Foi há trinta anos, num domingo quente de agosto, que Carlos Lopes descobriu o caminho olímpico para o ouro. No último dia dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos EUA, o corredor português ganhou a maratona masculina e tornou-se no primeiro português a vencer uma medalha de ouro na mais importante prova desportiva do planeta.
O feito é ainda mais significativo se pensarmos que até hoje só mais três atletas portugueses conseguiram tal feito: Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nelson Évora.
Carlos Lopes, talvez o melhor corredor português do fundo e meio fundo de sempre, culminava de maneira gloriosa uma carreira cheia de títulos e recordes. Oito anos antes, a medalha de ouro tinha-lhe escapado, em Monreal, para o finlandês Lassé Viren, e os portugueses acreditavam pouco que fosse em Los Angeles que o hino nacional fosse tocado pela primeira vez nuns Jogos Olímpicos. No entanto, a convicção do maratonista português era enorme.
Carlos Lopes fez uma preparação específica e muito cuidada para os seus últimos Jogos Olímpicos. Ele sabia que os seus trinta e sete anos não lhe permitiriam outra oportunidade de alcançar a glória. Treinado superiormente por esse mago do atletismo português chamado Mário Moniz Pereira, o atleta do Sporting optou por viajar mais tarde para os EUA que os restantes atletas portugueses, para evitar o calor excessivo da Califórnia, e decidiu não ficar na aldeia olímpica. Curiosamente, todos estes cuidados podiam ter caído por terra quando 15 dias antes do início dos Jogos Olímpicos, Lopes foi atropelado. Felizmente, o primeiro campeão olímpico português só sofreu pequenas mazelas e o sonho pôde tornar-se realidade.
Naquela gloriosa madrugada de domingo para segunda-feira, Portugal inteiro ficou colado à televisão, mais de duas horas, para ver o ídolo do atletismo português arrancar decidido para a vitória a cinco quilómetros da meta, desembaraçando-se dum modo brilhante de todos os adversários e entrando isolado no estádio olímpico de Los Angeles para agarrar a glória que nos escapara com Fernando Mamede.
Quando o dorsal 723 cruzou a meta, milhões de sorrisos se abriram em Portugal e muitas garrafas de champanhe se abriram do Minho ao Algarve para brindar ao feito do filho mais famoso da pequena localidade de Vildemoinhos, em Viseu.
Carlos Lopes já tinha sido três vezes campeão europeu de corta-mato, recordista mundial da maratona, vice-campeão olímpico dos 10.000 metros, entre dezenas de títulos nacionais, mas aquela medalha de ouro tinha um brilho especial e único. Com ela, Carlos Lopes entrava na estrita galeria dos heróis nacionais.
Trinta anos depois, Portugal produziu muito poucos heróis como Carlos Lopes: humilde, dedicado, disciplinado, forte carácter, confiante e, como uma vez afirmou Mário Moniz Pereira, a mais maravilhosa máquina humana do atletismo português.
Gabriel Vilas Boas
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