Hoje
não nos deteremos propriamente num pintor, mas num quadro. Por vezes, há momentos raros de
inspiração que tornam um pintor célebre para a posteridade. Esses momentos ficam plasmados na tela, em quadros únicos. É o caso do óleo sobre tela que
Diego Velázquez pintou, em 1536, a uma escala quase real, sobre a
infanta Margarida (filha dos reis de Espanha, Filipe IV e Margarida de Áustria)
e as suas damas de companhia, “as meninas”.
AS MENINAS
Este quadro invulgar, todo ele pintado em cuidada perspetiva, permite-nos espreitar os bastidores da vida da realeza. Mostra-nos uma
jovem princesa espanhola, a infanta Margarida, com cerca de cinco anos, rodeada
das suas damas de honor, dos anões Maribarbola e Nicolás Pertusato
e de alguns cortesãos, incluindo o próprio artista.
À primeira
vista, a infanta parece ser o foco das atenções. As restantes figuras estão, graciosamente,
dispostas em seu redor e o fundo imerso numa bruma de escuridão oferece o
contraste perfeito para a luz dos angélicos cabelos da infanta e a claridade
sedosa do seu vestido, monopolizando na princesa o nosso olhar.
Mas se
examinarmos os rostos, tanto da infanta como de alguns dos outros presentes,
reparamos que convergem também eles o seu olhar num ponto e que esse ponto está
fora da imagem. O que concentra a sua atenção?
A
resposta vem do espelho pintado ao fundo deste quadro e que revela um casal a contemplar a cena – o rei e a rainha de
Espanha (os citados Filipe IV e Margarida de Aústria).
Ao
envelhecer, o monarca deixou de gostar que o retratassem, mas Diego Velázquez,
o pintor oficial do rei de Espanha, encontrou esta forma engenhosa de o inserir
na pintura sem contrariar a sua vontade. Uma habilidade que estaria para a
pintura da época como o photoshop está hoje para a fotografia. Embora
desfocado, o espelho incluído na pintura permite ver claramente o reflexo dos
reis, de pé sob uma cortina. E quem contempla a imagem fá-lo do mesmo ponto
onde estaria o casal real, o que torna o espectador quase um voyeur nesta janela indiscreta.
O quadro é também um documento
histórico, até da indumentária da época, com as suas golas bufantes e armações e
saiotes a estender as ancas até ao impossível, como se as personagens femininas
tivessem enfiado os pés em alguidares esburacados e os movessem, suspensos e em
surdina, debaixo dos seus vestidos.
Tem ainda a peculiaridade, depois muito copiada, e inspirada noutra obra
marcante - “Os esposos Arnolfini” de Yan
van Eyck –, de retratar também o próprio pintor. Velázquez pinta-se em ação,
com um olhar reflexivo e ostentando a cruz da Ordem de Santiago que confere
nobreza e distinção ao seu trabalho de pintor. No entanto, esta cruz não fazia
parte da composição original, foi acrescentada mais tarde, porque também só
ulteriormente o pintor foi agraciado com a nomeação de Cavaleiro daquela Ordem.
Uma pequenina “fraqueza”, bem compreensível à escala da mentalidade da época e quase pueril, sobretudo em quem se tornou maior do que qualquer artefacto.
Maria Vilas
BELÍSSIMA, A OBRA-PRIMA DE DIEGO VELÁZQUEZ!!! "AS MENINAS", EM QUE APARECE A INFANTA MARGARIDA, SUAS DAMAS E O PRÓPRIO PINTOR ESPAMHOL.
ResponderEliminarGOSTEI MUITO. PARABÉNS!