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domingo, 28 de fevereiro de 2016

FUTRE, O VERDADEIRO ARTISTA

 Há 33 anos, quando me apaixonei pelo futebol, Paulo Futre dava início à sua carreira de futebolista profissional. Ainda hoje me lembro das palavras do meu primo: «Há um jogador no Sporting muito bom. Chama-se Futre. Mal entra, o Sporting marca logo um golo.» Infelizmente para o Sporting, o treinador Joseph Venglos não compreendeu que os génios são precoces e Futre (que só ganhava 70 contos por mês no Sporting), foi lançar o Porto europeu, onde passou a ganhar 30 mil contos em três anos. O seu brilho no F.C. Porto foi tão intenso que por lá só andou dois anos, não sem antes ser campeão nacional, vencedor da Taça de Portugal e Campeão Europeu, na inolvidável vitória em Viena, em maio de 1987, Sobre o Bayern de Munique. Lembro-me perfeitamente daquela jogada fabulosa, que só Futre era capaz de fazer, sobre a direita do ataque do Porto, que não acabou em golo mas acabou por o levar para Madrid, na primeira transferência milionária do futebol português.

Futre era um predestinado. Nasceu para os grandes palcos, aqueles onde só os artistas podem atuar. O sonho de uma plateia de pé a gritar o seu nome era apenas um truque inspirador que usava para soltar todo o virtuosismo do seu pé esquerdo, capaz de fintar cinco italianos numa cabine telefónica.
Futre tinha aquela fúria de vencer dos grandes heróis nascidos na rua. Como um furacão arrancava decidido, por entre adversários grandes e corpulentos, numa sucessão de fintas estonteantes que fazia ajoelhar qualquer plateia. Normalmente oferecia a glória suprema do golo a um colega, mas eram para ele as palmas, os «oooh» de espanto, o brilho nos olhos de quem o via jogar.

Durante uma década foi o grande orgulho de uma nação que não ia a Mundiais nem a Europeus de futebol, mas tinha o Futre no Atlético de Madrid, onde nunca foi campeão, mas conquistou o respeito a admiração de um país habituado a ver jogar os melhores. 
Assinou jogos memoráveis contra o Real Madrid e Barcelona, ganhando Taças do Rei e Supertaças.

Em Portugal cumpriu o sonho de qualquer futebolista: jogou nos três grandes, onde sempre ganhou títulos, exceto no Sporting, porque não o deixaram fazer carreira apesar de o seu coração ter sido sempre leão.
O amor de toda uma vida foi e é o Atlético de Madrid, onde viveu uma relação de amor e ódio com o falecido e polémico presidente Jesus Gil y Gil. Ainda hoje fala na primeira pessoa do plural quando se refere ao clube madrileno.
Atrevido em campo como na vida, Futre sempre transportou aquele sorriso malandro que cativava as raparigas e dava baile aos adversários. Todavia, jamais foi arrogante ou  desrespeitoso. Paulo Futre foi e é um homem de bem com a vida, um talento do futebol que preferiu sempre ser um herói à Che Guevara do que um colecionador de títulos.

Além do Sporting, Benfica, Porto, Atlético de Madrid, também jogou no Marselha, no Milan, no West Ham, no Reggiana, até que uma lesão grave o fez parar, prematuramente, há dezoito anos.

Só que Futre já tinha ganho por direito o seu lugar no Olimpo do futebol português. Com fintas, com jogadas fabulosas, com golos, com títulos, com exibições monstruosas. Até aparecer Figo, Rui Costa, Paulo Sousa, Vítor Baía, João Pinto e Ronaldo, era ele o sucessor de Eusébio. Verdadeiramente um homem simples, não discutia o trono do King e até afirmava que Chalana era o seu ídolo.


Gerindo a riqueza que o futebol lhe proporcionou, soube inserir-se no contexto do futebol atual, aproveitando as suas qualidades sem calcar ninguém. Divertido, bem-humorado, positivo, sempre mostrou o lado alegre do futebol. 
Hoje completa 50 anos de vida. Se ainda jogasse talvez viessem charters de chineses para o ver, porque, na verdade, nunca lhe faltou o motor de arranque para esburacar defesas carrancudas e seduzir plateias difíceis. Quando engatava, já ninguém mais o parava. 
Gabriel Vilas Boas

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