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domingo, 21 de fevereiro de 2016

ZIKA - O INTELIGENTE PRETEXTO PAPAL


No regresso do México, na já habitual conversa com os jornalistas que o acompanharam em mais uma viagem apostólica, o Papa Francisco admitiu o uso do preservativo para combater o vírus Zika.
Ainda que dito com todas as cautelas (“evitar a gravidez não é um mal absoluto”, pelo que, em situações de extremo risco, a utilização de métodos contracetivos, é o “menor dos males”), o Papa não deixou de passar a sua mensagem. Acho que todos já suspeitávamos que este era o pensamento de Francisco e sabíamos que mais tarde ou mais cedo ele introduziria o tema no seu roteiro para a revolução tranquila na Igreja Católica, mas a forma hábil como ele aproveitou o flagelo do Zika, que assusta todo o mundo, diz bem da sua perspicácia política para habilmente passar a mensagem.


O mundo não se comoveu nem exultou com a fresta que se abriu no muro eclesiástico, porque este é um tema sem discussão na generalidade das sociedades livres e democráticas. A maioria das pessoas acha que cabe à Igreja fazer o caminho de aproximação àquilo que o senso comum dita como mais correto. E Francisco percebeu isso há bastante tempo. Com as afirmações que vai deixando cair na imprensa prepara o caminho e a mentes (mais fora do que dentro da Igreja) para que a sociedade tenha cada vez mais pontos de contacto com a doutrina da Igreja.

É uma luta contra o tempo e contra os preconceitos; uma luta de poder e de poderes, mas também uma luta justa, de quem acha que o mundo não tem apenas duas cores e a fé não faz sentido sem humanismo nem contexto.
É verdade que os crentes precisam de se reaproximar de Deus, mas também é verdade que a Igreja precisa de não afastar Deus das pessoas. A Igreja precisa de abandonar de vez uma matriz diretiva e punitiva e centrar-se, definitivamente, na sua matriz fundamental: o Amor.

Gabriel Vilas Boas

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