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domingo, 14 de fevereiro de 2016

POLÍTICA EDUCATIVA: PÃO E CIRCO


Surpresa e tristeza! Eis os sentimentos que me invadem perante as notícias postas a circular na imprensa portuguesa sobre as luminosas ideias que a nova equipa ministerial da Educação tem para o futuro. Segundo alguns jornais, há gente no Ministério da Educação que acha que os “chumbos” (leia-se pessoas que reprovam) devem diminuir por decreto e que a Escola deve ser a tempo inteiro, estando aberta até às 19h. 30m.


Acho as duas pretensas medidas absolutamente erradas, mas estão em consonância com o fim das provas do 4.º e 6.º anos e a introdução de provas de aferição sem qualquer valor para a nota final do aluno. Infelizmente o quadro começa a compor-se, mas o cenário é negro para o futuro dos jovens e crianças portugueses e por inerência do próprio país.
Resumidamente, aquilo que este Ministério da Educação parece pretender é entreter as crianças/jovens portugueses durante doze anos, dez horas por dia, garantindo-lhes, quase que por decreto, uma aprovação, onde o mérito fará figura de corpo presente.

Como pode o Ministério mandar dizer que vai baixar a taxa de chumbos no ensino obrigatório? É insultuoso para o trabalho dos professores, põe em causa a sua dignidade profissional, dá um claro sinal aos alunos que o seu mérito nas sucessivas passagens de ano será irrelevante. Mas algum aluno sentirá necessidade de aprender quando a sua passagem estará garantida? Quantos adultos se aplicariam nos seus trabalhos se soubessem que a sua presença por si só garantiria 90% do seu salário? Com este tipo de mentalidade, a humanidade nunca teria evoluído.
Advogam os entendidos em Educação (que não os agentes educativos) que as crianças evoluem melhor sem a pressão dos resultados. Errado! Evoluem melhor sem a pressão excessiva dos resultados. Com esta medida, a escola caminhará para a infantilização, tornando as futuras gerações totalmente impreparadas e cavando ainda mais o fosso entre classes, já que a escola era a única garantia que os mais desfavorecidos tinham de poder ascender social e economicamente.

A ideia é pois tornar a escola portuguesa numa espécie de circo romano, onde o povo se vai entreter enquanto aprende algumas coisas básicas, a um ritmo tão lento que desmotivará qualquer criança minimamente curiosa. É, claramente, a política do “pão e circo”, em que os professores serão uma espécie de palhaços pobres e cansados, prontos a entreter as criancinhas, cada vez mais crescidas e malcriadas, desde o pequeno-almoço até ao jantar, com a obrigatoriedade de os passar de ano.
Os professores querem isto? Os alunos querem isto? Os pais dos alunos querem isto? Sinceramente, acho que nenhum destes agentes educativos quer este cenário para a Educação em Portugal, pois todos temos consciência de quanto isso será nocivo para o desenvolvimento do país. No entanto, provavelmente, estas medidas serão aprovadas com a habitual habilidade política de quem não faz outra coisa na vida que não seja ser habilidoso, mas não tem habilidade para fazer nada de significativo.

A escola portuguesa não precisa de passagens administrativas nem de alunos com 40 horas semanais. Precisa de melhores espaços para os alunos mais carenciados desenvolverem atividades extracurriculares de modo gratuito, orientadas por outros profissionais que não os professores; precisa de reciclar urgentemente os seus professores que ensinam como viram fazer há quarenta anos,  quando não havia computadores, internet, telemóveis nem o conhecimento voava à velocidade da luz. 
A escola portuguesa precisa de aumentar o ritmo de trabalho e não de o diminuir.
 Isso pode fazer-se respeitando o baixo ritmo de aprendizagem de muitos alunos que também têm direito aos seus doze anos de escolaridade obrigatória? Pode. 
Nem todos temos de aprender o mesmo, ao mesmo tempo, segundo o mesmo método. A grande maioria dos alunos pode obter o seu sucesso, evoluindo ao seu ritmo, na escola pública portuguesa, sem passar por favor e adquirindo conhecimentos e ferramentas importantes e úteis. 
O que é preciso é querer dar mais, ser melhor, encontrar boas soluções (que elas existem) e não propor as mesmas enganosas soluções de sempre.
O facilitismo enjoa até aos mais preguiçosos e impreparados.

Gabriel Vilas Boas

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