No regresso do México, na já
habitual conversa com os jornalistas que o acompanharam em mais uma viagem
apostólica, o Papa Francisco admitiu o uso do preservativo para combater o
vírus Zika.
Ainda que dito com todas as cautelas (“evitar
a gravidez não é um mal absoluto”, pelo que, em situações de extremo risco, a
utilização de métodos contracetivos, é o “menor dos males”), o Papa não deixou
de passar a sua mensagem. Acho que todos já suspeitávamos que este era o
pensamento de Francisco e sabíamos que mais tarde ou mais cedo ele introduziria
o tema no seu roteiro para a revolução tranquila na Igreja Católica, mas a
forma hábil como ele aproveitou o flagelo do Zika, que assusta todo o mundo, diz
bem da sua perspicácia política para habilmente passar a mensagem.
O mundo não se comoveu nem exultou com a
fresta que se abriu no muro eclesiástico, porque este é um tema sem discussão
na generalidade das sociedades livres e democráticas. A maioria das pessoas
acha que cabe à Igreja fazer o caminho de aproximação àquilo que o senso comum
dita como mais correto. E Francisco percebeu isso há bastante tempo. Com as
afirmações que vai deixando cair na imprensa prepara o caminho e a mentes (mais
fora do que dentro da Igreja) para que a sociedade tenha cada vez mais pontos de
contacto com a doutrina da Igreja.
É uma luta contra o tempo e contra os
preconceitos; uma luta de poder e de poderes, mas também uma luta justa, de quem
acha que o mundo não tem apenas duas cores e a fé não faz sentido sem humanismo
nem contexto.
É verdade que os crentes precisam de se
reaproximar de Deus, mas também é verdade que a Igreja precisa de não afastar
Deus das pessoas. A Igreja precisa de abandonar de vez uma matriz diretiva e
punitiva e centrar-se, definitivamente, na sua matriz fundamental: o Amor.
Gabriel Vilas Boas
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