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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

RECEITA DE ANO NOVO


Para você ganhar belíssimo Ano Novo 
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanhe ou qualquer outra bebida

não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drummond de Andrade

domingo, 30 de dezembro de 2018

FRANCO AOS CAÍDOS

Desde que o governo espanhol decidiu que os restos mortais do ditador Franco seriam transladados do Vale dos Caídos para outro local, à escolha dos seus descendentes não tem parado a luta de argumentos entre os partidários e os opositores do ex. ditador espanhol, acerca do acerto da medida.

 A decisão tem causado grande polémica em toda a sociedade espanhola, que desde há muito reclamava sobre o direito do ditador estar sepultado num local onde não devia de estar. 
Argumentavam os opositores de Francisco Franco que ele não era vítima da Guerra Civil espanhola, mas o seu principal fautor. A sua presença era, pois, uma afronta para os milhares de espanhóis que tombaram numa guerra fraticida e que deixou marcas ainda visíveis na sociedade espanhola. Contrapunham os defensores de Francisco Franco que o Vale dos Caídos fora mandado erigir por Franco e lá eram  recordados todos os nacionalistas que tombaram na guerra civil espanhola, sendo Franco o seu incontestável líder.

Há meses, o governo decidiu tirar o que resta do ex. ditador do Vale dos Caídos, mas não lhe deu destino certo. A família queria-o colocar na catedral de Almudena, bem no coração de Madrid, mas o governo do socialista Pedro Sánchez negou-lhe os intentos argumentando com razões de ordem pública, risco de ameaça terrorista, colapso da zona circundante, limitação da liberdade religiosa. o facto é que o governo espanhol teme confrontos entre os partidários e os opositores de Franco, dentro da própria catedral de Almudena.



Um ditador não se venera, mas também não se atira para uma vala comum, pois ele representou, infelizmente, o poder e a vontade de muitos durante longo tempo. 
Quer os espanhóis queiram quer não, ele foi o rosto de Espanha durante quase quarenta anos. Não se suicidou e quis deixar memória de si, do que fez e do seu tempo. 

Houve muitos espanhóis que o apoiaram e que comungavam das suas ideias. Hoje são uma minoria, mas já foram (ainda que através de um silêncio cúmplice) maioria. 

Na minha opinião, cada país deve saber aceitar a sua história, o seu passado, por muito que isso a embarace. Encontrar um lugar digno para Franco é um dever dos espanhóis que amam a liberdade, a paz e a pluralidade de opiniões. A Espanha precisa de enterrar definitivamente Franco, aceitando que o que ele foi como uma parte da sua História.

ALEMÃ COLOCA MARIDO À VENDA NO EBAY

Para além do insólito e do excêntrico, há sempre algo mais a dizer quando uma mulher (ou um homem) resolve colocar o seu cônjuge à venda no Ebay. 
A quantia é um pormenor que nos faz sorrir ou nos obriga a um comentário mais ou menos sarcástico.
Nas últimos dias, uma alemã resolveu colocar o seu marido à venda, no eBay por 18 euros. 
A senhora "Dorte L." descobriu, este natal, que o melhor seria pôr fim à sua relação de sete anos de casamento com o esposo, mas achou que o melhor seria comunicá-lo primeiro aos internautas do que ao marido. Assim como assim, dezoito euros ainda podiam dar para uma pequena compra nos saldos. 
Bem humorada,  a alemã dizia-se disposta a negociar o valor e a fazer a entrega em casa da nova dona, mas não admitia devoluções. 
Há o lado lúdico da história, provavelmente o mais relevante, mas também o simbolismo das relações que se desgastam até se tornarem solúveis. 
Afinal, quanto valemos para a pessoa com quem partilhamos a vida? E quanto vale ela para nós?  

sábado, 29 de dezembro de 2018

A HISTÓRIA REZA POR AMOS OZ


O final do ano traz sempre destas notícias tristes: morreu Amos Oz, escritor israelita insigne e um baluarte na luta pela paz.  
Amos Oz foi um verdadeiro príncipe da palavra e da paz, num contexto marcado pela guerra, pelo ódio, pela incompreensão, como é o cenário do Médio Oriente, desde meio do século XX até aos dias de hoje. 

Apesar de ser um tenaz lutador pela paz, é  guerra que marca a vida deste israelita, nascido em Jerusalém. Desde logo, o ano em que nasceu, 1939, recorda-nos o início  do conflito mais marcante da história da humanidade: a II Guerra Mundial, depois, porque Amos participou como soldado na Guerra dos Seis Dias (1967) e na Yom-Kippur (1973). 

Essa terrível experiência marcou a sua vida tanto quanto a literatura ou a filosofia, de tal forma que dedicou grande parte da sua existência à defesa da convivência pacífica entre israelitas e palestinianos. 

Espírito superior e com um talento ímpar para a escrita, Amos Oz deixou-nos trinta e cinco obras, das quais destaco, obviamente, Uma História De Amor E Trevas (2002). Várias vezes à porta do Nobel da Literatura, sem nunca o ter conquistado, Oz havia de se empenhar na construção da paz, ajudando a formar o movimento PAZ AGORA, em 1977. Essa defesa intransigente do valor da paz criou-lhe muitos anticorpos dentro do estado hebraico, mas Oz não se importou. Numa entrevista recente disse mesmo que considerava um elogio quando lhe chamavam traidor.

 «Acho que traidor pode ser um título honorífico. Muitos grandes homens e mulheres do seu tempo foram chamado traidores simplesmente porque estavam à frente do seu tempo.»

Infelizmente Amos Oz estava à frente de um tempo onde a guerra ainda é vista como solução. Ao morrer, amargurado e derrotado pelo cancro, a poucas horas de finalizar 2018, Amos Oz deixa-nos os seus belos livros (romances, ensaios, contos, histórias para crianças) e sobretudo o seu exemplo de cidadania, civismo, humanidade e coragem. Verdadeiramente foi esse o lema que adotou para a vida e o apelido para o nome, quando aos quinze anos mudou o apelido de Klausner para OZ, que em hebraico significa "Coragem", "Força". 

Gabriel Vilas Boas 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

O MEU CONSELHO É QUE DESISTAS



Na contramão de todos os conselhos de final de ano, o meu hoje é para te dizer que está na hora de desistir. 

Desiste das relações que nunca evoluíram.

Das paixões que nunca passaram de contactos. 

Desiste de deixar a carência sempre dirigir e coordenar a falta de novas experiências.

Desiste do medo de sair do lugar seguro. 

Desiste. 





Desiste dos antigos padrões. Das mensagens sempre iguais. De andar como todo mundo, num efeito manada, vibrando e enraivecendo a belo prazer do colectivo. 

Desiste d
o senso comum, de ser raso, de esperar no lugar de agir.

Desiste das roupas que não te cabem mais. 

Doa. 
Compra novas. Aceita esse corpo agora, porque somos todos transitórios, ainda que amanhã a carcaça pareça melhor. 

Desiste de não olhar profundo, e ir só um pouquinho para não te magoares. 

Sê passo, mas desista de ser só isso. 
Sê também mergulho, salto e voo.

Desiste de tudo o que te deixa longe da sensação de "se eu morresse agora, era assim que eu gostaria de estar vivendo".

Cacau Mila

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A GRANDE ESCULTURA FRANCESA EM EXPOSIÇÃO NA GULBENKIAN


A escultura é uma arte que sempre exerceu um fascínio muito grande sobre mim. 

A forma, quase mágica, como o escultor dá forma humana, animal, espiritual à rocha, ao mármore, ao gesso, ao bronze e a outras materiais fazia-me curvar perante aquele exercício impossível do artista. Sobretudo quando ele trabalhava a pose, imortalizando para sempre um gesto que só alguns fotógrafos ou pintores extraordinários conseguem captar. Por isso, tinha enorme expectativa em ver a exposição que a Gulbenkian exibe este inverno, em Lisboa, de algumas peças dos melhores escultores franceses. Auguste Rodin, Jean-Baptiste Carpeaux, Edgar Degas, Jean-Antoine Houdon sempre foram aqueles monstros sagrados cuja obra nunca tinha tido a possibilidade de ver de perto, de tocar, apreciando cada curva, cada forma, cada expressão demoradamente, de todos os ângulos possíveis. Agora foi possível. Cerca de três dezenas de peças, algumas em tamanho real, destes preciosos artistas, estiveram um par de horas diante dos meus olhos e pude contentá-los. 


O curador desta exposição "Pose e Variações. Escultura Em Paris No Tempo de Rodin" dividiu em quatro núcleo temáticos: a ausência de pose; a figura acocorada; a Maternidade (inevitável), figuras entrelaçadas. 


À entrada a famosa Danáide de Rodin, convidava-nos a observar como o artista trabalha a pose quando ela está ausente.



AUSÊNCIA DE POSE Não é fácil determinar, apenas com base na aparência, se ou na não presença de uma figura que posa. No entanto, os motivos em que a ausência da pose se manifesta são conhecidos desde a Antiguidade. No século XIX, o ensino artístico, baseado no desenho a partir de esculturas ou modelos vivos, não contemplava a inclusão de crianças, pelo que os artistas abordavam o povo com um olhar quase «puro». Na verdade, o modelo infantil encontra na arte de pousar uma dificuldade real. Na maioria dos casos, os artistas recorrem aos filhos. As crianças pousam assim para retratar cenas da vida quotidiana. Elas constituíram uma fonte de inspiração natural, fornecendo significativo reportório de formas e movimentos. Quando podemos ter a certeza que o modelo não pousou? Na infância, no sono, na morte…



FIGURA ACOCORADA Como figura individual, a Flora de Carpeaux representou, no início da década de 1870, a síntese de dois modelos distintos da Vénus Acocorada da Antiguidade: a Vénus no toilete e a Vénus emergindo das ondas, a enxugar o cabelo. A obra de Carpeaux, que aqui se apresenta (uma figura que simultaneamentemente se mostra e esconde num jogo de evidente conotação sexual), inspirou-se num modelo vivo para a representação realista do rosto. A escultura encoraja o espectador a contorná-la e parece surgir como um último suspiro do tipo clássico da figura acocorada.
A escultura Rapaz Acocorado de Miguel Ângelo veio estabelecer um precedente essencial para uma interioridade percetível em figuras, mais tarde, realizadas por Rodin e Camile Claudel.
Esta interioridade, a par da rejeição da figura idealizada, contribuiu decisivamente para que os escultores do século XIX dessem de novo foco a um tema, para o qual a beleza é elemento vital.
A Mulher Acocorada de Rodin veio incorporar a imagem perfeita de uma figura absorta, em estado de transe, executada com a intenção de estabelecer uma relação audaciosa com tradições anteriores da pose de figuras acocoradas.



MATERNIDADE O conjunto de esculturas escolhidas para este núcleo lembra até que ponto a Maternidade está presente na arte francesa na segunda metade do século XIX. Estas cenas foram sugeridas aos escultores em círculos familiares, no seio dos quais encontraram os modelos preferenciais. 


Após a guerra franco-prussiana, a representação da mãe de família tornou-se figura central. Dalou criou várias cenas maternais de que Paysanne française é o protótipo. 

Os temas relacionados à maternidade devem ser relacionados com os modelos canónicos da tradição artística já que Carpeaux, Dalou e Debois revelam formação académica. 
Virtude da teologia católica, a Caridade assume a forma de uma mulher sentada, acompanhada por duas crianças, ao estilo renascentista. A representação reporta-se, obviamente, à Virgem Maria. 
Marcadas pelo contexto social, político e religioso e inspiradas pelas experiências pessoais dos escultores, atravessadas pelas memórias dos mestres do passado, estas representações da maternidade testemunham a capacidade dos artistas em propor uma nova visão de uma iconografia antiga.




FIGURAS ENTRELAÇADAS Qualquer escultura formada por mais de uma figura constitui um grupo. Essa associação coloca de imediato a complexa questão das relações que o artista procurou estabelecer, através do tema da união de dois ou mais corpos. 

Algumas figuras entrelaçadas constituem uma fonte inesgotável na história da arte, como é o caso do grupo Laoconte e Seus Filhos, arquétipo da escultura helénica. A sua influência sobre a escultura maneirista e barroca revelou-se determinante e a obra permanece ainda hoje o exemplo que melhor ilustra o tema do entrelaçado. 

O grupo neoclássico Psique Reanimada pelo Beijo do Amor de António Casanova também contribuiu para a compreensão do tema, que que Rodin o retomou um século à frente em A Eterna Juventude que remete para a célebre escultura O Beijo.
A proximidade na representação dos amantes recorre à pose para efeitos dinâmicos na combinação de duas figuras entrelaçadas e agrupadas num corpo compacto. As figuras de Rodin contribuíram para a explosão da sensualidade na escultura e evoluíram para formas ousadas e originais. 

OS JAPONESES VOLTAM À CAÇA DAS BALEIAS QUANDO DEVIAM CAÇAR A TRADIÇÃO


É raro, mas os japoneses também têm atitudes incompreensíveis e condenáveis. Hoje, acordei com a notícia gelada do seu regresso à caça comercial da baleia, daqui a seis meses, já que agora se preparam para sair de fininho da Comissão Baleeira Internacional (CBI). 
É uma péssima notícia, até porque os japoneses não são só únicos predadores deste imponente e amigável animal marinho, pois tanto noruegueses como islandeses também praticam esse selvagem desporto... com intenção comercial.


Na verdade, este anúncio japonês é apenas o fim de um hipócrita fingimento, dado que os nipónicos nunca pararam realmente de perseguir estes grandiosos cetáceos, mas alegavam que o fazia por razões científicas. No entanto, essa era uma máscara muito transparente, visto que, só nos últimos meses, caçadores japoneses capturaram trezentas baleias jovens, das quais cem eram fêmeas grávidas. Não há investigação que suporte atitude tão cruel e irresponsável!



Mais verdadeiros, agora, os japoneses falam da importância de defender uma tradição centenária, mas essa continua a ser uma desculpa esfarrapada, dado o caminho responsável e sábio que os súbditos do imperador do sol nascente percorreram nas últimas décadas, abandonando práticas enraizadas, quando tal se verificou nefasto.

Os japoneses são suficientemente inteligentes para perceberem que este NÃO é o "Caminho A Seguir". Não necessitarão, certamente, de nenhuma guerra, abalo sísmico ou embargo comercial para o entender, mas "apenas" de um tremor de consciência, que embargue uma tradição que precisa de ser caçada.
GAVB 


sábado, 22 de dezembro de 2018

A Verdade


Patrícia e Paulo têm uma relação em segredo. Joana, a mulher e Paulo, suspeita de qualquer coisa, e faz-lhe perguntas cada vez mais embaraçosas.
Miguel, o marido de Patrícia, é o melhor amigo de Paulo, mas a franqueza entre os dois já não é o que era. À medida que os enganos se vão enredando, os dois casais perdem-se num laribirinto de quem disse o quê a quem.

Num jogo de máscaras brilhantemente cruel,  A Verdade, do dramaturgo parisiense Florian Zeller, centra-se no microcosmos da vida conjugal para expor as hipocrisia da sociedade e problamatizar com humor as vantagens de ocultar a verdade e os inconvenientes de a revelar.

O encenador João Lourenço pegou no texto de Zeller e desafiou quatro atores conhecidos - Paulo Pires, Patrícia André, Miguel Guilherme, Joana Brandão (curioso como os atores emprestam o seu nome às personagens que interpretam) - a dar-lhe corpo cénico. Para o trabalho ficar completo os mesmo atores também levam à cena A Mentira. 

O resultado são dois espetáculos notáveis, intensos, bem-humorados, mas sobretudo altamente interpelativos para o espectador. O que custa mais a lidar? A Verdade ou a Mentir? A resposta está bem para além do óbvio e obriga-nos a uma reflexão sobre nós, a maneira como lidamos com a vida, com os outros e sobretudo connosco. 
Talvez o maior problema do perigoso e sedutor jogo entre a  Verdade e a Mentira seja a sombra de qualquer uma delas: a culpa.
Vi A Verdade no Teatro Aberto. Sala cheia. Plateia atenta, divertida, nervosa com o espelho vindo do palco. Também é para isto que o teatro serve e não apenas para passarmos uns bons momentos entre gargalhadas fúteis e sem história.

GAVB
 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

SE ENCOSTARMOS O OUVIDO...


«Estás a ouvir? - Perguntou o principezinho . - Acordámos o poço e ele pôs-se a cantar...»

Lembro-me muitas vezes desta pergunta do herói de Saint-Exupèry quando encontra um poço em pleno deserto. Não se esperam que existam poços em pleno deserto. Não se esperam que existam poços aí. Ele, porém, garante que "o que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em qualquer lugar."

A nossa vida também esconde um poço, mesmo se sentimos a aridez a cobri-la com o seu fino manto de desolação. Resmungamos com a vida. Falta-lhe qualquer coisa, nada é perfeito, nunca nada está acabado, nada resolvido. É como se estivéssemos a jogar um jogo insolúvel: se temos o poço, falta-nos a corda; se temos a corda falta-nos o balde; se temos a corda, o balde e o poço, falta-nos a força para irmos até ao fundo da nascente buscar a água que nos dessedente. 


Nesta narrativa espiritual tão intensa que é o Principezinho não falta nada. O que nele se ensina é que cada um de nós tem aquilo de que precisa para experimentar a alegria. Não é um problema de conhecimento, é uma questão de olhar. olhamos para o que somos e para o que nos rodeia com um coração capaz de sintonizar com o dom que nos habita. Se encostarmos o ouvido à extensão da nossa Vida, ela cantará!

José Tolentino Mendonça

Este foi o texto, num pequeno cartão personalizado, que a minha colega Sara Magalhães levou para a reunião de avaliação do seu conselho de turma. Ofereceu um a cada colega,surpreendendo todos com o seu gesto e a sua sensibilidade. 
Provavelmente o melhor momento do dia.   

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A GESTÃO DO MEDO

Não resultou em Manchester como já não tinha resultado grande coisa na segunda passagem pelo Chelsea nem sido propriamente um sucesso retumbante em Madrid. 
Na verdade, Mourinho não brilha - no verdadeiro sentido da palavra - desde o tempo do Inter de Milão. E é isso que traz à evidência a fragilidade do seu modelo de liderança.

É um génio, como sugeriram Klopp, Gerrard ou Rui Vitória? Creio que sim. Mas sempre liderou pelo medo. Ora, a última vez que um balneário teve medo dele foi em Milão. E o seu dilema, agora, é que vai ser difícil encontra um clube à altura do que quer, capaz de lhe dar um plantel à medida de um regresso em grande e, apesar disso, passível de ser gerido pelo medo. 

Oxalá não vá para a China. a única razão por que a China não é um cemitério de treinadores é porque o Ocidente a olha, condescendentemente como uma galinha dos ovos de ouro, que todos têm o direito de ordenhar - tanto é  o dinheiro que até as galinhas se ordenham - de vez em quando. 

De qualquer modo, esse é o problema de Mourinho. O do Manchester é pior. órfão de Ferguson, deixou um treinador engordar o plantel para lá do qualquer possibilidade de reconversão e, depois, autorizou o mesmo plantel a destruir esse treinador. É uma herança avassaladora que ninguém de primeiro plano quererá agora receber, a não ser com garantias claras de poder limpar tudo antes da próxima época. 
Pelo sim, pelo não, pois, o melhor será Pogba, Shaw, Martial ou Bailly, os inimigos de Mourinho, mandarem os agentes por-se em campo. Isto  não é uma boa notícia para eles. 
Mas como poderia o novo treinador ficar, já agora, com Young, Matic, Fellaini ou Lukaku, os protetores do português? Talvez se  devam mobilizar também.
Não ficará pedra sobre pedra em Old Trafford. E talvez, no fim, Mourinho se possa rir um pouco.

Joel Neto (escritor e jornalista)  

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

PUTIN QUER CONTROLAR O RAP, ANTES DE O PODER ILEGALIZAR


"Se é impossível parar, então devemos liderá-lo e dirigi-lo" - disse Vladimir Putin aos seus conselheiros culturais, em São Petersburgo, na Rússia. Para o carismático líder russo o rap enferma de três enormes perigos para os jovens: incita ao uso de drogas, promove a prática desenfreada de sexo e incentiva o protesto.
Obviamente que não é o sexo nem as drogas que preocupam Putin, mas a ousadia do protesto, através do Rap. O mesmo já se tinha passado com as Pussy Riot, no passado. Vladimir Putin nasceu e cresceu num tempo em que o controlo e a repressão começavam a montante e preveniam revoltas e revoluções. Um tempo em que a comunicação não fluía nem havia acesso à informação que a Internet permite. 
Putin sente-se verdadeiramente mal num mundo livre, democrático e onde há pluralidade de opiniões. Ao contrário de outros líderes mundiais, Putin não tem feitio para exercer o poder de um modo cínico e não lhe interesse apenas o poder pelo poder nem a supremacia económica. Ele quer vergar os seus adversários, definir-lhes os gostos, moldar-lhes o espírito e o pensamento. Mas desta vez vai perder.
O rap não é um polka russa nem a Internet está ao alcance do KGB. O mundo em que Putin vive é diferente daquele onde ele nasceu. E como pessoa minimamente inteligente que é, ele vai acabar por perceber isso. Talvez por isso, ele queira «apenas» liderar para limitar o Rap, na Rússia, porque é mais provável que o Rap o ajude a destruir do que ele destrua o Rap entre os russos.

GAVB 

domingo, 16 de dezembro de 2018

MARIA, UMA LÍDER QUE É UMA BEGONHA PARA A JS


Na política portuguesa, a ética atingiu valores tão baixos que já pouco ou nada me surpreende, exceto a passividade com que as pessoas decentes assistem a este cortejo de mediocridade moral, que parece não ter fim.
Este fim de semana, a JS (Juventude Socialista) elegeu a sua nova líder - Maria Begonha. Concorreu sozinha às eleições, mas a sua subida ao poder está enlameada pela sua conduta anterior. A nova líder da JS é perita em mentir, efabulando sobre cargos e cursos que não ocupou nem tirou. Na verdade, Maria faz jus ao apelido e devia fazer corar de vergonha quem a elegeu, quem permitiu que fosse candidata, quem não teve capacidade para concorrer contra ele. 
O que fez de tão ignóbil Maria Begonha? MENTIU! Descaradamente, desnecessariamente, desavegonhadamente, porque nunca se arrependeu verdadeiramente. 

Em 2014, quando era deputada municipal em Lisboa, Maria foi contratada pela Junta de Benfica para "exercer serviços de apoio ao secretariado", mas na sua página de candidatura à liderança da JS, Maria Begonha escreveu que era "assessora na área de políticas públicas autárquicas". Entrou numa Junta de Freguesia, por cunha política, e intitulou-se especialista nacional em política autárquica. 
Também quanto ao curriculum Maria mentiu: no Linkedin diz que tem um mestrado em Ciências políticas, quando na verdade apenas frequentou, mas não concluiu esse grau académico. Intitulou-se se Presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, quando, na realidade, só presidiu à mesa.
Começa bem este menina na política!
E que fizeram os seus camaradas da JS? elegeram-na. No entanto, o mais grave para mim, foi não ter havido ninguém entre os jovens socialista que lhe fizesse frente nas urnas. Será que a JS não t3m ninguém decente para concorrer com esta Begonha? 
E que fizeram os dirigentes do PS? Tirando as posições públicas de Ana Gomes e Gabriela Canavilhas, assobiaram para o lado. de Carlos César a António Costa acharam que não havia nenhum problema de credibilidade nem de ética na eleição da nova líder da JS. não sei se Carlos César o António Costa sentem o peso da consciências das patranhas e jogos de ilusão, com que enganam muitas classes profissionais e milhões de portugueses, mas quem tem um ex. primeiro-ministro (José Sócrates) suspeito de corrupção e um antigo dirigente condenado a pena de prisão efetiva devia cuidar bem melhor da sua reputação, porque o PS tem claramente um problema reputacional.
«Palavra dada é palavra honrada» disse certa vez António Costa. Nem palavra nem honra e Portugal precisa de dirigentes que não o envergonhem.
GAVB

sábado, 15 de dezembro de 2018

QUER DIZER TANTA COISA E SABER QUE O MELHOR É ESTAR CALADO




Com exceção do amor, nunca se escreveu tanto sobre um assunto como sobre as palavras, porque as palavras e o silêcio sempre procuraram um equilíbrio.
Um provérbio chinês diz "Não abra os lábios se você não têm a certeza de que aquilo que irá dizer ir´melhorar o silêncio."
Já aconteceu com quase todos nós: sabemos o momento exato em que uma conversa deve terminar e, depois, tudo acaba mal. Queremos dizer tantas coisas que raramente pensamos nas consequências; não temos consciência que, às vezes, é melhor calar.
Se percebêssemos que, quando falamos e emitimos julgamentos e opiniões, revelamos o lado mais profundo das nossas personalidades, provavelmente, não permitiríamos que as nossas línguas fossem mais velozes que nossos pensamentos.

Demora-se dois anos para aprender a falar e toda uma vida para aprender a calar.” Ernest Hemmingway


Falar demais

Entre amigos, entre familiares e entre pessoas que amamos é comum não se ter cuidado com a forma como falamos e deixar sair o que pensamos quase sem filtro algum.
As palavras que pronunciamos para as pessoas mais próximas, às vezes, são mais afiadas do que qualquer faca, criam muralhas muito difíceis de derrubar e ferem as pessoas que realmente amamos e apreciamos.
Embora muitas vezes o impulso de falar vença, é importante pesar as palavras, pesar as consequências de nossas opiniões e recorrer sempre à cortesia e à gentileza.

“As feridas da língua são mais profundas e incuráveis que as de uma faca.” Provérbio árabe


A arte de falar com sabedoria e respeito

Não se trata de calar sempre e ocultar o que pensamos, porque não podemos esquecer que o que não é dito de forma concreta é como se não existisse. As palavras de ânimo, as que saem de nossos corações para chegar a outra pessoa, essas são as que têm grande importância.

Falar o necessário, saber ouvir, não falar por falar, porque falar de mais, sem pensar e sem controle, pode levar-nos a dizer coisas que podem ferir a outra pessoa.

A importância da honestidade
Investigadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, realizaram uma pesquisa sobre a atividade cerebral e, durante uma série de testes, analisaram a honestidade de um grupo de pessoas. Eles descobriram que a honestidade depende mais da ausência de tentações do que da resistência ativa a estas.
Em termos neurológicos, o resultado obtido significa que a atividade cerebral das pessoas que são honestas não varia perante a tentação (ganhar dinheiro, enganando), enquanto a atividade cerebral das pessoas desonestas se transforma diante da tentação, mesmo que não cedam a ela.
A pesquisa foi publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences e foi dirigida por Joshua Greene, um professor de psicologia da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Harvard.
Greene explica que, segundo estes resultados, ser honesto não depende tanto da força de vontade, mas sim de estar predisposto à honestidade de uma forma espontânea. Segundo o pesquisador, isto pode não ser verdade em todas as situações, mas é certamente uma tendência.


Os motivos que nos levam a mentir ou dizer a verdade
Por outro lado, pesquisadores da Universidade Autónoma de Madrid, na Espanha, e da Universidade de Quebec, em Montreal, no Canadá, realizaram uma experiência para conhecer os motivos pelos quais as pessoas mentem ou dizem a verdade diante de uma determinada situação.
Até esse momento, acreditava-se que as pessoas sempre dizem a verdade se isso lhes convém em termos materiais, e mentem no caso contrário. Mas agora, com a pesquisa realizada, ficou claro que as pessoas dizem a verdade mesmo que isto implique um custo material. A pergunta é: porquê?
Existem diferentes hipóteses. Por um lado, entende-se que as pessoas são sinceras porque têm isto consciencializado e o contrário fá-las sentir emoções negativas, como a culpa ou a vergonha, o que conhecemos como aversão pura à mentira. Esta aversão tem a ver com a repulsa em criar uma dissonância entre a imagem que uma pessoa tem de si mesma e a forma como se comporta realmente.
Outras motivações para ser sincero estão relacionadas com o altruísmo e a conformidade com o que pensamos que o outro espera que digamos, isto é, o desejo de não frustrar as expectativas da outra pessoa.




Fonte: A Mente é Maravilhosa

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

A GREVE DOS ENFERMEIROS É INACEITÁVEL! E TER UM GOVERNO QUE FINGE NEGOCIAR, MENTE E ENGANA É ACEITÁVEL?


Finalmente começa a descobrir-se que o problema não era só dos professores que retinham as notas de final do ano letivo, mas o mal estende-se a vários setores da sociedade: enfermeiros, polícias, estivadores, magistrados do Ministério Público, juízes. Demasiada gente para acharmos que o problema não está essencialmente do lado do governo.
É possível que algumas greves sejam inaceitáveis, quando põem conscientemente vidas em perigo, mas não menos inaceitáveis do que decisões do ministério das finanças que negam uma ala pediátrica digna às crianças do IPO do Porto ou retiram a proteção civil ao país quando as temperaturas superavam os 30º, apenas porque estávamos em Outubro. Inaceitável é não assumir as mortes de Borba como responsabilidade do Estado, porque as estradas eram camarárias. 
Inaceitável é mentir e enganar professores, enfermeiros, magistrados, juízes, guardas prisionais, polícias. 
Inaceitável é aumentar o salário mínimo em 20 euros, quando França aumentou 100 euros e os espanhóis, com um nível de vida semelhantes aos portugueses, recebem no mínimo 900 euros, por mês.
Inaceitável é ter eleitos da nação a receberem por viagens que não fizeram, a marcar presenças, onde não estiveram, a receberem parte de ordenados sem tributação fiscal.
Inaceitável é tentar jogar com os sentimentos mais puros dos cidadãos apenas para proveito político, como se os portugueses fossem tontos e não percebessem a grande desfaçatez de toda esta gente que se governa em vez de nos governar.

GAVB

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

FÉRIAS DE NATAL DEBAIXO DE ÁGUA “SÓ” NO OCEANÁRIO E PARA MENORES DE DOZE ANOS



O Oceanário de Lisboa faz regressar neste Natal as ‘Férias Debaixo de Água’, com atividades que prometem muita diversão mas também ensinam sobre o ambiente e os mares.
De 17 de dezembro a 2 de janeiro, pequenos crianças e adolescentes, dos 4 aos 12 anos, vão descobrir qual o melhor presente que podem dar ao planeta, construir uma App para salvar o Natal no oceano, ajudar o peixe-palhaço a decorar a sua anémona. 


O programa de férias terá cinco dias temáticos e apresenta diversas atividades como observação de animais, artes plásticas e dramáticas, investigação que desvendam os mistérios do oceano e sensibilizam os mais pequenos para a conservação da natureza.



Às segundas-feiras a atividade ‘Ondas de Natal’ leva as crianças a “descobrir as personagens da história de Natal mais molhada que podes escrever, pintar ou desenhar: peixe-balão ou tubarão. 




Às terças a atividade centra-se na criação de uma App e na descoberta de como se poderá salvar o Natal no oceano. As quartas são dedicadas ao ‘Natal da cor do mar’ e a ajudar o peixe-palhaço a decorar a sua anémona. 


‘Plasticologia de Natal’ é a atividade que irá decorrer às quintas-feiras com as crianças “darem uma nova vida” a um habitante cada vez mais comum nos mares (o plástico), mas que não pertence ao oceano. 


Por fim, às sextas, a ‘Febre de Natal’ desafia os mais pequenos a entrarem numa volta ao mundo na companhia do pinguim-de-Magalhães e a descobrirem que a melhor prenda que podem dar ao planeta é aprender como baixar a sua temperatura.  

Para além destas atividades, a 21 e 28 de dezembro o programa ‘Férias Debaixo de Água’ pode ser prolongado pela noite a dentro com a iniciativa ‘Dormindo com os Tubarões’.
“As crianças a partir dos seis anos podem dormir com os emblemáticos tubarões, participando, também, em atividades ao jantar, visitas à sala de preparação de comida dos animais e outras surpresas por descobrir”, explica uma nota do Oceanário de Lisboa.


Claro que todas estas atividades têm custo e horários. Aqui fica um breve resumo:

De 17 de dezembro a 2 de janeiro (excepto fins de semana)
Horário: das 8h30 às 18h30
Idades: dos 4 aos 12 anos
Preços: 40€/participante/dia, 150€/participante/4 dias, 180€/participante/5 dias
O valor inclui entradas nas exposições do Oceanário, atividades, materiais, almoço, lanche e seguro)
É indispensável reserva prévia.
Reservas e Informações: 218 917 000 ou reservas@oceanario.pt

domingo, 9 de dezembro de 2018

A.K.K. - A MINI MERKEL QUE GOVERNARÁ A ALEMANHA

Detesta que lhe chamem «Mini Merkel», mas as alternativas para Annegret Kramp-Karrenbaeur não são muito melhores, porque o nome é mesmo intragável. Provavelmente a nova líder da CDU alemã terá de escolher entre A.K.K. ou «Mini Merkel». 
O primeiro objetivo desta alemã de cinquenta e seis anos é estabelecer a unidade dentro da CDU, pois a sua vitória sobre Friedrich Merz foi tangencial, trinta e cinco votos de diferença. 
A.K.K. representa a continuidade da visão de Merkel, defendendo uma política social baseada na defesa da dignidade humana. 
«Nós, democratas cristãos, discutimos, mas perseguimos ou destruirmos as outras pessoas. Não fazemos nenhuma distinção na dignidade humana»
Uma garantia para fora e um recado para dentro do partido, que teve a tentação de virar à direita, através da candidatura de Merz

Annegret diz que tudo  o que fez até agora nada tem de «mini», mas terá de provar ser uma digna sucessora da ainda chanceler germânica. Ela sabe perfeitamente que o grande desafio da Europa é criar valor sem destruir direitos, por isso anuncia: «Se tivermos valor, viveremos numa Europa forte, com um euro à prova de crises e com um exército europeu

A resposta alemã ao abandono inglês do projeto europeu parece algo de estruturado e pensado por alguém que não desistiu desse ideal europeu que Helmut Kohl e François Mitterrand ajudaram a construir e a concretizar. 
Seguir-se-á Angela Merkel em Bruxelas para suceder ao inimputável Jean-Claude Juncker, na presidência da Comissão Europeia? O cargo precisa de gente com peso político, o que já não acontece desde Jacques Delors.

Gabriel Vilas Boas 

sábado, 8 de dezembro de 2018

PROFESSORES PORTUGUESES EM DIFICULDADES EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE


É verdadeiramente surreal que mais de trinta professores portugueses contratados no início do ano letivo pela Escola portuguesa de São Tomé e Príncipe, tutelada pelo Ministério da Educação Português, estejam em situação ilegal, naquele país africano de língua oficial portuguesa porque ainda não têm vistos de permanência.
Começaram a trabalhar com um visto de turista, imagine-se, e agora caíram na ilegalidade, havendo multas a pagar e um processo de legalização por concluir.

como é possível que o ME português tenha deixado os seus professores caíram numa situação tão degradante, constrangedora e ilegal? é possível, porque no ME não se sabe trabalhar com eficiência e qualidade. Os trabalhadores deste ministério são muitas vezes abandonados à sua sorte, sem o mínimo de proteção legal ou social. 

Jamais os Ministérios da Educação e dos Negócios Estrangeiros deviam ter permitido que os  professores embarcassem para São Tomé sem que a sua situação contratual e  legal estivesse realmente estabelecida, mas o pouco profissionalismo aliado a um facilitismo inadmissível ditou infelizes regras.
No entanto, não se ficam por aqui as queixas dos professores portugueses a lecionar em São Tomé e Príncipe, pois o ME trata de maneira bem diferente os professores do quadro e os contratados: aos do quadro, paga-lhes alojamento, viagens e seguro familiar, além do salário correspondente ao que teriam em Portugal; aos contratados, nega-lhes o subsídio de arrendamento e não comparticipa no custo das viagens nem lhes oferece qualquer seguro de saúde. Aberrante, injusto, imoral.
GAVB

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

SALÁRIO MÍNIMO CHEGA AOS 600 EUROS - UMA BOA NOTÍCIA

Provavelmente das melhores notícias que o governo português conseguiu dar ao país nos últimos meses: finalmente o salário mínimo chegará aos 600 euros, já a partir de 2019. Ainda é um salário verdadeiramente mínimo e de subsistência, mas nota-se uma progressão sustentada e coerente, o que não acontece em mais nenhum patamar remuneratório. 
A decisão do governo acabou por privilegiar os mais pobres, o que é entendível e até defensável. 
Apesar de perceber que 600 euros por mês deixam milhões de portugueses no limiar da pobreza, não deixo de tomar nota do consistente esforço deste e doutros governos na tentativa de valorizar minimamente quem trabalha.

Há dez anos o salário mínimo estava nos 450 euros. (evolução do salário mínimo nacional)
Volvida uma década, percebe-se que aumentou um terço do seu valor de então. Ainda há um caminho a fazer, mas julgo que agora ele deve ser feito olhando também para os salários que se situam entre o salário mínimo e o salário médio. Esse deve ser o desafio da próximo década, a nível salarial, em Portugal, percebendo que o salário é apenas uma parte da equação do rendimento dos portugueses, pois o que realmente importa é aumentar o valor disponível para cada cidadão ou família. 
Além do salário, há outras áreas em que será desejável uma mudança, como a baixa generalizada dos impostos, pois releva pouco a subida do ordenado quando mais de 30% dele é consumido em impostos direitos e indiretos. 
Aguardemos para perceber se os próximos passos serão em falsos ou uma decisão firme de construir um paradigma salarial diferente do atual.

GAVB

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

FELIZ É O PROFESSOR QUE APRENDE ENSINANDO


Professor, “sois o sal da terra e a luz do mundo”.
Sem vós tudo seria baço e a terra escura.
Professor, faz de tua cadeira,
a cátedra de um mestre.
Se souberes elevar teu magistério,
ele te elevará à magnificência.
Tu és um jovem, sê, com o tempo e competência,
um excelente mestre.

Meu jovem Professor, quem mais ensina e quem mais aprende?
O professor ou o aluno?
De quem maior responsabilidade na classe,
do professor ou do aluno?
Professor, sê um mestre.

Há uma diferença subtil
entre este e aquele.
Este leciona e vai prestes a outros afazeres.
Aquele mestreia e ajuda seus discípulos.
O professor tem uma tabela a que se apega.
O mestre excede a qualquer tabela e é sempre um mestre.

Feliz é o professor que aprende ensinando.
A criatura humana pode ter qualidades e faculdades.
Podemos aperfeiçoar as duas.
A mais importante faculdade de quem ensina
é a sua ascendência sobre a classe
Ascendência é uma irradiação magnética, dominadora
que se impõe sem palavras ou gestos,
sem criar atritos, ordem e aproveitamento.
É uma força sensível que emana da personalidade
e a faz querida e respeitada, aceita.
Pode ser consciente, pode ser desenvolvida na escola,
no lar, no trabalho e na sociedade.
Um poder condutor sobre o auditório, filhos, dependentes, alunos.
É tranquila e atuante. É um alto comando obscuro
e sempre presente. É a marca dos líderes.

A estrada da vida é uma reta marcada de encruzilhadas.
Caminhos certos e errados, encontros e desencontros
do começo ao fim.
Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
O melhor professor nem sempre é o de mais saber,
é sim aquele que, modesto, tem a faculdade de transferir
e manter o respeito e a disciplina da classe….

Cora Coralina, em “Ainda Aninha…”, no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”