Pela sua originalidade e contemporaneidade,
algumas casas projetadas na primeira metade do séc. XX, tornaram-se objecto de
estudo e exemplo pela influência que exerceram e exercem na arquitetura até
hoje.
A arquitetura do século XX é
essencialmente marcada por critérios de racionalidade e de funcionalidade, respondendo
de uma forma mais pragmática e técnica aos problemas do seu tempo. Sob
influência da revolução industrial (das ideias, dos novos materiais e dos novos
métodos construtivos) a arquitectura voltou-se para a criação de espaços mais
amplos e funcionais (patentes nas plantas de organização livre), para uma
simplificação formal, tendo por base a depuração desta, e para a
desornamentação.
Para começar vou vos falar sobre a Casa
Schröder, que faz 90 anos, uma das cinco casas que escolhi para este tema.
Casa Schröder, de 1924, da autoria de Gerrit
Thomas Rietveld, em Utrecht (Holanda)
O projeto da habitação Schröder
idealizada pelo arquiteto holandês Rietveld (1888-1965), segundo
as ideias do movimento “De Stijl”, ou
Neoplasticismo, baseia-se na abstração das formas, linhas e planos ortogonais,
e na utilização das cores primárias (vermelho, azul e amarelo), do branco e do
preto, que evocam as composições das pinturas de Piet Mondrian.
Quadro do pintor Piet
Mondrian,
exemplificativo da paleta de cores e do traçado geométrico
que
influenciam o movimento “De Stijl”.
A Casa Schröder está localizada num
subúrbio de estilo neoclássico, na cidade de Utrecht, no centro da Holanda. O
projecto desenhado por Rietveld fica no remate de duas ruas e vem quebrar com a
linguagem conservadora da época (de paredes sólidas e robustas com telhados de
duas ou quatro águas), pelas suas proporções, formas e materiais, destacando-se
dos edifícios envolventes através da leveza e transparência, dadas pelo vidro,
betão e aço, e pela novidade da sua cobertura plana.
Vista exterior
O edifício apresenta-se como um cubo
desmaterializado, resultando não só do jogo “plástico”, quase escultórico que é
dado ao volume através da diferenciação dos planos das fachadas (criando
varandas e terraços), mas também pelos seus grandes planos envidraçados,
colocados em locais chave, como esquinas, desconstruindo assim a ideia de
“caixa”.
A planta da casa também constitui um
desenho revolucionário pela sua flexibilidade, onde a organização do espaço foi
pensado de uma forma mais livre e com múltiplas opções, dando origem à chamada
planta livre, “open space”. Esta
flexibilidade foi obtida com um sistema de painéis deslizantes que podiam girar
e adaptar-se conforme as necessidades de área, luz e privacidade.
Vista interior da sala -
quarto
Como complemento da linguagem neoplástica
da casa, Rietveld prevê tudo, ao ponto de estabelecer até ao pormenor, desde o
mobiliário fixo e móvel, até às cores com que distingue os espaços ou funções específicas,
num diálogo intimo com a arquitectura que os contem.
O edifício Schröder destaca-se como o mais
relevante exemplar da arquitectura Neoplasticista, sendo considerado Património
Mundial da UNESCO desde 2000 devido a ser "um ícone da arquitetura do
Movimento Moderno e uma expressão notável do génio criativo humano na sua
pureza de ideias desenvolvidas pelo movimento “De Stijl" e "cuja radical abordagem na concepção e uso do
espaço, ocupa uma posição central no desenvolvimento da arquitetura da era
moderna ".
Imagem da esquerda: Vista
axonométrica do r/chão; Imagem da direita: Vista axonométrica do 1.º andar, onde
são visíveis as paredes de correr que proporcionam a variação do espaço.
Teresa Beyer
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