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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

JORGE PALMA

   
      Jorge Palma é, provavelmente, o maior génio da música portuguesa dos últimos quarenta anos.

     Se pegarmos nas 140 canções que o músico português produziu, verificamos que estamos perante um poeta que faz música de excelente qualidade e de grande versatilidade. Palma só não tem o reconhecimento que merece porque é um rebelde que sempre descuidou a imagem e não encontrou nenhum agente que lhe amparasse as quedas que alguns exagerados vícios lhe fizeram dar.

    Se fecharmos os olhos e deixarmos tocar a música é impossível não nos apaixonarmos por um músico completo. Letras fabulosas, profundas e certeiras que cantam o amor melhor que um poeta ("O Meu Amor Existe", "O Bairro do Amor"), explicam-nos a solidão como se fossem um filósofo (“Só”, “Minha Senhora da Solidão”) ou fotografam-nos em negativo como “Estrela do Mar”, “Na Terra dos Sonhos”, “A Gente vai Continuar” ou “A canção de Lisboa”.

     É verdade que Palma teve o melhor dos mestres para escrever tão bem: José Carlos Ary dos Santos, mas aquelas letras brotaram do seu génio sensível e delicado que nos surpreende como um beijo inesperado que queima docemente a alma de quem o ouve. 

     Depois há a composição musical. O melhor de Jorge Palma nasce do teclado do piano. Nele faz milagres que tornam ainda mais belas as suas letras. Às tantas não sabemos se são as letras que tornam deliciosas as músicas, se é a criação musical que acentua a poesia das suas palavras. 




     Além do amor, da solidão, da saudade, do sonho, da amizade, Palma não foge ao contexto social em que vive. Não é político nem cantor de intervenção, mas como dizia Sophia de Mello Breyner “se vemos, ouvimos, lemos, não podemos ignorar”. E ele não ignorou.

Ai, Portugal, Portugal 
De que é que tu estás à espera? 

Tens um pé numa galera 

E outro no fundo do mar 
Ai, Portugal, Portugal 
Enquanto ficares à espera 
Ninguém te pode ajudar


     Ver Jorge Palma ao vivo devia ser uma experiência única e imperdível. Infelizmente, Jorge Palma nem sempre cuidou bem da sua imagem e assim atingiu a consideração que uma visão superficial pode ter da sua música. O melhor é reparar nas suas letras, ouvir as suas músicas. De tempos a tempos, sabe bem olhar no mais profundo de nós e ver a beleza misteriosa da vida. Nessa viagem, a música de Jorge Palma é um excelente guia.



     Proponho-vos uma letra e uma música. Leiam e oiçam com atenção que valerá a pena.

A GENTE VAI CONTINUAR

Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada p'ra andar

A gente vai continuar
Enquanto houver estrada p'ra andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
A liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo.


     Quanto há música, sugiro: À ESPERA DO FIM!
Gabriel Vilas Boas

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