Etiquetas

domingo, 3 de agosto de 2014

CARTIER-BRESSON


«Fotografar é colocar, na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração» - H. Cartier Bresson


   O grande fotógrafo é aquele que desnuda a alma dos acontecimentos, dos sítios e das pessoas, captando, para a eternidade, aquele instante irrepetível que mais ninguém viu. CARTIER-BRESSON fazia-o com tanta arte que as suas fotos pareciam roubadas daqueles sítios onde o instinto, o momento e o talento se fundem para produzir magia.

    Há precisamente 10 anos, a vida deu o último adeus a Henri Cartier Bresson, unanimemente considerado o pai do fotojornalismo.  Dentro da fotografia, o fotojornalismo é a área que mais aprecio, de tal maneira que todos os anos, vou à exposição do Worl Press Photo. Sempre me cativou mais a fotografia que noticia, que documenta, que retira da alma dos protagonistas da História os fundamentos dos seus atos. 

     Bresson nasceu em França, a 22 de agosto de 1908, mas a biografia do fotógrafo excelentíssimo começa algures no final da I guerra mundial quando lhe é oferecida uma câmara fotográfica Box Brownie e passa o tempo a fotografar. No entanto Bresson fotografa ainda sem destino nem objetivo. O verdadeiro click na sua vida que o fará enveredar pela carreira de fotografo acontecerá em 1931 quando vê esta imagem que o impressionou.

                                       Três miúdos do Congo correndo, nus e livres, em direção ao mar.

     Foi tirada em 1929 por Martin Munkasci e publicada na revista Photographies em 1931. Cartier-Bresson tinha 23 anos quando a viu: de tal modo o impressionou que esta foi a única foto que alguma vez pendurou na parede de casa.



   Estava decidido a ser fotógrafo. Truman Capote havia de o descrever duma maneira tão certeira quanto poética: “Dançava na calçada como uma libélula inquieta, três grandes Leica penduradas ao pescoço, a quarta colada ao olho, tac-tac-tac (a máquina parece fazer parte do seu corpo), disparando cliques com uma intensa alegria e uma concentração religiosa de todo o seu ser. Nervoso e alegre, dedicado ao seu ofício, Cartier-Bresson é um homem solitário no plano da arte, uma espécie de fanático.

   Entretanto chegava a segunda guerra mundial e Bresson é incorporado no exército francês. Capturado, tenta a fuga várias vezes, mas só à terceira consegue ter êxito. Foge para lutar pela liberdade, pois junta-se a um grupo ligado à Resistência Francesa, ou não fosse ele um apaixonado pela liberdade, de tal maneira que Nadia Meucci dizia que a “liberdade era a sua verdadeira religião”.

     Depois de fotografar a França dos anos trinta, decide viajar pelo mundo e fotografar povos, culturas e lugares, um pouco por todo o mundo. Não se colocou à parte, misturou-se, integrou-se, mostrou sempre um enorme respeito pelas pessoas que fotografou.

     Em 1955 esteve em Portugal. Fotografou em Lisboa, Cascais, Estoril, Sintra, Óbidos, Nazaré, Coimbra, Porto, Amarante, Lamego, Tomar, Alpalhão, Castelo de Vide, Marvão e Estremoz.
Amarante


Nazaré

     Segundo Cartier-Bresson, «Portugal era o país com melhor luz para um fotógrafo, as suas gentes das mais verdadeiras que jamais tinha encontrado». No entanto notou algo que lhe desagradou: «a discrepância social».

      O homem que em em 1947 fundou a Agência de Fotografia Magnum, em conjunto com Robert Capa, David ‘Chim’ Seamour e George Rodger, viajava pela Indonésia, Cuba, México, Canadá, Japão, sempre à procura de momentos decisivos da vida coletiva, com a sua Leica por companhia.

Lisboa, Terreiro do Paço, 1955

     É o primeiro fotógrafo da Europa Ocidental a fotografar livremente o quotidiano da União Soviética. É ele quem fotografa os últimos dias de Ghandi e os eunucos imperiais chineses depois da Revolução Cultural.

     Bresson não gostava de fotos muito retocadas ou demasiado trabalhadas nem de cenários artificiais. Nunca usava o flash pois considerava-o “uma falta de educação”. Ele adorava passar despercebido e era muito difícil arrancar-lhe uma entrevista e muito menos uma foto. Certo dia afirmou: “A celebridade é horrível. Eu sou libertário. Tenho horror ao poder.”

     No entanto são deles retratos famosos de muitas celebridades: artistas como Pablo Picasso, Braque, Alberto Giacometti, Pierre Bonnard e Henri Matisse e escritores como Paul Claudel, Louis Aragon, Paul Valéry, Elsa Triolet, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus e Paul Éluard.


O Porto, 1955

     Até que decidiu parar e dedicar-se à outra paixão da sua vida: a pintura e com ela passou os últimas trinta anos da sua vida.

     “Com a fotografia, existe uma angústia que não há com o desenho. O presente concreto ocorre numa fração de segundos, o que é desagradável e, ao mesmo tempo, maravilhoso. É uma luta contra o tempo o qual, por sua vez, é uma invenção do homem. A pintura e o desenho obrigam-me a pensar no aqui e agora e no amanhã. Para mim, só há duas coisas que contam: o instante e a eternidade.” - Bresson

      Há dez anos, o mundo perdeu definitivamente aquele que suspendia os acontecimentos, num instante eterno.
      Depois dele, houve muitos instantes que perderam o comboio da eternidade.


 O quotidiano na URSS 

Gabriel Vilas Boas

Sem comentários:

Enviar um comentário