Talvez a maioria de nós conheça o “Em Nome
da Rosa” do cinema, mas todos sabem quem escreveu o romance e não quem realizou
o filme. Umberto Eco morreu ontem. Não contava! Esperava-o ver em Portugal, lá
para o outono, nas comemorações do centenário do Museu Grão Vasco. Já não vai
ser possível…
O bom dos escritores é que o melhor deles
permanece – a sua obra. Dela emerge o sublime “Em Nome da Rosa”, um romance
extraordinário que relata as aventuras de um frade franciscano, Guilherme de
Baskerville, e do seu jovem aprendiz Adson von Melk, que são chamados para
resolver uma misteriosa morte numa abadia medieval.
O enigma, o mistério, a arguta
inteligência do franciscano são apenas o cimento narrativo para Umberto Eco
desenvolver uma tripla temática: a religião (e as suas fronteiras com o
conhecimento e com o Homem), o amor aos livros e o riso.
Eco transmite de uma forma muito clara o
poder que a Igreja Católica tinha na sociedade da Idade Média, dominando a sua
mentalidade e por via disso exercendo um poder autoritário e totalitário. E
também desumano, que não admitia réplica e justificava como ações do maligno
tudo o que não conseguia explicar ou não lhe interessava explicar. Ora, é esse
poder podre que Umberto Eco quis expor através do seu protagonista, fabulosamente
interpretado por Sean Connery. Ele não podia aceitar uma igreja sem humanismo e
adorava de tal forma o conhecimento para aceitar respostas emocionais para
aquilo que era racional. A sua luta no enredo e de Eco na literatura/cidadania
era demonstrar que é possível conciliar fé e razão. Como diria Santo Agostinho “Compreender
para crer, crer para compreender.”
O franciscano, tão orgulhoso da sua
capacidade intelectual quanto da sua fé, não acreditava em livros proibidos e
por isso prova que os assassínios tinham uma explicação lógica e fútil. A chave
do enigma estava na Biblioteca da abadia. Local onde todo o conhecimento se
concentrava, tornara-se no centro do poder, pois poucos tinham acesso a todos
os livros.
Tão pouco habituados a partilhar o poder como a encontrar outra visão para a relação do Homem com Deus, os velhos guardiões do modelo teocêntrico não podiam conceder que os mais cultos frades achassem natural o riso e a comédia, depois de lerem o Livro II da Poética de Aristóteles. Por isso trataram de os envenenar e, em desespero, destruir uma das melhores bibliotecas europeias da época medieval. Mesmo assim o riso triunfou sobre o medo. Talvez porque seja apenas humano e sobre ele não possa descer qualquer sombra de pecado. Hoje rimo-nos destes monges obtusos da época medieval, mas a mudança de mentalidades sempre foi um processo doloroso, porque lida com o medo, o poder e o desconhecido.
Tão pouco habituados a partilhar o poder como a encontrar outra visão para a relação do Homem com Deus, os velhos guardiões do modelo teocêntrico não podiam conceder que os mais cultos frades achassem natural o riso e a comédia, depois de lerem o Livro II da Poética de Aristóteles. Por isso trataram de os envenenar e, em desespero, destruir uma das melhores bibliotecas europeias da época medieval. Mesmo assim o riso triunfou sobre o medo. Talvez porque seja apenas humano e sobre ele não possa descer qualquer sombra de pecado. Hoje rimo-nos destes monges obtusos da época medieval, mas a mudança de mentalidades sempre foi um processo doloroso, porque lida com o medo, o poder e o desconhecido.
O riso mata o temor mas o temor não mata a
fé. Uma fé que vive de temor nem chega a ser fé, é apenas um inútil medo que o
vento levará com o tempo.
Quando releio o livro ou revejo o filme,
lembro-me de quão importante é o riso e o Amor para o Homem e recordo a frase
do romance que mais me marcou:
“A vida seria tranquila sem amor. Segura,
sossegada e… monótona!”
Gabriel
Vilas Boas
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