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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

CAPT(UR)ANDO A EXPLORAÇÃO INFANTIL


O dia de hoje começou com uma boa notícia: o fotógrafo português Mário Cruz ganhou o primeiro prémio do World Press Photo 2015, na categoria Temas Contemporâneos, com uma fotografia sobre o tema da exploração infantil no Senegal.
Mário Cruz foi à denominada “cidade dos talibés”, à procura de documentar uma realidade que o inquietava – rapazes entre os cinco e os quinze anos que vivem em escolas islâmicas e que a pretexto de receberem uma educação corânica são obrigados a mendigar nas ruas, entregando tudo o que ganham aos seus professores, que muitas vezes lhes batem e até os violam.

Mário Cruz chamou ao seu trabalho “Talibés, modern-day slaves” e com ele chamou atenção do mundo para uma nova forma de exploração do trabalho infantil, tão indigna que se assemelha à escravatura.
O trabalho/exploração infantil nunca foi um problema económico, mas sim de mentalidade e de falta de ética e humanidade. Este é um problema que já foi tão português e dele ouvia falar nas rádios e televisões quando eu próprio era criança. Felizmente, soubemos contrariá-lo.

Agora ele não pode significar apenas uma foto, um prémio, porque é um problema dos outros. Temos de assumir a nossa condição de seres humanos, interpretando-a através de atos concretos. Não de retaliação, mas de defesa da nossa dignidade. Não querer saber de onde vem as calças que vestimos, as bolas que os nossos filhos chutam na relva ou de onde vêm as bugigangas que compramos vai além da cobardia ou da inconsciência e invade os domínios da imoralidade.

O grão e o desfoque da fotografia a preto e branco sugere a situação de clandestinidade por um lado e por outro acentua a indignidade a que estas crianças são submetidas.
Uma fotografia não salva vidas, mas incomoda consciências. E serão as consciências incomodadas que que salvarão as vidas futuras.

Gabriel Vilas Boas

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