Surpresa e tristeza! Eis os sentimentos
que me invadem perante as notícias postas a circular na imprensa portuguesa
sobre as luminosas ideias que a nova equipa ministerial da Educação tem para o
futuro. Segundo alguns jornais, há gente no Ministério da Educação que acha que
os “chumbos” (leia-se pessoas que reprovam) devem diminuir por decreto e que a
Escola deve ser a tempo inteiro, estando aberta até às 19h. 30m.
Acho as duas pretensas medidas absolutamente
erradas, mas estão em consonância com o fim das provas do 4.º e 6.º anos e a
introdução de provas de aferição sem qualquer valor para a nota final do aluno.
Infelizmente o quadro começa a compor-se, mas o cenário é negro para o futuro
dos jovens e crianças portugueses e por inerência do próprio país.
Resumidamente, aquilo que este Ministério
da Educação parece pretender é entreter as crianças/jovens portugueses durante
doze anos, dez horas por dia, garantindo-lhes, quase que por decreto, uma
aprovação, onde o mérito fará figura de corpo presente.
Como pode o Ministério mandar dizer que vai
baixar a taxa de chumbos no ensino obrigatório? É insultuoso para o trabalho
dos professores, põe em causa a sua dignidade profissional, dá um claro sinal
aos alunos que o seu mérito nas sucessivas passagens de ano será irrelevante.
Mas algum aluno sentirá necessidade de aprender quando a sua passagem estará
garantida? Quantos adultos se aplicariam nos seus trabalhos se soubessem que a
sua presença por si só garantiria 90% do seu salário? Com este tipo de
mentalidade, a humanidade nunca teria evoluído.
Advogam os entendidos em Educação (que não
os agentes educativos) que as crianças evoluem melhor sem a pressão dos
resultados. Errado! Evoluem melhor sem a pressão excessiva dos resultados. Com
esta medida, a escola caminhará para a infantilização, tornando as futuras
gerações totalmente impreparadas e cavando ainda mais o fosso entre classes, já
que a escola era a única garantia que os mais desfavorecidos tinham de poder
ascender social e economicamente.
A ideia é pois tornar a escola portuguesa
numa espécie de circo romano, onde o povo se vai entreter enquanto aprende algumas coisas básicas, a um ritmo tão lento que desmotivará
qualquer criança minimamente curiosa. É, claramente, a política do “pão e circo”,
em que os professores serão uma espécie de palhaços pobres e cansados, prontos
a entreter as criancinhas, cada vez mais crescidas e malcriadas, desde o
pequeno-almoço até ao jantar, com a obrigatoriedade de os passar de ano.
Os professores querem isto? Os alunos
querem isto? Os pais dos alunos querem isto? Sinceramente, acho que nenhum
destes agentes educativos quer este cenário para a Educação em Portugal, pois
todos temos consciência de quanto isso será nocivo para o desenvolvimento do
país. No entanto, provavelmente, estas medidas serão aprovadas com a habitual
habilidade política de quem não faz outra coisa na vida que não seja ser habilidoso, mas
não tem habilidade para fazer nada de significativo.
A escola portuguesa não precisa de passagens
administrativas nem de alunos com 40 horas semanais. Precisa de melhores
espaços para os alunos mais carenciados desenvolverem atividades
extracurriculares de modo gratuito, orientadas por outros profissionais que não
os professores; precisa de reciclar urgentemente os seus professores que
ensinam como viram fazer há quarenta anos,
quando não havia computadores, internet, telemóveis nem o conhecimento voava à velocidade da luz.
A escola portuguesa precisa de aumentar o ritmo de
trabalho e não de o diminuir.
Isso pode fazer-se respeitando o baixo ritmo de aprendizagem
de muitos alunos que também têm direito aos seus doze anos de escolaridade
obrigatória? Pode.
Nem todos temos de aprender o mesmo, ao mesmo tempo, segundo
o mesmo método. A grande maioria dos alunos pode obter o seu sucesso, evoluindo
ao seu ritmo, na escola pública portuguesa, sem passar por favor e adquirindo conhecimentos e ferramentas importantes e úteis.
O que é preciso é querer dar mais, ser melhor, encontrar boas
soluções (que elas existem) e não propor as mesmas enganosas soluções de sempre.
O facilitismo enjoa até aos mais
preguiçosos e impreparados.
Gabriel
Vilas Boas
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