento que passa? Nesses tempos se cozeu o caldo da rebelião, da resistência, da luta por ideais...Onde estão hoje os ideais? Parece que estão todos cumpridos. Agora só existem, quando muito, "temas fracturantes", não é? tem piada, a expressão. Será que os millenials sabem o que foi o "lápis azul", o Maio de 68 e a causa da invasão de Praga?
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