Moçambique faz hoje 39 anos.
Muitos portugueses recordam com nostalgia os tempos que viveram neste território do sudoeste africano de clima tropical e húmido, a quem as monções do Índico incomodam como enxaquecas cíclicas.
Depois de 450 anos de uma mansa submissão ao colonizador português, os moçambicanos ganharam força, coragem e engenho para lutar por uma independência que demorou duas décadas a chegar e ainda assim à boleia da democracia em Portugal. No entanto, a manhã do dia 25 de junho de 1975 principiou mais bela do que nunca.
Daí para cá passaram quatro décadas, cheias de contratempos e algumas alegrias. À guerra contra o colonizador europeu sucedeu-se a guerra civil entre Frelimo e Renamo, que matou as ilusões de paz e desenvolvimento durante 15 anos.
Há vinte anos, finalmente, os moçambicanos puderam escolher, através de eleições, o seu presidente. O povo estava cansado de guerras entre irmãos que nunca tiveram sentido. Por isso, as armas calaram-se e os moçambicanos perceberam então que havia muito para construir. O país tinha apenas as condições mínimas para pessoas de segunda, que os portugueses haviam implementado para a sua mão-de-obra barata. Como não havia petróleo, nem estradas nem segurança, os amigos de Peniche tinham desaparecido.
Os moçambicanos olhavam em volta e só viam parceiros ainda mais pobres. Zimbabwe, Tanzânia e Zâmbia não podiam ajudar muito. Foram os sul-africanos de Mandela e Graça Machel que lhes estenderam a mão. Em poucos anos o anémico PIB cresceu exponencialmente, mas o país de Malangatana não deixou de ser dos mais pobres do planeta.
Os moçambicanos olhavam em volta e só viam parceiros ainda mais pobres. Zimbabwe, Tanzânia e Zâmbia não podiam ajudar muito. Foram os sul-africanos de Mandela e Graça Machel que lhes estenderam a mão. Em poucos anos o anémico PIB cresceu exponencialmente, mas o país de Malangatana não deixou de ser dos mais pobres do planeta.
Contudo, isso não desanimou os irmãos africanos que pacientemente continuam a percorrer o seu caminho, fazendo as suas opções, recolhendo as parcas ajudas de quem enche a boca com solidariedade mas estende uma mão quase vazia. Fazem parte da União Africana, da Commonwealth e da CPLP. Nunca negaram a matriz portuguesa, apesar do desprezo e esquecimento a que foram votados por Portugal nos momentos de maior dificuldade. Por isso, o português é a sua língua oficial, apesar da pressão sul-africana e de só metade da população (a letrada) falar a língua de Camões, Fernando Pessoa e Eça de Queirós.
A sua gente é simples, acolhedora e amiga. Há no seu olhar um encanto sereno que completa a beleza das paisagens da Beira e enche de saudades quase todos aqueles que viveram neste território antes de 1975 e tinham passaporte português.
Moçambique continua de braços abertos. Há dez dedos que querem envolver aqueles que têm saudades e um coração que se quer dar a quem quiser descobrir um território e um povo que não passa a vida a lamentar-se, a pedir ou a negociar interesseiramente.
São um povo belo e afável que precisa de médicos e professores que façam baixar o assustador número de 1,7 milhões de portadores da SIDA e devolvam às escolas o milhão de crianças, cujas famílias têm de abdicar da sua educação mais elementar porque precisam delas para subsistir.
Não têm petróleo a jorrar dos poços nem diamantes a sair brutamente das minas. Têm, como disse hoje o presidente Armando Nebruza, muita pobreza para combater, uma unidade para reforçar e uma paz para solidificar. Precisam de professores e de médicos, mas também de enfermeiros, de engenheiros, de construtores…
A terra de Mia Couto, Craveirinha e Eusébio faz hoje anos. A minha boca, o meu coração, a minha alma felicitam cada um dos seus filhos.
Gabriel Vilas Boas
* Entretanto esta música tipicamente moçambicana - a Marrabenta - que vai valer a pena
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