Manuel António Pina deixou-nos há
cerca de ano e meio. Viveu uma vida plena, dedicada à literatura e ao
jornalismo. Escreveu poesia, teatro, histórias infanto-juvenis, crónicas.
Durante cerca de quatro décadas
escreveu para crianças e para adultos com uma qualidade e acutilância acima da
média e por isso em 2011, muito justamente, foi-lhe atribuído o maior prémio da
língua e da literatura portuguesas, o Prémio Camões, pela totalidade da sua
obra.
Hoje, quero apenas falar-vos do Manuel António Pina
dramaturgo. Os dois ladrões (1983) O Inventão (1987), A noite (2001), Perguntem aos
Vossos gatos e aos vossos cães (2002), Aquilo que os olhos veem, o Adamastor
(1998), História do sábio fechado na sua Biblioteca (2009), Os Macacos não se
medem aos palmos (2011,
são os seus textos dramáticos.
História do Sábio Fechado na sua Biblioteca
A companhia de teatro portuense “Pé
de Vento” tem feito um trabalho notável para trazer às crianças e jovens os
textos de Manuel António Pina. Há dois anos trouxe à cena a peça “História do Sábio Fechado na sua
Biblioteca”. Nela verificamos que a
enorme sabedoria do sábio é a sua maldição. Cansado de viver, o sábio deseja a morte,
mas percebe que não se pode entregar à Morte, porque ela só o apanhará quando
ele não a reconhecer. Ora o seu dilema era reconhecer tudo… A libertação
implica uma saída do labirinto de livros em que se enredou. Só quando se decide
a enfrentar a realidade é que descobre a verdadeira fome, a verdadeira
compaixão, o verdadeiro sofrimento, o verdadeiro amor, ou seja, descobre como
era limitada a sua sabedoria.
Trata-se
por isso duma lição, em forma de parábola, sobre os limites do conhecimento, de
Manuel António Pina, onde a ironia é um ingrediente indispensável.
Durante a temporada de 2013/2014, a companhia Pé de Vento encenou “Os macacos não se medem aos palmos”. Vi-a
no domingo passado, na companhia das minhas filhas, no Teatro da Vilarinha, no
Porto. A peça conta a história do macaquinho Basílio que recolhia numa caneca
os donativos destinados ao seu dono, Fagundes da Silveira, um tocador de
realejo. Fagundes teria enriquecido se não tivesse gastado todo o dinheiro
arrecadado no jogo e outras extravagâncias… Mais ajuizado, Basílio foi
guardando nas pregas do seu casado de cetim (e sem que Fagundes se apercebesse)
algumas das moedas que angariava até atingir considerável pecúlio. Certo dia,
os papéis inverteram-se e Fagundes completamente falido vende o realejo ao
macaco e passa a trabalhar para este.
Os macacos não se medem aos plamos
E eis
que temos um mundo ao contrário, que António Pina cria com muita imaginação e
humor para ensinar às crianças, aos jovens e aos menos jovens que um homem (ou
um macaco) sagaz e astucioso vai longe na vida, na justa medida em que sabe
aproveitar as fraquezas e debilidades do seu semelhante.
Se não
tiverem oportunidade de ir ao teatro, peguem numa peça de Manuel António Pina e
representem-na em família. Vão ver que descobrem algumas coisas sobre vocês e
sobre os outros.
Gabriel
Vilas Boas
VOU REPRESENTAR: "HISTÓRIA DO SÁBIO FECHADO NA SUA BIBLIOTECA", LOL...
ResponderEliminarVOU DESCOBRIR ALGUMA COISA... GOSTEI MUITO. PARABÉNS GABRIEL!