“- É proibido?
- É!
- E pode fazer-se?!
- Pode!
- E o que é que acontece?
- Nada!”
Nunca se soube tanto
sobre as feias entranhas do país como agora e nunca como agora se fez tão pouco
para as estripar de um corpo muito acostumado à sua doença crónica.
Poucos portugueses
ignoram os casos de corrupção na banca e na política; a pornográfica morosidade
da justiça; as falhas de um sistema nacional de saúde exausto, onde até a
humanidade já tem um preço.
Quase diariamente somos
confrontados com mais uma notícia sobre uma vilania, um crime, uma imoralidade.
Já nos tornámos emocionalmente imunes, especialmente porque nos sentimos
impotentes para os reverter. Percebemos que as leis que nos regem são apenas
lixo legislativo, laboriosamente fabricado para impedir criminosos de pagar as
suas malfeitorias.
É provável que sempre
tenha sido assim e que agora só tenhamos mais consciência disto ou que a pouca
vergonha ande à solta. Discutir quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, é só
uma forma de esgotar energias e perpetuar um país feio, onde gente de bem não
se revê.
Os portugueses não
precisam de mais uma denúncia, mais um escândalo para vampirizar, mais um banco
falido, mais uma morte num hospital central, por falta de meios humanos ou de
medicamentos.
Os meus concidadãos
precisam que cada profissional vá resolvendo a parte do problema que lhe cabe,
com celeridade, ponderação, justiça e coragem.
Ao contrário do que
possa parecer, acho que cada um de nós pode fazer algo para drenar o pântano.
Podíamos começar por não fomentar discussões inúteis acerca de assuntos que não
admitem duas interpretações e fazer a nossa parte na empresa, na família ou no
café.
Quando a audiência da Casa dos Segredos descer ao nível do
programa, “aquela coisa” acaba; quando deixarmos de votar em gente corrupta ou
altamente suspeita de corrupção, o seu poder diminuirá e os pouco corajosos agentes
da justiça tratarão de os acusar e julgar. Não aceitemos julgamentos
televisivos, mas exijamos decisões rápidas nas verdadeiras Casas da Justiça.
Portugal está muito necessitado de dirigentes que decidam, que invistam em quem
quer desenvolver o seu trabalho com rentabilidade nas diversas áreas da
economia.
Atualmente, poucas
instituições internacionais acreditam na credibilidade do país. Não é do
partido A ou B, mas de Portugal. Não tenhamos ilusões tontas. Claro que quem
descredibilizou o país não foi o português anónimo, mas aqueles que governaram
Portugal. Ora, foi o nosso não querer saber, o nosso “deixa andar”, que criou
este estado parasitário que nos suga os ossos e afugenta os médicos. Não temos
o direito nem credibilidade para aumentar 30 euros aos salários mais baixos da
nação, porque os nossos geniais gestores bancários nos envergonharam em vários
milhões de euros à hora.
Gostava de viver num
país onde os atos tivessem sempre consequência. Os bons e os maus, porque, por
vezes, pior do que decidir mal é não decidir.
Nos dias que correm, as
peças de teatro não agonizam nas salas vazias de espetáculos. Ao fim de
cinco/seis sessões, todo o público com vontade de ver determinada peça já a viu
e a Companhia ruma a nova cidade ou parte para outro projeto.
A vida faz-se de ação e
decisão. A vida não para, nós é que paramos! E parar é chamar a morte…
Gabriel Vilas Boas
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