A ESCULTURA
Na Idade Média, as várias actividades artísticas não eram consideradas expressões independentes entre si. Esperava-se delas que contribuíssem para os objectivos e decoração da obra fundamental que era a Igreja, onde se reunia a comunidade cristã e onde se exaltava a grandeza do Criador. A escultura aparecia assim subordinada às necessidades e preferências da arte principal que era a arquitectura, dependendo totalmente dela!
Na Idade Média, as várias actividades artísticas não eram consideradas expressões independentes entre si. Esperava-se delas que contribuíssem para os objectivos e decoração da obra fundamental que era a Igreja, onde se reunia a comunidade cristã e onde se exaltava a grandeza do Criador. A escultura aparecia assim subordinada às necessidades e preferências da arte principal que era a arquitectura, dependendo totalmente dela!
Como a arquitectura, a escultura românica é
profundamente marcada pela cultura medieval e é um dos seus melhores expoentes.
É através da escultura que se afirma a ideia de omnipotente e omnipresente de
Deus, a ideia da religião como mistério, como única salvação para não se perder
num mundo desconhecido e obscuro.
Nas igrejas românicas de Amarante a escultura está limitada aos portais de acesso, bases e capitéis das colunas, modilhões das cornijas e pouco mais.
Nas igrejas românicas de Amarante a escultura está limitada aos portais de acesso, bases e capitéis das colunas, modilhões das cornijas e pouco mais.
O PÓRTICO
Os portais principais dos templos românicos eram quase sempre virados a
Oeste, frontais ao altar-mor, o que colocava os fiéis virados para Oriente
quando oravam! Estes portais eram um dos elementos profusamente esculpidos. Assumem
a forma rectangular e são encimados por um semicírculo (tímpano). O tímpano, é
suportado por um lintel, aquilo a que numa construção vulgar damos o nome de
“padieira” que assenta directamente sobre as colunas ou então em mísulas mais
ou menos decoradas! O portal não é rasgado a prumo, isto é, cortado a direito
na parede, mas sim com um voamento mais ou menos acentuado: o que significa
que, embora mantendo o mesmo perfil vai, a pouco e pouco, estreitando-se de
fora para dentro, como se pode ver nas figuras seguintes:
Pórtico Ocidental de Travanca Porta Norte de Travanca
Nas igrejas de três naves, como a de Travanca, este portal abre-se para a nave central!
Nas igrejas de três naves, como a de Travanca, este portal abre-se para a nave central!
A escultura materializa-se aqui, nas bases e capitéis dos colunelos; as
arquivoltas do Pórtico são quase sempre esculpidas e no caso do pórtico
ocidental de Travanca são-no em forma de rolo.
Como exemplo da decoração do tímpano, observemos o pórtico que dá acesso
à torre da Igreja do Mosteiro de Travanca que foi decorado com um “agnus dei” e
as arquivoltas decoradas como Xosé Lois Garcia tão bem descreve na caixa de
texto seguinte:
Poratal da torre de Travanca |
A porta é circundada por doze grifos que levam os doze ramos da vida. Estes seres híbridos (Leão e águia) configuram o poder de Cristo na terra (leão) e no céu (águia).
A arquivolta inferior está decorada por cinco faces de leão, que franqueiam a entrada. O tímpano tem um agnus dei, que ergue a cruz com a pata direita e tem a face posta nela.
Xosé Lois Garcia (adaptado)
No pórtico ocidental da Igreja de Jazente, o tímpano é sustentado por mísulas lisas que repousam sobre uma espécie de pilar ornado com estrias verticais. Este tímpano encontra-se perfurado por uma larga cruz com disco central, e no lintel há outra cruz gravada no granito. As duas arquivoltas não apresentam qualquer decoração!
Pórtico de Jazente
O CAPITEL
No românico de Amarante, assim como no românico em geral o capitel das colunas assume uma
importância relevante na escultura. Abandonam-se as ordens clássicas (dórica,
jónica e coríntia) e cria-se um capitel,
bastante grande, obtido pelo arredondamento na sua zona inferior, dos ângulos
de um paralelepípedo de pedra, dando-lhe um aspecto campaniforme ou
troncocónico. Essa forma adapta-se muito bem como suporte de cenas esculpidas,
em vez de motivos abstractos, como acontecia na antiguidade clássica.
Em geral, os capitéis são decorados com elementos botânicos e zoológicos
mas outros há que representam a figura humana e outras mitológicas, usadas
todas elas como elementos simbólicos da eterna luta entre o bem e o mal!
Estes capitéis não eram muitas vezes bem entendidos pelos fiéis
medievais analfabetos, pelo que a maior parte das vezes mais do que ensinar os
fiéis, impressionava-os, incutindo respeito e mesmo medo face aos perigos da
perdição da alma!
Normalmente as quatro faces dos capitéis eram usadas como painéis onde se esculpem pequenas histórias tiradas do Evangelho, contadas através de elementos simbólicos.
Normalmente as quatro faces dos capitéis eram usadas como painéis onde se esculpem pequenas histórias tiradas do Evangelho, contadas através de elementos simbólicos.
Segundo Xosé Lois Garcia in “
Simbologia do Românico em Amarante” Edições do Tâmega - 1997 “… Os elementos simbólicos do mosteiro de
Travanca estão sob a influência do românico da catedral de Santiago de
Compostela que foi o estilo vanguardista que imperou em toda esta área e que
influenciou desmesuradamente os pormenores de qualquer projecto posterior.
Compostela vê-se irradiada pelo românico clunicense. Sem este estaria eclipsada
a sua preponderância. É por isso que Travanca está sob influência dos elementos
arquitectónicos e simbólicos que configuram, plenamente esse universalismo…”
Referindo-se
ao Pórtico de Travanca o mesmo autor afirma que o que mais impressiona é a sua
unidade, não só em termos de proporção, mas também nos símbolos que os capitéis
oferecem de ambos os lados da entrada. Segundo a sua opinião os símbolos
daqueles oito capitéis podem ter três leituras possíveis:
“Passagem de um plano material para outro
espiritual”
“Transgressão da vida material para que se produza o impacto da vida
espiritual. Apologia da renúncia possível”
“Triunfo da vida espiritual sobre a material e submissão desta à
primeira”
Os
capitéis do Pórtico, segundo Xosé Lois estão dirigidos à alma e não só para
mostrar e exaltar os elementos botânicos e zoológicos. A arte dos capitéis é
essencialmente simbólica, como necessidade espiritual do homem medieval.
Segundo
o autor referido, o primeiro capitel apresenta dois leões de uma só cabeça, vitoriosa
e com o rabo saindo para cima e simboliza o triunfo de Cristo,” Leão da tribo de Judá”. Na boca comum dos
leões há uma folha que simboliza o fruto espiritual do mundo terreno, os
crentes; estes são elevados pelo leão triunfal(Cristo).Também representam a
visão de S. João no Apocalipse, 5:5, “Então, um dos anciãos disse-me: Não
chores! Eis que o leão da tribo de Judá, a vergôntea de David, saiu vencedor.
Por isso abrirá o Livro dos sete selos.”
No capitel seguinte apresenta-se um corpo com asas e rabo em forma de
serpe. Um ser híbrido que segundo o
autor é uma águia que simboliza a renovação espiritual pela troca de plumas na
Primavera. Enfim, uma chamada a não se renunciar à vida espiritual, coisa que
acontecia com os jovens e adolescentes da época.
No terceiro capitel, apresenta-nos em
toda a sua superfície um homem de dimensões robustas, musculoso e fisionomia de
personagem medieval, um Herói. Representa
a libertação individual à procura da imortalidade por meio do sacrifício pessoal e elevação espiritual. O HERÓI
de Travanca tem o rosto erguido olhando para o céu e as mãos sobre a folha de
palmeira, símbolo de justiça.
O quarto e último capitel do pórtico representam duas aves vigorosas
entrelaçadas por ambas as gargantas, símbolo de unidade amorosa. Pelo aspecto forte do bico, no qual está uma folha de cereal, as aves
devem ser águias.
A parte superior dos capitéis está decorada por um entrelaçado circular que no
centro forma uma cruz.
No
tocante a capitéis parece-me indispensável realçar a importância do arco
triunfal da Igreja de Gatão que ostenta dois belíssimos capitéis, abaixo
reproduzidos, sendo que o primeiro evoca o pão e o segundo representa uma rara
e curiosa figuração da videira e cachos.
Os
modilhões são, em linguagem simples, os suportes da cornija de uma igreja.
Também designados ”cachorros” e o seu conjunto como “cachorrada” quando
relacionados com o românico!
Há-os
de formato simples, sem qualquer ornamentação e aparecem também outros mais
elaborados, quer com figuras de tipo geométrico quer com figuras humanas ou
zoomórficas. As
igrejas românicas de Amarante apresentam toda essa diversidade e são de realçar
os da Igreja de Gatão (arcaturas lombardas) pela sua desproporção face ao
edifício, bem como pela beleza do conjunto.
Arcaturas lombardas - cornija, Gatão
Na Igreja de Gondar, os modilhões são todos do tipo geométrico.
Segundo
Xosé Lois, o modilhão com uma só bolinha representa o pão na primeira fase de
crescimento, as três bolinhas representam o mesmo pão em grão pronto para a
ceifa e as três bolinhas dispostas em forma triangular representam os grãos de
cacho. O Vinho está representado no modilhão ao qual corresponde uma cuba.
OUTROS ELEMENTO ESCULPIDOS
* Fecho de um arco da Galilé da Igreja de Gatão * Cruz do alto da frente – Igreja de Travanca
Esta cruz apresenta a particularidade de ser uma peça escultórica individualizada,
enquanto a generalidade da escultura românica em Amarante, é escultura feita em
relevo, que não se destaca da base em que foi esculpida!
António Aires
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