“E
ainda paisagens e paisagens a óleo e aguarela,
nuvens,terra,árvores,animais,campos,montes,praias, tudo animado dum místico
sentimento da Natureza, que o pintor possuía a Natureza como a mulher grávida
possui o filho.”
In António Carneiro, Teixeira de Pascoaes
A paisagem era também uma temática muito cara a Carneiro. As
marinhas (de Leça, da Figueira da Foz, de Melgaço, a marginal…) foram sendo
sugeridas ao pintor pela frequência destas praias apetecidas e que ele
acompanhava sempre com uns sonetos dedicados ao mar, por vezes até à lua...
Nessas praias, quase sempre desertas, ele pintava um oceano
revolto, por vezes calmo. O céu coroa as telas de azuis e brancos lumínicos, a
raiar os rosas, os roxos, consoante o estado de espírito daquele céu. Ou do
pintor? Quando há figuras, reconhecem-se os filhos. Quando há ação, surgem
barcos, velas, pescadores…
A atmosfera por norma é a do entardecer…a adesão ao ideal
panteísta é nítida.
Não serão estas paisagens simbólicas e intimistas, ao ponto
de nos narrarem aquilo que o autor não quer desvendar?
José Augusto França chamou a estas marinhas “visões” e não
“vistas”. Serão estas paisagens de António Carneiro mais um capítulo no seu
Simbolismo?
António Carneiro, Onda (Vaga, 1912, óleo sobre tela, 40x80cm, coleção particular
O
Mar (II)
Seu
incomensurável coração
Fala de
Amor, de Sonhos, de Saudade…
Soluça,
ou ruge a sua ansiedade
Em
longos haustos de insatisfação.
(…)
Solilóquios,
António Carneiro
Esta obra, “Onda”, é uma das mais reservadas pinturas que de António
Carneiro se conhecem e que provam o seu antinaturalismo. O mar aqui não está
domesticado graças ao denso colorido que o inunda, que lhe imprime movimento
anímico o que em muito denota a subjetividade do autor, a expressão do seu
mundo interior. E ,por fim, não resisto a partilhar aqui este óleo sobre
tela, s/ título, mas que representa uma das praias mais bonitas do norte de
Portugal. A mim lembra-me verões distantes, caminhadas refrescantes junto ao
mar, férias simples em família. E a
vocês?
António Carneiro. s/título (Capela de Nossa Senhora da Pedra), 1916
Rosa Maria Alves
da Fonseca
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