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quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

SE ENCOSTARMOS O OUVIDO...


«Estás a ouvir? - Perguntou o principezinho . - Acordámos o poço e ele pôs-se a cantar...»

Lembro-me muitas vezes desta pergunta do herói de Saint-Exupèry quando encontra um poço em pleno deserto. Não se esperam que existam poços em pleno deserto. Não se esperam que existam poços aí. Ele, porém, garante que "o que torna belo um deserto é que ele esconde um poço em qualquer lugar."

A nossa vida também esconde um poço, mesmo se sentimos a aridez a cobri-la com o seu fino manto de desolação. Resmungamos com a vida. Falta-lhe qualquer coisa, nada é perfeito, nunca nada está acabado, nada resolvido. É como se estivéssemos a jogar um jogo insolúvel: se temos o poço, falta-nos a corda; se temos a corda falta-nos o balde; se temos a corda, o balde e o poço, falta-nos a força para irmos até ao fundo da nascente buscar a água que nos dessedente. 


Nesta narrativa espiritual tão intensa que é o Principezinho não falta nada. O que nele se ensina é que cada um de nós tem aquilo de que precisa para experimentar a alegria. Não é um problema de conhecimento, é uma questão de olhar. olhamos para o que somos e para o que nos rodeia com um coração capaz de sintonizar com o dom que nos habita. Se encostarmos o ouvido à extensão da nossa Vida, ela cantará!

José Tolentino Mendonça

Este foi o texto, num pequeno cartão personalizado, que a minha colega Sara Magalhães levou para a reunião de avaliação do seu conselho de turma. Ofereceu um a cada colega,surpreendendo todos com o seu gesto e a sua sensibilidade. 
Provavelmente o melhor momento do dia.   

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