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sábado, 20 de fevereiro de 2016

EM NOME DE UMBERTO ECO


Talvez a maioria de nós conheça o “Em Nome da Rosa” do cinema, mas todos sabem quem escreveu o romance e não quem realizou o filme. Umberto Eco morreu ontem. Não contava! Esperava-o ver em Portugal, lá para o outono, nas comemorações do centenário do Museu Grão Vasco. Já não vai ser possível…

O bom dos escritores é que o melhor deles permanece – a sua obra. Dela emerge o sublime “Em Nome da Rosa”, um romance extraordinário que relata as aventuras de um frade franciscano, Guilherme de Baskerville, e do seu jovem aprendiz Adson von Melk, que são chamados para resolver uma misteriosa morte numa abadia medieval.
O enigma, o mistério, a arguta inteligência do franciscano são apenas o cimento narrativo para Umberto Eco desenvolver uma tripla temática: a religião (e as suas fronteiras com o conhecimento e com o Homem), o amor aos livros e o riso.

Eco transmite de uma forma muito clara o poder que a Igreja Católica tinha na sociedade da Idade Média, dominando a sua mentalidade e por via disso exercendo um poder autoritário e totalitário. E também desumano, que não admitia réplica e justificava como ações do maligno tudo o que não conseguia explicar ou não lhe interessava explicar. Ora, é esse poder podre que Umberto Eco quis expor através do seu protagonista, fabulosamente interpretado por Sean Connery. Ele não podia aceitar uma igreja sem humanismo e adorava de tal forma o conhecimento para aceitar respostas emocionais para aquilo que era racional. A sua luta no enredo e de Eco na literatura/cidadania era demonstrar que é possível conciliar fé e razão. Como diria Santo Agostinho “Compreender para crer, crer para compreender.”  
O franciscano, tão orgulhoso da sua capacidade intelectual quanto da sua fé, não acreditava em livros proibidos e por isso prova que os assassínios tinham uma explicação lógica e fútil. A chave do enigma estava na Biblioteca da abadia. Local onde todo o conhecimento se concentrava, tornara-se no centro do poder, pois poucos tinham acesso a todos os livros. 

Tão pouco habituados a partilhar o poder como a encontrar outra visão para a relação do Homem com Deus, os velhos guardiões do modelo teocêntrico não podiam conceder que os mais cultos frades achassem natural o riso e a comédia, depois de lerem o Livro II da Poética de Aristóteles. Por isso trataram de os envenenar e, em desespero, destruir uma das melhores bibliotecas europeias da época medieval. Mesmo assim o riso triunfou sobre o medo. Talvez porque seja apenas humano e sobre ele não possa descer qualquer sombra de pecado. Hoje rimo-nos destes monges obtusos da época medieval, mas a mudança de mentalidades sempre foi um processo doloroso, porque lida com o medo, o poder e o desconhecido.
O riso mata o temor mas o temor não mata a fé. Uma fé que vive de temor nem chega a ser fé, é apenas um inútil medo que o vento levará com o tempo.
Quando releio o livro ou revejo o filme, lembro-me de quão importante é o riso e o Amor para o Homem e recordo a frase do romance que mais me marcou:
“A vida seria tranquila sem amor. Segura, sossegada e… monótona!”

Gabriel Vilas Boas 


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